Pular para o conteúdo principal

MARCELLO CRIVELLA, EDUARDO PAES E A LÓGICA DA METÁFORA DO URUBU E DA RAPOSA

MERA FORMALIDADE, NA TRANSMISSÃO DE CARGO - EDUARDO PAES E MARCELLO CRIVELLA HOJE SÃO RIVAIS NA DISPUTA DA MESMA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO.

Sinceramente, acho Marcello Crivella menos ruim do que Eduardo Paes.

Virou moda tratar todo "neopenteque" (apelido pejorativo dado aos evangélicos pentecostais) como vidraça, de forma que, às vezes, isso mais parece linchamento de cachorro morto.

Sim, a Igreja Universal e similares têm seu perfil retrógrado, seu reacionarismo, ao ser aplicado no Legislativo, vai contra vários direitos sociais contemporâneos.

Personalidades como Silas Malafaia e Marco Feliciano são totalmente repulsivas. E a Flordeliz contraria seu nome, como mostrou seu papel de megera assassina, mandando matar o próprio marido.

A Igreja Batista da Lagoinha, batista de alma neopenteque, também choca por seu astro principal ser o assassino de Daniella Perez, o ex-ator e hoje subcelebridade Guilherme de Pádua, a arrogância em pessoa.

E acho muito patética essa temática gospel de coisas risíveis como "adoração diante do trono" e coisa parecida.

Mas, convenhamos, mesmo aqui devemos tomar cautela, porque os piores defeitos dos neopenteques devem ser reconhecidos e repudiados conforme o contexto.

Não dá para investir em maniqueísmos fáceis, tentação terrível que contagia as esquerdas mais emotivas do Brasil.

No âmbito da religião, muitos acreditam que o Espiritismo brasileiro é o contraponto ideal e positivo ao osbcurantismo raivoso neopentecostal.

Grande engano. Ambos, "espíritas" e "evangélicos", foram fortalecidos igualmente pela ditadura militar, como seitas religiosas usadas pelo status quo para enfraquecer o catolicismo que atuava como força de oposição ao regime ditatorial.

Um texto que escrevi explica bem isso. Faz o coração doer naqueles que ainda acreditam num tal "espiritualismo de contos de fadas".

O Espiritismo feito no Brasil não passa de um Catolicismo medieval de botox, e em muitos aspectos é tão conservador e tão ou mais traiçoeiro que as seitas neopenteques.

Já segui essa religião por 28 anos, entre 1984 e 2012. Vendo várias páginas na Internet, vi que estava numa cilada religiosa e pulei fora.

A religião "espírita" é uma coleção infinita de falsidades e traições. O legado de Allan Kardec nunca foi respeitado nem seguido no Brasil, salvo raras exceções, e os chamados deturpadores doutrinários ainda dizem jurar fidelidade absoluta a ele.

As mentiras começam da "psicografia", uma infinidade de obras fake usando nomes de gente morta, à suposta caridade, tão fajuta quanto a que faz a fama de Luciano Huck.

Mas o grande problema é que a religião "espírita" atrai as esquerdas devido a retóricas não-raivosas e promessas falsas de progressismo e pacifismo.

São armadilhas semelhantes às que Eduardo Paes realiza. 

Eu considero Eduardo Paes um farsante. Ele vem com um discurso não-raivoso, o que faz as esquerdas maniqueístas caírem feito patinhos, não os da FIESP, mas os do anedotário popular.

O discurso de Paes não difere de Luciano Huck, e ambos seguem a lógica da retórica dos empresários de big tech, como Mark Zuckerberg e Elon Musk.

Ou seja, é um discurso tecnocrata-messiânico, que promete mil virtudes, que não adota um tom raivoso, parece civilizado e simpático e menciona palavras "milagrosas" que vão da "paz entre irmãos" à "mobilidade urbana".

Isso deixa as esquerdas babando e caindo na armadilha com gosto, sucumbindo feito morsas se jogando para a morte saltando do precipício.

