Pular para o conteúdo principal

MACHISMO, NOITADAS E VIOLÊNCIA


Uma notícia trágica expõe questões relacionadas à forma com que a mídia estimula o assédio em noitadas e os impulsos sexuais machistas.

Duas belas moças, as jovens Maria José Coni e Marina Menegazzo, respectivamente de 22 e 21 anos, desaparecidas desde o último 22 de fevereiro, foram encontradas mortas num balneário em Montañita, no Equador.

As duas estavam fazendo uma excursão, haviam ido para Machu Picchu, no Peru, e estavam hospedadas em um hotel na cidade equatoriana, famosa por sua praia. Planejavam voltar ao Peru, depois da estadia.

De repente, foram a um bar e foram assediadas por dois homens, identificados como Alberto Segundo Mina Ponce, de 33 anos, e Aurélio Eduardo Rodriguez, de 39 anos, que se embriagaram e convidaram as duas meninas a passar a noite na casa deles.

No entanto, as duas teriam sofrido tentativa de estupro e elas se recusaram. Furiosos, os dois reagiram, um golpeando Maria José na cabeça e outro esfaqueando Marina. Os dois foram levar os corpos num saco de lixo e deixá-lo em algum canto da praia.

Dias depois, os dois foram presos e alegaram que teriam acolhido as moças em casa porque elas haviam sido assaltadas e foram procurá-los para passar a noite no local. A desculpa não procedeu, porque as duas não apresentavam indícios de terem sido assaltadas e fizeram uma viagem previamente planejada.

MORALISMO MACHISTA

A sociedade reagiu acusando as meninas de terem culpa por viajarem sozinhas. O moralismo machista então veio à tona, reforçando essa acusação, algo que não haveria se as vítimas tivessem sido dois rapazes da mesma idade.

Reagindo a esse moralismo machista, a paraguaia Guadalupe Acosta escreveu um texto no qual representa a dor das mulheres mortas pela violência: "Ontem me mataram", que fala do tratamento desigual que as vítimas recebem, tidas como "meras culpadas". Um trecho inicial, da mensagem cuja íntegra está aqui:

Ontem me mataram

Neguei-me a deixar que me tocassem e com um pau arrebentaram meu crânio. Me deram uma facada e me deixaram morrer sangrando.

Como lixo, me colocaram em um saco plástico preto, enrolada com fita adesiva, e fui jogada em uma praia, onde horas mais tarde me encontraram.

Mas, pior do que a morte, foi a humilhação que veio depois.

A partir do momento que viram meu corpo inerte, ninguém se perguntou onde estava o filho da puta que acabou com meus sonhos, minhas esperanças, minha vida.

Não, preferiram começar a me fazer perguntas inúteis. A mim, podem imaginar? Uma morta, que não pode falar, que não pode se defender.

É chocante ver que duas meninas adoráveis foram acusadas de "covardes" por viajarem sozinhas. Elas eram legalmente autorizadas a viajar, tinham direito a isso, o problema é que faltou a segurança necessária para preveni-as de qualquer perigo.

BARES E BOATES NÃO SÃO AMBIENTES FRATERNOS

O problema que o episódio traz corresponde ao abuso do assédio masculino, e que traz também outras questões que não são muito discutidas, como o fato de que bares e boates não são ambientes fraternos.

É um horror o que a grande mídia faz com a chamada "vida noturna", transformando a vida amorosa num consumismo de emoções baratas, restringindo os ambientes de paqueras a bares e boates, como se eles fossem redutos de gente amiga, solidária e confiável.

Os registros policiais, no Brasil e no exterior, mostram que boa parte dos homicídios contra mulheres por motivos sexuais ou conjugais é cometido por homens que elas conheceram em bares e boates, pessoas que parecem "legais" e "simpáticas" no momento da noitada, mas na menor desavença reagem com a mais cega fúria contra elas.

É esse lado sombrio, infelizmente inerente ao que o jargão lucianohuckiano, popularizado pela mídia (Rede Globo e Jovem Pan) define como "balada", que os barões da mídia, associados aos empresários de casas noturnas, escondem. As paqueras são apenas a propaganda enganosa de um consumo de bebidas e festas noturnas que garante os lucros exorbitantes dos "empresários da noite".

Enquanto reportagens maravilhosas sobre paqueras em rodadas de cerveja e festas dançantes são difundidas por nossos noticiários, mostrando a "doce vida" de encontrar um amor nos bares e boates da moda (ou alguns emergentes que vão na carona), a realidade mostra ambientes muito, muito traiçoeiros.

Ninguém luta por um "chega de fiu-fiu" em bares e boates. As mulheres que rejeitam o assédio masculino nas ruas deveriam ter cautela também com a vida noturna. Elas são culpadas? Não. Mas existe a péssima educação midiática, que diz que só tem "gente legal" nas noitadas.

