Pular para o conteúdo principal

SENSUALISMO NÃO É MEDIDA PARA VALORIZAR A AUTOESTIMA HUMANA

MULHERES OBESAS, A PRETEXTO DE SUPOSTA VALORIZAÇÃO DA AUTOESTIMA, SE TORNARAM ESCRAVAS DE UMA SEXUALIZAÇÃO OBSESSIVA.

Há um inconsciente bolsomínion mesmo em setores das esquerdas brasileiras.

Sobretudo na "ditabranda do mau gosto", quando criticamos fenômenos marcados pela expressão do grotesco, que nada trazem em termos de dignidade para as classes populares ou para as chamadas "minorias sociais".

Quando fazemos alguma crítica, somos chamados de "higienistas", "elitistas", "patrulha estética", "ditadores de padrões" e por aí vai.

O grande problema é que o sensualismo e o hipotético prazer - mais uma preguiça e uma zona de conforto do que uma necessidade de ser respeitada pela sociedade - , entre outros condicionamentos sociais, tornam-se medidas para, em tese, valorizar a autoestima humana.

Creio que não há ditadura pela boa forma, pela jovialidade, pelos bons valores culturais.

O que há é o inverso, uma suposta "liberdade" que não se sabe se agrada ou desagrada a própria pessoa, mas se sabe muito bem que sempre incomoda o "outro".

O sensualismo das mulheres-objetos, uma demonstração da objetificação do corpo feminino e da hipersexualização obsessiva, é um produto do machismo.

Mas ele tenta ser reconduzido para um discurso feminista por conta de alguns artifícios, como a retórica da "liberdade do corpo" e a aparente solteirice das "musas" em questão.

E agora temos a obrigação da mulher obesa em ser "sexy", ainda que seja uma "sensualidade" que incomoda, dentro daquela falácia da "provocatividade".

Foi tanta "provocatividade" no discurso da intelectualidade "bacana" e pró-brega que ela não só descumpriu a promessa de "combater o preconceito" como criou subprodutos como Abraham Weintraub e Damares Alves.

E o que vemos no mito da "obesa sexy", que não passa de uma transferência às gordas da pressão obsessiva pelo "sensualismo".

O sensualismo, a sensualidade obsessiva, também é uma imposição de padrão. Um padrão de conduta, uma obrigação de ter que "provocar" e "incomodar" a todo custo, como se isso fosse uma obrigação em parecer "libertário".

As esquerdas cirandeiras piram, e já se fala de um tal de "movimento corpo livre", mais uma onda nessa "Contracultura de resultados" que virou a mania da "provocatividade identitária".

Não sou gordófobo, muito pelo contrário, mas considero que a sensualidade não pode ser a medida para o fortalecimento da autoestima humana.

Ser sensual até é fácil. Até Cate Blanchett, Meryl Streep e Michelle Obama se sensualizam. Mas qual é a diferença? A diferença, nas mulheres em geral, é quando elas são muito mais do que a imagem que se espera da sensualidade feminina.

O diferencial da mulher não é a sensualidade. É a transmissão de ideias e realizações através de sua condição feminina.

Em tese, toda mulher se sensualiza. Por outro lado, se a mulher só se sensualiza e nada faz além disso, ela demonstra um vazio de sua personalidade.

Não dá para atribuir esse sensualismo obsessivo como uma "provocação" aos homens. Não dá para vender a hipersexualização como uma "forma popular" de feminismo.

Além disso, o que é o "corpo livre", com a consciência escravizada por esse sensualismo-ostentação?

Que "liberdade" é essa? É agredir hipotéticas "patrulhas estéticas", "classes dominantes" de brinquedo, bonequinhos de lordes e madames ingleses a que se reduzem os críticos dessa "ditabranda do mau gosto"?

Sim, isso é "ditabranda de mau gosto". Nada traz de libertário, e se esse "corpo livre" causa incômodo, nem por isso ele pode ser provocador.

Até porque a verdadeira provocação traz outros compromissos que não a incomodação gratuita.

Esse "corpo livre" diz "contribuir" para o debate, mas já desqualifica quem faz sua crítica: "elitista", "misógino", "gordófobo", "higienista", "ditador estético" etc.

Isso é uma arrogância narcisista. Não ajuda a fortalecer a autoestima. "Autoestima" pisando no lombo do outro não é autoestima, é narcisismo barato e arrogante.

Além do mais, a obrigação das gordas em fazerem o papel de "sensuais" não lhes valoriza, antes as coloca num papel escravizador da hipersexualização.

Elas viram mulheres-objetos num contexto ainda mais trash, além do fato de que, em vez de apostar na ideia de que "só é sexy se quiser", aposta-se na regra de que "você tem que ser sexy".

A "sensualidade" vira uma obrigação, a serviço dessa palavra nunca falada mas sempre praticada, chamada "misandria", que é a aversão das mulheres aos homens.

Essa "sensualidade de guerra" não me traz simpatia, porque ela substitui o prazer pessoal pela obsessão em incomodar e agredir o outro. Já não é mais autoestima, mas uma forma de depreciação de outrem.

Devemos criar condições sociais para revalorizar as "minorias sociais" que não necessariamente passe pelo sensualismo ostensivo, pela "sensualidade de guerra".

Até porque a "sensualidade de guerra" não rompe com paradigmas machistas, gordófobos, racistas, elitistas, misóginos etc, antes estimulando suas reações.

A bregalização defendida por uma elite de intelectuais "bacanas" já trouxe a péssima lição.

Defendeu-se o "funk", o Waldick Soriano, o Odair José, o tecnobrega, a dupla Zezé di Camargo & Luciano, o compositor Michael Sullivan etc, achando que isso iria trazer o socialismo para o Brasil, mas o efeito foi o contrário: o golpe político de 2016.

Exaltaram-se as favelas em detrimento dos favelados. Exaltou-se a prostituição em detrimento das prostitutas. Tudo para tirar das esquerdas a responsabilidade de reformas sociais profundas.

Matou-se o projeto progressista com um simples e animado discurso pró-brega, difundido pelos "deuses" intelectuais "São" Paulo César de Araújo, "São" Pedro Alexandre Sanches e "Santo" Hermano Vianna e uma leva de intelectuais associados.

E agora vemos o que vemos. O entretenimento brega tirou o povo das ruas, porque se espalhou a falácia, pela qual as esquerdas passaram pano, de que isso já era sinônimo de "ativismo social".

Basta "incomodar" as hipotéticas elites, das quais nem se explicam como são, e, pronto: veio a tão sonhada revolução social para o país. Só que não.

Daí que temos um golpe em andamento desde 2016. E as "elites" mencionadas pelo discurso da "ditabranda do mau gosto" são aristocracias de ficção.

As verdadeiras elites higienistas gostam de brega, de "provocatividade" gratuita, da erotização compulsiva da hipersexualização.

Isso porque, se há alguém que se empodera com a "sensualidade de guerra" de boazudas, travestis e gordinhos são os reacionários que os discriminam, que se fortalecem diante da suposta rebelião do grotesco que garante os sermões persuasivos das verdadeiras elites caretas do Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...