É certo que as pessoas vão me criticar, dizendo que os neopenteques representam tudo de ruim e que Marcello Crivella irá sucatear o Rio de Janeiro.

Acham que o Espiritismo do Brasil representa uma resposta viável, ainda que "imperfeita", e que, no âmbito da política, Eduardo Paes está "mais aberto ao diálogo".

Duvido disso. Como ex-espírita, sou um dos poucos que conhece o conservadorismo obscurantista dessa religião, a ponto de um dos maiores doutrinadores, o "médium de peruca", defender que os sofredores aguentem tudo em silêncio e apoie abertamente a ditadura militar.

Especialistas dizem que o "médium", falecido em 2002, teria apoiado Jair Bolsonaro em 2018 e continuaria apoiando o governo, embora fizesse críticas pontuais ao presidente, como suas bravatas e omissões em casos como o incêndio na Amazônia e no Pantanal.

Com toda certeza, o tal "médium" nunca seria petista, manteria o horror a Lula e não teria apoiado Fernando Haddad.

Mas como esse "médium" adotava uma imagem simbólica não-raivosa, as esquerdas caem na sua armadilha. Qualquer direitista que falasse sorrindo e prometesse mil maravilhas as esquerdas adotam como se fossem seu, como um pato que trata como mãe o que ver primeiro, até uma pedra.

Quanto ao Eduardo Paes, as pessoas se esqueceram que as mortes de crianças por bala perdida também ocorreram sob seu governo.

Esqueceram que Paes elogiou os milicianos em um programa de TV. Sério.

Esqueceram que foi Paes quem sucateou e botou as empresas de ônibus para falir, com um sistema de transporte com poderes centralizados do secretário de Transportes, com a terrível pintura padronizada que confunde os passageiros e acoberta a corrupção empresarial.

Se várias empresas de ônibus foram extintas durante a gestão Crivella, é reflexo do legado de Eduardo Paes, que teve a covardia de acabar com a ligação Zona Norte-Zona Sul, achando que pobre só vai para a Zona Sul para ir à praia e praticar assaltos.

Paes queria acabar com a orquestra no Rio de Janeiro, deixar de investir em cultura. Queria reduzir tudo ao pragmatismo, talvez "baile funk", Carnaval e futebol carioca.

Além disso, Eduardo Paes apoiou o golpe contra Dilma Rousseff. Que isso seja deixado bem claro. Ele de início hesitou, mas depois aderiu com gosto.

Devemos nos lembrar da metáfora do urubu e da raposa.

O galinheiro é desafiado a escolher entre o urubu e a raposa. Ambos são ruins e perigosos, mas o mal menor está no urubu, que é uma ave como galos e galinhas.

No entanto, existe uma mania, no Brasil, de tratar a raposa como amiga das galinhas porque o urubu é uma ave corrompida, o que faz a raposa poder ser considerada uma ave por adoção.

Ou seja, pela raiva do urubu, pede-se para a raposa cuidar do galinheiro, porque a raposa não ruge e parece graciosa em seus movimentos.

Esse é o problema das esquerdas, "galinhas" que sentem raiva do "urubu" e, por isso, caem de amores à primeira "raposa" que abanar o rabinho.

O risco é de Eduardo Paes criar uma gestão pior que a de Crivella e deixar o Rio de Janeiro sem cultura, sem Educação, com pobres morrendo por bala perdida e trabalhadores se confundindo tentando diferir um ônibus padronizado de outro (se a terrível pintura padronizada voltar; tomara que não).

As esquerdas têm que aprender que "funk", futebol, "espiritualidade" e obras faraônicas não são tudo. 

E o Rio de Janeiro há muito deixou de ser Cidade Maravilhosa, e a decadência que muitos pensam ser invenção de Marcello Crivella começou com Eduardo Paes, que dificilmente irá recolocar a capital fluminense nos eixos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...