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Mostrando postagens de janeiro, 2022

A DISTOPIA BRASILEIRA E A VERGONHOSA CLASSE MÉDIA FELIZ

DESLIZAMENTO DE UM MORRO EM FRANCISCO MORATO (SP), OCORRIDO ONTEM E QUE DEIXOU QUATRO MORTOS. "Favela feliz", "pobreza linda", "autossuficiência das periferias"... Quem não lê Esses Intelectuais Pertinentes... , movido pelo negacionismo cultural que insiste em dizer que "está tudo bem", não conhece a realidade. A onda de positividade tóxica que contamina a classe média "formadora de opinião" é tão vergonhosa que chega a haver casais de namorados cantando, alegres, versos como "Solidão apavora (...) / Solidão é senhora" da música "Desde Que o Samba é Samba", de Caetano Veloso. E isso para não dizer a respeito de um fato que ocorreu há 50 anos, o Domingo Sangrento de 30 de janeiro de 1972. Um protesto pacífico de católicos em Derry, na Irlanda do Norte protestante, terminou com um massacre policial que matou 14 manifestantes da outra religião. A canção, sabe-se, inspirou a letra da dramática canção do U2, "Sunday

TV LINHAÇA - LULA SE CONTRADIZ QUANTO AO QUE QUER DE SEU VICE-PRESIDENTE

Lula é uma das figuras mais contraditórias da corrida presidencial, e isso se torna claro quando o presidenciável estabelece uma relação entre as alianças políticas que realiza e a integridade ou não de seu projeto político. Daí o caso de seus critérios para a escolha do vice-presidente.

A "POLÊMICA" POLITICAMENTE CORRETA DE "COM AÇÚCAR E COM AFETO"

Esta semana houve uma polêmica a respeito da repercussão negativa da música "Com Açúcar e Com Afeto", de Chico Buarque de Hollanda, um antigo clássico da MPB de 1966, e que no ano seguinte foi interpretada pela saudosa cantora Nara Leão (1942-1989). A letra da música supostamente fala de uma mulher que consente com a vida abusiva e irresponsável de seu marido. A canção teria sido feita a pedido da própria Nara, que queria uma letra sobre uma "mulher sofredora". Chico Buarque declarou, no documentário O Canto Livre de Nara Leão , de Renato Terra, que a música já não estava mais no repertório do cantor e que ele não vai mais cantar a música. A notícia foi dada pelo portal Metrópoles, de Brasília. Ele conversou com feministas e acabou sendo convencido por elas a descartar a canção, considerada "uma apologia ao machismo". Eu li a letra e não notei apologia alguma ao machismo. Poderia ser uma ironia, uma crítica, e a própria figura do machista não parece ser d

ALIANÇA LULA-ALCKMIN: CADÊ A PALAVRA DO GERALDO?

A aliança entre Lula e Geraldo Alckmin é um dos fenômenos mais estranhos e bizarros da política brasileira, e tornam o petista a figura mais decepcionante da história recente do Brasil. Diante de tantos aspectos aberrantes - sobretudo a crença ingênua das esquerdas médias de que Lula fará um governo "mais esquerdista que os anteriores" mesmo tendo a direita neoliberal a tiracolo - , um outro aspecto chama a atenção. Geraldo Alckmin, um dos mais interessados no processo e o principal envolvido nos acordos, não dá uma palavra consistente, uma longa entrevista a respeito. Quando entrevistado, ele se limita a dizer que "a aliança está dando bom resultado", "está feliz em ser vice de Lula" e "quer participar da chapa de Lula de qualquer maneira". No entanto, não se vê Geraldo Alckmin dando seus posicionamentos, sobretudo quando se exige dele, pelo menos, uma autocrítica a respeito de sua recente performance como governador de São Paulo. Ele até tem o

NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE UM PROGRAMA DE ESQUERDA SOB ALIANÇA LULA-ALCKMIN

Sonhador, o cientista político Mathias Alencastro, em entrevista ao programa Giro das 11, do Brasil 247, acredita no "paradoxo" de Lula estabelecer uma aliança com a chamada direita civilizada e mesmo assim manter um programa de governo de esquerda. Disse o analista: "Fiquei surpreso quando em plenas férias de janeiro, o PT colocou na mesa dois temas estruturantes e difíceis: o teto de gastos e a reforma trabalhista. Foi um movimento perfeito, porque o PT sinalizou para a esquerda que a política de alianças será feita com base num programa de esquerda para o governo". Corroborando com o cientista político, Mauro Lopes, apresentador do Giro das 11, escreveu em sua coluna no mesmo portal: "Isso é inovador e, de fato, surpreendente. Uma política de alianças ampla, com setores do centro, centro-direita e até direita tradicional que terá como pano de fundo um programa de governo que deve ser o mais à esquerda das quatro eleições que levaram Lula e Dilma ao Planalto&

COMO SERÁ O BOLSONARISMO SEM OLAVO DE CARVALHO?

Na noite de anteontem faleceu o "fisólofo" Olavo de Carvalho, com 75 anos incompletos.  O termo "fisólofo", vale lembrar, não é erro de grafia, mas uma ironia com o termo "filósofo", afinal ele não tinha o compromisso  com a verdade que deve ter um "amigo da verdade", o significado da referida palavra. É o segundo tabagista inveterado metido a "saudável" a morrer nos últimos três anos. O primeiro foi o empresário Doca Street, famoso por um feminicídio covarde às vésperas do Reveillon de 1976-1977. Para quem não sabe, o assassino de Ângela Diniz teve um histórico pesadíssimo de tabagismo intenso (costume reduzido, mas mantido na velhice), cocaína e álcool. Para quem quiser saber do currículo doentio de Doca Street, aconselha-se pesquisar as edições de Manchete de janeiro de 1977. Mas nos últimos tempos o magnata vendia a falsa imagem de um "velho saudável", escondendo um câncer contra o qual batalhava há, pelo menos, três décad

LULA SE TRANSFORMOU EM PELEGO?

LULA PRECISA OUVIR A VOZ DA CONSCIÊNCIA: O LULA DO PASSADO SINDICAL. Com Lula se assanhando na "frente ampla demais", se aliando com tudo que for tucano e emedebista, saudoso por um 1985 perigosamente heterogêneo, a gente fica perguntando o seguinte. Lula virou pelego? Pelego é um termo do jargão trabalhista que se inspira no nome de uma pele usada para tornar o assento do cavaleiro mais confortável. A expressão então foi usada para denominar os trabalhadores que colaboram com o atendimento dos interesses dos patrões. Geralmente se usa quando um líder sindical acaba defendendo a causa dos empresários, em detrimento dos colegas trabalhadores. É certo que o Brasil precisa de reconstrução, depois da devastação do golpe político de 2016 e dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Mas Lula erra feio ao articular alianças justamente com os mentores do golpe de 2016. Os atuais culpados oficiais do golpismo de seis anos atrás, como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Janaína Paschoal

LULA PARECE PERSONAGEM DE COMÉDIA ESTUDANTIL

LULA E A REPÚBLICA, NO MAIOR FLERTE. Neste Brasil real que mais parece um misto de Parasita  com Apocalipse Now , Lula todavia mais parece um personagem de comédia estudantil. Ele se ascendeu de maneira meteórica sem que o contexto atual permitisse isso. Para quem não sabe, o golpe político de 2016 continua e seus protagonistas não querem largar o osso. E não estamos falando de bolsonaristas, de Sérgio Moro, Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Eduardo Cunha, Deltan Dallagnol etc. Estamos falando da "nata democrática" dos "caciques" do MDB e PSDB que fizeram o golpe mas que Lula, de repente, se encanou em tê-los como aliados. Lembra o enredo de Namorada de Aluguel (Can't Buy Me Love) , comédia protagonizada por Patrick Dempsey, que faz o nerd Ronald Miller que, pagando uma garota muito popular para ser sua namorada, desejava fazer sucesso na escola. Lula quer fazer sucesso entre os golpistas e esnoba os conselheiros do próprio PT, como os ex-presidentes do partido,

TV LINHAÇA - A ELITE DO ATRASO PASSOU A APOIAR LULA?

