Pular para o conteúdo principal

A LOGÍSTICA DE EVITAR UM NOVO GOLPE BOLSONARISTA

ANDREIA MUNARÃO, O GENRO ALEX ZANATTA BIGNOTTO E O MARIDO DELA, ROBERTO MANTOVANI FILHO, SÃO ACUSADOS DE HOSTILIZAR O MINISTRO DO STF, ALEXANDRE DE MORAES E SEU FILHO.

O bolsonarismo continua agindo. O caso mais recente envolve o casal Andreia Munarão e Roberto Mantovani Filho, e o genro deles, Alex Zanatta Bignotto. No Aeroporto Internacional de Roma, os três, ao verem desembarcar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e seu filho Alexandre Barci de Moraes, dispararam xingações e ofensas. Detidos, os três alegam, através de seu advogado, que o ato foi apenas um mal-entendido na disputa por um espaço VIP no aeroporto.

Todavia, os três, apoiadores de Jair Bolsonaro, devem ter agido por indignação pelo fato do ministro do STF estar atuando para identificar todos os envolvidos nos atos terroristas do Oito de Janeiro, não somente os diretos, como os indiretos, incluindo financiadores da revolta golpista. O caso está sob investigação.

Paralelamente a isso, ocorre, sob sigilo de Justiça, as investigações a respeito do assassinato de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, em 2018. O ministro da Justiça, Flávio Dino, acompanha o processo e disse estar a caminho de encontrar os verdadeiros mandantes do crime, que matou a vereadora do PSOL e o motorista Anderson Gomes. O ex-presidente Jair Bolsonaro é suspeito de envolvimento no crime.

O desmonte do bolsonarismo é necessário para que seja ceifado, no nascedouro, qualquer risco de um novo golpe político. A Procuradoria-Geral da República solicitou a investigação de 70 milhões de brasileiros suspeitos de estarem apoiando Bolsonaro e difundindo, nas redes sociais, mensagens que vão de fake news a discursos de ódio e de campanha pelo golpe.

Conter o golpe é importante porque o atual governo Lula, em que pese o apoio dado por setores da chamada "sociedade organizada" - leia-se a classe média abastada e uma parcela dos chamados "pobres remediados" - e o entusiasmo exagerado da juventude e da mídia esquerdista, é o mais fraco dos três mandatos do petista.

Dividido entre ações paliativas como os projetos de grife (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida etc) e a megalomania de ser "líder mundial", se metendo em assuntos como o conflito entre Rússia e Ucrânia, a crise política na Venezuela, a ascensão da China e a multipolaridade geopolítica, além do presidente brasileiro brincar de ser protagonista na reunião do G7, onde foi chamado apenas como convidado, Lula se encolhe na medida em que tenta inflar sua figura pessoal.

É, portanto, um cenário político frágil, que ao menos deva ter sua defesa institucional fortalecida, consolidada e vigilante. Os progressos do governo Lula são muito pequenos, há euforia demais em relação ao seu governo e uma alegria maior que a festa, que já é exacerbada. Lula está apenas "arrumando a casa", embora sua preocupação seja em arrumar o mundo antes do Brasil.

Por isso mesmo é que, no lado dos pobres, fora dessa festa brega-identitária que, na sua positividade tóxica, acredita que Lula "trabalha muito" até quando toma banho de mar na Bahia, sem poder explicar se a tal reconstrução do país está concluída, em andamento ou no começo, vemos uma pobreza que continua vivendo seu drama.

Não são os "pobres de novela" que aparecem nos comícios de Lula "confirmando" suas superestimadas medidas. São os pobres que continuam vivendo nas ruas ou em casas precárias nas favelas, numa rotina que nada tem a ver com o Carnaval narrado por intelectuais festivos.

Pobres extremos ou não-emancipados, de um lado. Pessoas intelectualizadas e sensíveis, mas fora do status quo social dominante, de outro. Em todo caso, há gente que está de fora do Carnaval lulista, onde se permite que o mercado de trabalho, salvo exceções, se torne um verdadeiro espetáculo para influencers e humoristas de stand up comedy bancando os dublês de profissionais "sérios".

E isso é muito ruim. Além das instituições terem que se dobrar para evitar um novo golpe bolsonarista, devemos rever todo o sistema de valores, pois há muita nova injustiça surgida para proteger e blindar a mediocridade social, cultural e profissional, pois as pessoas mais capazes, discriminadas por um populismo meritocrático, estão sendo jogadas para fora, enquanto os novos abusadores surgem entre aqueles para os quais a sorte sorri, mas eles não sorriem tanto para elas e sim, para eles mesmos.

E esse é o problema. Gente sortuda que não aproveita a sorte senão para alimentar seu saudosismo. Gente que ganha demais sem saber aproveitar. Gente que está cega com o momento atual em que vive, achando que o governo Lula vai levar o Brasil para o Primeiro Mundo. Gente que dispara em alta velocidade com seu carrão SUV para o precipício, achando que, chegando lá, Deus fará do carrão um jatinho para fazer os sortudos do acaso voarem alto demais.

E quem não está nessa festa não pode ser cooptado pelo bolsonarismo. Não se pode defender inclusão social se o mercado de trabalho prefere contratar cospleis de comediantes do CQC, com pinta de Rafinha Bastos, Felipe Andreoli etc, ou sair por aí esculhambando rapazes com dificuldades no emprego e na vida amorosa. Isso mais parece um "bolsonarismo do bem" do que um progressismo democrático.

Inclusão social que discrimina pessoas que gostam de amor romântico, que têm senso crítico, que são cinquentões buscando emprego, que ficam em casa nos fins de semana, que são adultos morando com os pais, que são pessoas que não curtem futebol nem bebem álcool, não é inclusão social. É exclusão social, na grossa, e um processo muito, muito perigoso.

O que os lulistas fizeram com os eleitores de Ciro Gomes é sintomático. Desprezar ou depreciar tal eleitorado fez com que este adotasse o voto crítico em Bolsonaro, mais como um meio para provocar Lula, pois os ciristas não são bolsonaristas. Se o mesmo for feito contra quem tem senso crítico ou vive com dificuldades amorosas, pode ser que esse pessoal seja adotado por um bolsonarismo que aproveitará a mais apertada brecha para se reerguer, mesmo com as instituições vigilantes.

Se Lula privilegia a "boa" sociedade, a Casa Grande perfumadinha e sua relativa Senzala arrumada e submissa ao circo das elites, isso é fato. Mas há um Brasil diferente, um Brasil de pobres que gritam e choram, de intelectuais que questionam, de gente que quer viver o sossego do lar em vez da turbulência da vida noturna, de jornalistas querendo informar e não contar uma piada esperta, de gente que prefere tomar uma vitamina de frutas do que um engradado de cerveja, de gente que nem está aí para futebol. 

Esse outro Brasil existe, e se ele for discriminado, será este país a ser cooptado por Jair Bolsonaro para ele voltar ao poder pela porta dos fundos.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...