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GÍRIA "BALADA" FOI TESTE PARA CAMPANHA DE JAIR BOLSONARO

TUTINHA, O VERDADEIRO REI DA "BALADA".

Como havia escrito, tive um incidente no Orkut por ter criticado a gíria "balada", por reacionários que eram membros da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo".

Esses caras anteciparam, em uma década, a ação furiosa dos bolsomínions de hoje. Fizeram valentonismo digital (cyberbullying) e tive que desfazer de minha conta.

Eu já notava um caráter agressivo, autoritário, debiloide e intransigente.

Entendo como essas pessoas, tão reacionárias, tinham que se apoiar numa gíria idiota - que tentou subverter as naturais condições de efemeridade e grupo de uma verdadeira gíria, se impondo "acima dos tempos e das tribos" - pois tinham que usar o aparato "moderno" de um colóquio.

A gíria "balada" virou um símbolo da mídia venal no seu processo de influenciar os jovens.

A gíria não tem pé nem cabeça. Subverte o sentido de outra "balada", aquela palavra que significa música lenta ou história triste.

A gíria "balada", ligada a festas noturnas, na verdade surgiu como um eufemismo para "rodada de ecstasy".

Era uma gíria privativa de jovens riquinhos da vida noturna de São Paulo.

Era, portanto, um jargão quase privado de DJs e empresários de casas noturnas, compartilhado por seguidores desses lugares.

De repente, a gíria foi encampada pela Jovem Pan, do empresário Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha.

Isso quando a Jovem Pan FM era o paradigma de "rádios jovens" no Brasil, tanto que seu modus operandi foi introduzido até em "rádios rock" como Rádio Cidade e 89 FM, esta última cada vez mais escancarada como uma "Jovem Pan com guitarras".

Como o apresentador Luciano Huck, antes um colunista social para jovens ricos (apresentava o Circulando, da CNT), estava na Jovem Pan, fazendo o Torpedo, e estava de transferência da Band para a Globo, resolveu fazer o lobby na rede da família Marinho.

Dessa forma, a gíria "balada" virou um monstro vocabular, porque não era mais uma gíria que expressava um grupo e uma época específicos.

Virou a peça principal de uma NOVILÍNGUA que seria usada para conduzir os jovens para ideologias mais conservadoras.

A NOVILÍNGUA vem do livro 1984, de George Orwell, quando a ditadura de Oceânia, país fictício sem relação com a Oceania, estabeleceu um vocabulário simplista e reduzido.

A ideia é diminuir o número de palavras para tornar a linguagem mais superficial e, portanto, culturalmente mais pobre e fraca.

Na "novilíngua" brasileira, "balada" fez esse papel.

Eliminou o significado original de "música lenta", se associando a cenários onde há música acelerada.

Teve a "façanha" de, sendo gíria relacionada a um alucinógeno, ganhar a adesão "universal" de um público mais heterogêneo possível.

Vi um anúncio de festival punk no qual o ingênuo texto de divulgação citava o termo.

Em ato falho, o ginecologista Malcolm Montgomery, no seu livro ...E Nossos Filhos Cantam as Mesmas Canções, dedicado aos Beatles, cita a gíria "balada".

Não se cita gíria "balada" num livro sobre Beatles. A gíria faria melhor sentido num livro sobre os Backstreet Boys, Britney Spears ou Black Eyed Peas.

Isso revelava a influência que a "novilíngua" exerceu não só nos jovens, mas em todos os brasileiros. Havia pai de família caindo na pegadinha: "Aí, minha filha estava na balada e...".

A gíria "balada", popularizada por Luciano Huck, ultrapassou os limites da Globo porque as emissoras concorrentes - cujos programas de variedades se alimentam de notícias sobre estrelas da emissora dos Marinho - também difundiram a expressão.

Tendo surgido como eufemismo para ecstasy, a gíria "balada" tem o mesmo estado de espírito das mensagens escandalosas das camisetas da grife Reserva, como "Vem ni mim que tô facim".

Popularizada pela pressão da mídia venal, a gíria "balada" passou a virar qualquer coisa que fosse lazer noturno, de turnê de DJs a jantar entre amigos.

Isso eliminou a diversidade vocabular dessas situações, como foi a gíria "galera", popularizada por Fausto Silva e também difundida nessa NOVILÍNGUA brasileira.

A gíria "galera" quase jogou para escanteio significantes como "família", "equipe" e "turma" e complicou a linguagem.

Em vez de dizer "equipe", por exemplo, temos que alongar a expressão, dizendo "galera do trabalho" ou "galera lá de casa". Complicado para um público que escreve em internetês e pensa pequeno.

"Balada" também tem esse sentido, estragando com o "jantar entre amigos", com as "festas" e com as "turnês de DJs".

O modo como foi difundida a gíria "balada" lembra muito o que se fez com a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, uma figura retrógrada que, de repente, virou um grande ídolo juvenil.

Defensor da ditadura e da tortura, Jair - que parece sinalizar para ser um genérico de Michel Temer - e seus filhos eram cultuados como se eles viessem de alguma publicação vintage tipo "anos 80".

Desse estranho saudosismo em que o que pouco importa é a década de 80 em si, mas em fenômenos de massa juvenis (alguns mais antigos, outros mais novos, que a década oitentista), que incluem desde jogos eletrônicos até heróis em quadrinhos e seriados de TV.

E aí, deu-se no que vimos: bombardeio de fake news e idiotização do debate político, como se isso fosse um humorístico de TV.

E ver que nossos jovens são, no fundo, tão conservadores é assustador. E uma gíria como "balada" não os faz mais modernos, só disfarça seu reacionarismo doentio.

Em toda "balada", a "galera irada" elegeu seu "mito".

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