Engajada no golpe político contra Dilma Rousseff, através de protestos de 2015-2016, a elite do atraso que ajudou a eleger Jair Bolsonaro passou a, da noite para o dia, apoiar Lula. Por que isso aconteceu? Vídeo busca explicar os principais motivos dessa mudança.

LULA ESTÁ COM "TESÃO" PARA GOVERNAR AO LADO DE GOLPISTAS?

Depois de fazer promessas idealistas demais para o contexto do Brasil de hoje em sua entrevista com a mídia independente, Lula segue com seu plano de querer voar demais se aliando com quem irá lhe cortar as asas. Sob a desculpa de "combater o bolsonarismo" e "garantir a democracia", Lula busca uma aproximação para o que chama de "PSDB da Constituinte". Desta vez, Lula se encontrou com Aloysio Nunes, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, no escritório do advogado do petista, Cristiano Zanin, em São Paulo. Mais uma vez, aquele papo de "diálogo", "entendimento", "democracia", "convívio e superação das diferenças", etc etc etc. Assim como Geraldo Alckmin saiu entusiasmado com a entrevista de Lula e a receptividade das esquerdas médias, Aloysio Nunes, que era uma espécie de tucano mais agressivo e um dos defensores do golpe político de 2016, também manifestou sua empolgação: "É um movimento muito p

BRINQUEDOS CULTURAIS: A NOVELA DAS NOVE DO "BRASIL REAL"

GERALDO ALCKMIN, NO PAPEL DO "BOM EMPRESÁRIO" DE ANTÔNIO FAGUNDES NO NOVELÃO DAS NOVE. As esquerdas brasileiras andam muito midiáticas. Desde quando eram crianças ou jovens durante a ditadura militar, seu mundo era o da televisão. Nos anos 1990, era a pequena burguesia que adorava ler a Folha de São Paulo, que tratava o Brasil como um quintal do seu dono, Otávio Frias Filho, um dos patronos das causas identitárias da forma como existem no nosso país. Temos também os mileniais, para os quais a liberdade parece fluir com o ar puro, mas se esquecem que a liberdade que exercem é apenas uma franquia controlada por Otávio (in memoriam), Sílvio Santos, Marcelo de Carvalho e Amilcar Dallevo, Tutinha, Edir Macedo e os irmãos Marinho. E nesse contexto as esquerdas brasileiras se apegam nos brinquedos culturais da direita gurmê. Dentro de um ritual litúrgico de consumir a Rede Globo no horário nobre. Primeiro consomem o Jornal Nacional e ficam horrorizados com a pauta centro-direitista

ELZA SOARES SE DESPEDE DE NÓS DIANTE DE UM CENÁRIO CULTURAL FRAGILIZADO

ELZA SOARES EM 1960 E EM 2021. Elza Soares nos deixou, depois de dar tudo de si para deixar um legado contemporâneo, mostrando sua lucidez até quando suas energias físicas e mentais lhe permitiam. Uma das cantoras mais talentosas do Brasil, além de eventual compositora, Elza, um dos personagens do meu livro 1961 - O ANO QUE HAVÍAMOS ESQUECIDO  era também um exemplo de antropofagia cultural. Sem qualquer medo, Elza começou a carreira assimilando o jazz e a soul music  no seu cardápio musical, que incluiu samba e os derivados híbridos da Bossa Nova e do sambalanço. Assimilava o som negro dos EUA sem deixar de ser brasileira e até reforçando e enriquecendo sua brasilidade. Elza teve uma vida sofrida. Para ela, favela não era coisa linda, e ela penou muito, com casamento precoce que depois deu em viuvez, e começando sua carreira com sete filhos para sustentar. Ela veio do "planeta fome", num tempo em que favela era considerado, pelos mais renomados intelectuais e jornalistas do B