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PROFESSORA APELA PARA USAR "FUNK" EM QUESTÃO ESCOLAR


Sem a provocação irônica de professores de Filosofia como Maurício de Menezes e Antônio Kubitschek, em casos mencionados no meu instigante livro Esses Intelectuais Pertinentes..., uma professora do Rio de Janeiro apelou para lançar uma questão com um ídolo da música brega-popularesca.

Desta vez o alvo é o funqueiro Kevin O Chris, cujo sucesso "Evoluiu", incluído numa questão de Português. O trecho usado, para a questão envolvendo hipérbole, é este: "Evoluiu, ritmo agressivo, 150 fluiu".

A iniciativa foi da professora Camilla Moraes, que leciona Redação numa escola no bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e cursa Mestrado em Língua Portuguesa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Ela perguntou, de forma tendenciosa, nas redes sociais: "Quem disse que não tem língua portuguesa no funk?".

A ideia dela é colocar sucessos pop ou popularescos em questões de Português, acreditando na falácia de que as letras "fazem parte do cotidiano" de seus alunos.

Disse a professora Camilla, a respeito de sua atitude, a meu ver equivocada:

"Desde que comecei a dar aula, achava os alunos dispersos em alguns assuntos da língua portuguesa. Então, pensei em algo atrativo: música. Porém, não poderia ser qualquer música, teria que ser as músicas que eles escutam. Dessa forma, comecei a selecionar funk, sertanejo e as músicas brasileiras mais escutadas. Comecei a dar os conteúdos de figura de linguagem, função sintática e essa ideia foi muito bem recebida por eles. Inclusive, a minha tese de mestrado pela UERJ está sendo baseada nisso".

A atitude foi comemorada pelo próprio Kevin O Chris, que compartilhou a mensagem em seu perfil de 2,6 milhões de seguidores. Camilla respondeu, entusiasmada; "Zerei a vida".

Isso é muito mal, porque glamouriza o ultracomercialismo musical brasileiro.

Eu fico pensando no título que o cineasta moçambicano radicado no Brasil, Ruy Guerra, deu para a letra da canção "Não Existe Pecado no Lado de Baixo do Equador", de Chico Buarque.

E aí fico refletindo: só porque é o Brasil, não temos comercialismo musical? Durante muito tempo acreditávamos que as produções da Globo Filmes eram "herdeiras" do Cinema Novo, só muito tardiamente se admitiu oficialmente que isso era um blefe, um disparate.

E agora o ultracomercialismo popularesco, de nomes como Kevin O Chris, recebem o tratamento que a música folk recebeu nos anos 1960, de música "sobre o cotidiano"?

Vejo com muita indignação essa espetacularização da pobreza, incluindo sucessos popularescos em questões escolares, como se as letras desses intérpretes, que não contribuem em coisa alguma para a cultura popular de verdade, fossem "algo sério".

É muito triste ver que existe um lobby intelectual muito forte, que gourmetiza a cultura brega-popularesca, e agora promove gente como Kevin O Chris como se fosse um "intelectual", independente de haver provocação ou não nessa empreitada.

Só tenho a lamentar tudo isso. Essa iniciativa só serve para reforçar o culturalismo conservador que reforça a pretensa glorificação do oprimido ao exaltar ídolos popularescos que representam de forma caricatural, estereotipada e mercantilista, uma imagem idealizada do povo pobre.

Daí que não dá para usar a música popularesca como referência para nosso cotidiano. Nota zero para a professora Camilla.

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