Pular para o conteúdo principal

DIA DA MPB SEM CLIMA DE FESTA

A MPB NÃO É SÓ MARIA BETHÂNIA E CHICO BUARQUE. MAS FALTA RENOVAÇÃO E PRESENÇA DA MPB NO GOSTO DO GRANDE PÚBLICO.

Hoje é o Dia da MPB e o clima não é de festa nem de comemoração, mas de reflexão.

Está em andamento um processo de desmonte da MPB para dar lugar ao mais escancarado e explícito hit-parade à brasileira, que praticamente toma o gosto musical dos jovens de classe média no Brasil.

O brega-popularesco iniciou sua escalada alpinista a partir dos primeiros ídolos cafonas patrocinados por emissoras de rádio ligadas a latifundiários no interior do país.

Depois veio o apoio do coronelismo midiático paulistano e da mídia associada ao apoio explícito à ditadura militar.

E aí, durante o AI-5, os ídolos cafonas tiveram ascensão vertiginosa. Não era coincidência nem reação, porque as rádios que difundiam os sucessos bregas apoiavam com gosto o regime militar.

Até serviços de auto-falante no interior do país eram feitos por pequenos empresários associados, de alguma forma, ainda que indireta, ao poder coronelista local, que financiava tais equipamentos.

Os primórdios do brega já mostravam sua qualidade inferior ao da música popular genuína que o rádio tocava até pouco tempo atrás.

Seresteiros caricatos com sentimentalismo piegas e exagerado, de vozes bem menos tratadas e canções muito mais chorosas, com sutil apologia ao alcoolismo.

Depois vieram arremedos de cantores de Jovem Guarda, que apresentaram aos brasileiros o modus operandi dos ídolos comportadinhos da linha de Pat Boone, Ricky Nelson etc.

No começo, os primeiros ídolos cafonas faziam um som claramente estrangeirizado.

Traduziam na música brasileira o projeto econômico de Roberto Campos.

MATÉRIA PRIMA OBSOLETA: na música, o brega assimilava os modismos já ultrapassados.

Seresteiros retardatários fazendo sucesso já no auge da Bossa Nova, jovem-guardistas de terceira divisão fazendo uma Jovem Guarda que a turma original já nem fazia mais e, no exterior, até a Contracultura já chegava ao fim.

DESENVOLVIMENTO SUBORDINADO: na música, o brega promovia o sucesso comercial na música brasileira submetido às fórmulas do hit-parade norte-americano.

CORTE DE RECURSOS: na música, o brega representa menos investimento, dando preferência da cantores e músicos de categorias inferiores, mais baratos e mais maleáveis às regras do mercado.

PRECARIZAÇÃO: a qualidade musical cai, embora as canções pareçam mais "palatáveis" para o público médio. Mas é como junk food que desce direto e agrada o paladar.

Além disso, no brega os ídolos não possuem uma postura política ameaçadora, por mais que alguns pareçam supostamente politizados, como os funqueiros.

Com o tempo, o brega, claramente americanizado, criou arremedos de brasilidade bastante toscos.

Caricaturas de samba, baião, moda de viola, afoxé, carimbó, lundu e gafieira que não deixam de ter também seu teor americanizado, feito para turista ver.

E veio a "MPB de mentirinha" da geração "pagodeira" e "sertaneja" e seus "gigantes" e "amigos" confundindo "verdadeira MPB" com pompa e trajes de gala.

E o mercado cresceu e inchou tanto que a MPB própria e merecidamente dita, que ainda era dominante nos anos 1970, está quase se minguando, de tão enfraquecida.

Os intelectuais de esquerda cooptados pela intelectualidade "bacana" surgida dos porões do PSDB não ajudam.

Um dos grandes talentos emepebistas, Vander Lee, faleceu sob o silêncio da intelectualidade mais preocupada em "bolivarizar" um clima de pequena "saia justa" entre William Waack e Anitta.

Parecia que era a "Anitta Garibaldi" guerreando com os soldados do baronato midiático.

Mas a "sestrosa" e inócua cantora, na verdade, foi alvo de uma piadinha maliciosa, porém sem conflitos ideológicos sérios.

A intelectualidade "bacana" acabou caindo no ridículo ao "guevarizar" até a dança da boquinha da garrafa.

E isso numa aparentemente sofisticada roupagem de documentários, monografias e grandes reportagens.

Com um aparato discursivo com narrativa inspirada na História das Mentalidades de Marc Bloch e no Novo Jornalismo de Tom Wolfe.

Tudo para evitar que a MPB recupere seu prestígio ao grande público.

Querem que a MPB morra pelo cansaço, se desgaste aos poucos.

Quase não há um grande novo talento de MPB autêntica se destacando entre o grande público.

A maioria dos "novos emepebistas" faz sub-Rock Nacional e Jovem Guarda de quinta com acento pós-tropicalista frouxo.

Tão inócuos que eles mesmos aceitam fazer dueto com ídolos brega-popularescos em troca de um lugar nas atrações de festivais no interior do país.

A maioria dos bons emepebistas já passou dos 35 anos de idade. Gente com idade para ter filhos entrando na adolescência, no mínimo.

Isso fora os grandes nomes, que já estão idosos.

E, além disso, a maioria do que se produz hoje de MPB autêntica é de tributos musicais.

O lançamento de novas canções não chega à metade do repertório produzido em um ano.

Para cada um disco de inéditas, outros nove revisitando velhas músicas.

A MPB, em si, não está cansada e velha.

O mercado é que faz a MPB ficar assim, com a pressão avassaladora da breguice e da canastrice dos sucessos "populares".

Daí o desmonte da MPB que o mercado e a intelectualidade defendem, em detrimento de nosso rico patrimônio cultural.

O Plano Temer é brega, o brega é o Plano Temer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...

JUVENTUDE DESCOLADA MOSTRA UM BRASIL DECADENTE SOB HEDONISMO TÓXICO

FARIA LIMA EM FESTA - JUVENTUDE WOKE  INDO "PRA BALADA" COM A BURGUESIA ILUSTRADA. Enquanto no exterior vemos atores e atrizes ligadas ao universo juvenil ouvindo rock clássico e música folk  e buscando hábito de leitura em livros, no Brasil o hedonismo tóxico é que impera e a juventude woke  parece atuar como um bando de marionetes do empresariado da Faria Lima. Nas conversas que eu ouço, o hedonismo viciado impera. Num dia, é o fanatismo pelo futebol. Noutro, é a adoração a ritmos popularescos, como piseiro, "pagode romântico", "funk" e sofrência. Em seguida, é uma tal de "ir pra balada", "balada LGBT", "balada isso, balada aquilo", usando e abusando desse jargão farialimer . Mais adiante, é falar sobre marcas de cerveja. Noutra, é exaltar aquele intervalo para fumar um cigarro. É esse o Brasil que está pronto para se tornar país desenvolvido? Que geração é essa que vai liderar o futuro da nação? Gente aderindo a um hedonism...