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O VELHO CULTURALISMO POPULARESCO CONTRA-ATACA

 LULA COM MC MAGAL, ÍCONE DO "FUNK" DE SÃO PAULO.

Foi só Lula voltar ao poder, praticamente já governando na fase de transição, a música popularesca já se prontificou para abocanhar generosas verbas estatais para assim seus empresários não precisarem tirar tanto dinheiro do seu bolso, preservando suas fortunas exorbitantes.

Depois que o "sertanejo" se desgastou na crise do governo Jair Bolsonaro e Gusttavo Lima tornou-se um dos destaques dos escândalos envolvendo desvio de dinheiro público para Saúde e Educação em prefeituras do interior para o financiamento de apresentações popularescas, eis agora que a turminha do popularesco "do lado de (lula)lá"resolveu botar a cabeça para fora.

Além de ritmos como a "sarradinha", espécie de variante da "pisadinha" - esta, em parte, "contaminada" pelo bolsonarismo - , já envolvida em jingles de campanha do PT, agora vemos o "funk", desta vez o de São Paulo, cobiçar uma "mesada" do titio Luís Inácio, que por sinal virou o "esquerdista que a direita gosta".

Empresários como Rodrigo GR6 e Kondzilla e MCs como Neguinho do Kaxeta, MC Magal e Ryan SP, foram citados em matéria do G1. O "funk" paulista repete a mesma choradeira vitimista do "funk carioca", aparentemente perdendo a ênfase por causa da superexposição, apesar de Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco também estarem de olho nas granas estatais do presidente eleito.

É o mesmo discurso do "preconceito", quando sabemos que o "funk" segue um estereótipo de "pobreza" que a burguesia tanto gosta. Um mito da "pobreza linda", do "orgulho de ser pobre", da favela como um "paraíso", da miséria como uma "identidade", dentro de um repertório do velho culturalismo vira-lata popularesco defendido por uma parcela de intelectuais "bacanas".

Só que o "funk" sempre primou pela precarização artística, nunca trabalhou um tema contestatório de verdade, preferindo apenas arrumar espaço no establishment que já está aí. O "funk" reclama tanto de ser vítima de discriminação, mas é o primeiro a discriminar, sobretudo, a figura dos músicos e compositores, pois não há instrumentistas nem arranjadores. A título de comparação, na fase "careta" do rock, uma vocalista de apoio de Bo Diddley, no fim dos anos 1950, era também guitarrista.

E agora que a sociedade brasileira tornou-se "não-raivosa", descartando o lixo hidrófobo do bolsonarismo e seus símbolos reais ou bastardos (ter senso crítico, por exemplo, é erroneamente associado ao bolsonarismo), hoje tanto faz a permissividade medíocre do "funk" ou o obscurantismo medieval de "médiuns espíritas". Se não há discurso de raiva nem de intolerância, até jantar das elites da Faria Lima vira "convescote de esquerda".

Mas não é só o "funk" que tenta agora capitalizar com o novo governo Lula. Tem-se o livro de José Fernandes Filho, Waldick Soriano, Quem és Tu?, sobre o famoso ídolo brega (e reacionário de carteirinha, tipo um Amado Batista das serestas), e deve vir a campanha do já lançado livro História da Música Popular Brasileira... Sem Preconceito (sic), de Rodrigo Faour, pelo menos o primeiro volume. Devem vir mais volumes, encharcados de muito pano molhado e sedas rasgadas em prol da breguice reinante.

Com isso, mais uma vez a sociedade "sem preconceitos", mas muito preconceituosa, mostrará novamente seu bom-mocismo paternalista achando que defender a bregalização cultural é defender a vida do povo pobre. Essa pequena burguesia que vê as favelas de longe, agora, quer retomar o protagonismo, num contexto ainda bem menos progressista do que há vinte anos.

E mesmo com a perda da diva tropicalista Gal Costa, a burguesia "de esquerda" não quer aprender. O discurso "contra o preconceito" - tema do meu corajoso livro Esses Intelectuais Pertinentes... - voltará e, agora que o senso crítico e o ato de tocar o dedo na ferida são vistos equivocadamente como atitudes bolsonaristas, temos que achar que "esquerda" agora é aceitar, concordar, se conformar, nadar de acordo com a corrente. E, principalmente, tomar no cool, dentro da positividade tóxica de querer ser feliz e legal à força, apoiando a mediocridade que assola o nosso sofrido Brasil.

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