IMPULSOS SEXUAIS

A grande mídia, solidária às cambaleantes mas resistentes "tradições" machistas do Brasil, também permite que homens tenham impulsos sexuais desenfreados, vide o "exército de musas" que são despejados em quantidades industriais com seus corpos siliconados.

São mulheres que não fazem outra coisa senão mostrar o corpo. Até quando "filosofam" no Instagram - "filosofar" é o eufemismo para botar uma frase qualquer, geralmente narcisista, falsamente poética e às vezes com um apelo de auto-ajuda - ficam mostrando seus "dotes físicos".

Há uma centena delas nas mídias sociais e na chamada mídia "popular" (a que trata o povo pobre como se fosse uma caricatura, e é respaldada por intelectuais "bacanas") "sensualizando demais", "mostrando demais", só exibindo o corpo, sem medir a situação necessária, o momento certo, a dose certa. Exageram e não têm o menor escrúpulo em se venderem como meros objetos sexuais.

Essas "musas" - algumas mulheres-frutas, outras ex-Banheira do Gugu, outras ex-BBB, outras "musas do Brasileirão", algumas "musas do UFC" - acabam por estimular a libido do público masculino, geralmente com baixo nível de escolaridade ou de notável educação machista na infância.

Nos países latino-americanos, nota-se que esse "circo de popozões" estimula as taras masculinas. Vai uma siliconada no Instagram, faz uma foto apelativa e manda uma frase do tipo "me deseje, gosto de ser gostosa", e o tarado de plantão fica afoito.

No Brasil, pelo menos, há, infelizmente, esse mercado, e a intelectualidade "bacana", inclusive certas mulheres, definem isso como "feminismo popular", umas por boa-fé, outras por má-fé mesmo. Acham que essas "musas" têm "direito ao corpo" e creem que elas podem exibir quando, onde e para quem quiserem. Mal sabem o vespeiro em que mexem.

Afinal, os homens se tornam afoitos porque veem aquela senhora que fez parte da Banheira do Gugu "mostrando demais" nas mídias sociais, na sua enésima foto de biquíni. Ficam loucos quando veem a mulher-fruta botando mais litros de silicone e posando de topless na Internet.

O pior é que esses homens não veem diferença entre a siliconada que se oferece no Instagram e as universitárias que passeiam por aí. A tara que é estimulada pela mídia "popular", com tabloides incitando a falta de imaginário masculino (não há imaginário, as "boazudas" oferecem a "fantasia" toda pronta nas fotos, como um prato-feito), cria machos vorazes.

Aí a intelectualidade "bacana", feliz nos seus condomínios depois de escrever para o Farofafá fingir apoio a Lula e Dilma, se esquece que os brutamontes que se alimentam por esse mercado "popular" da sensualidade compulsiva não são dotados de discernimento nem de pudor ou controle.

Para eles, toda mulher é objeto sexual, é oferecida, está disponível. As mulheres do espetáculo machista fazem sua parte, mas também elas são empresariadas por machistas. Só que, para os olhos de machistas famintos, não existe diferença entre a mulher-fruta que "mostra demais" na Internet e a pobre coitada que estuda à noite na USP em suas idas e voltas solitárias no campus.

CULPA DA MÍDIA MERCENÁRIA

E é isso que, no contexto do Equador, fez dois tarados bebuns assediarem duas meninas inocentes, que apenas faziam turismo e escolheram um bar para fazer, provavelmente, um jantar ou lanche, tentarem estuprá-las e se vingarem da recusa as matando.

São aspectos muito sombrios que uma sociedade machista não consegue perceber, e acha que criminalizar a propaganda enganosa das noitadas e o erotismo exagerado das "boazudas" nada tem a ver. Mas tem.

Isso porque há interesses comerciais em jogo. A mídia mercenária, sobretudo a dita "popular" - a que difunde o brega-popularesco musical, comportamental e tudo o mais - , tem uma boa parcela de culpa nisso, deixando que pobres indefesas sejam mortas por estupradores, cônjuges traiçoeiros, assaltantes e outras figuras que agem durante o dia, mas são mais sinistras na calada da noite.

Para o mercado midiático, associado à fome feroz pelo lucro de empresários da "noite" e de "humildes produtores culturais" que descobrem e empresariam "musas" siliconadas, todos os gatos são pardos. Tudo é legal quando está na propaganda enganosa do entretenimento midiático, cheio de muita ilusão.

Na realidade, porém, a suposta liberdade das noitadas e do sensualismo compulsivo das "musas populares" impulsiona, até pela noção de permissividade, uma parcela de machistas estúpidos e sem discernimento a agir como agiram os dois brutamontes que mataram duas adoráveis argentinas, meninas que os homens de bem adorariam namorar. Homens também sofrem com o feminicídio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...