Pular para o conteúdo principal

A NOÇÃO SIMPLÓRIA DO QUE É VIRALATISMO


É bastante correto afirmar que o bolsonarismo e o lavajatismo - que, combinados, podem ser definidos como "bolsolavajatismo" - são o mal do Brasil , que trouxeram prejuízo com suas ações de profundo apelo reacionário e contribuíram para muitos retrocessos em nosso país.

Oficialmente, o viralatismo cultural - na verdade mais político do que realmente cultural, pois a chamada "guerra cultural" não é mais do que eufemismo para uma guerra política - se limita a ser considerado como tal alguns fenômenos: o jornalismo político hidrófobo, o humorismo sociopata que em muitos momentos expressa racismo, machismo e humilhação contra as chamadas minorias sociais, e políticos reacionários como Sérgio Moro, Carla Zambelli e Jair Bolsonaro, além da extorsão religiosa simbolizada, atualmente, por Silas Malafaia.

Mas Moro, Bolsonaro, Zambelli, Malafaia, mais Bia Kicis, Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Eduardo Cunha, J. R. Guzzo, o Estadão, a Folha e a Globo fora das suas brechas identitárias, entre outros, são apenas uma parte do viralatismo cultural que nem parece ser tão vira-lata assim, mais parecendo um cão Rottweiler de mansões do máximo gabarito que servem de guarda para os super-ricos.

É correto definir esse elenco como viralatismo, mas devemos lembrar que existe o outro lado do viralatismo que as pessoas se recusam a admitir, porque, associados a valores que a elite do bom atraso, ou seja, a burguesia de chinelos que se acha "mais povo que o povo", acha "positivos", são considerados "coisas boas da vida".

Há outros casos do que pode ser o viralatismo e ninguém quer que você, caro leitor, reconheça dessa forma:

É o "médium" charlatão que, apesar de ter defendido a ditadura, recebe, mesmo postumamente, generosas passadas de pano das esquerdas médias e pela sociedade "democrática" em geral, que volta e meia o definem como "defensor da paz e do amor ao próximo" e publicam suas frases obscurantistas nas redes sociais para "alegrar o dia".

É a nostalgia de araque do brega-vintage, representado por Michael Sullivan, É O Tchan, Bell Marques e Chitãozinho & Xororó cantando "Evidências", fora a "ídala" Gretchen, símbolo do culturalismo da Era Geisel, agora promovida a influenciadora digital. Uma "nostalgia" de mentirinha feita para enriquecer executivos de TVs e gravadoras e que cai bem no gosto precário de quem usa demais o Instagram e o Tik Tok.

É a subserviência ao hit-parade estrangeiro, onde todos os ídolos estrangeiros, independente do valor cultural que eles tenham ou não, são sempre classificados como "geniais", recebendo, de graça, o rótulo de "clássicos". Destes, se destacam Michael Jackson e Guns N'Roses, que não são tão brilhantes como muitos alardeiam, mas só no Brasil são alvo de um fanatismo em dimensões estratosféricas.

É a monocultura do futebol, na qual o Brasil, se não é o único país fanático por essa modalidade esportiva, é o que leva esse fanatismo até as últimas consequências, a ponto de cada partida ser tratada como uma "batalha campal" e crises envolvendo times badalados como Corinthians e Flamengo serem creditadas como "catástrofes".

São as gírias tipo "balada" (Jovem Pan e Faria Lima) ou "dialetos" em portinglês ("boy", "body" e "dog"), ou a falta de noção musical que faz muita gente chamar grupo vocal de "banda", um culturalismo vira-lata que parece ter se inspirado no segundo escalão da mídia corporativa (a própria Jovem Pan, mais SBT, Rede TV!, etc).

A própria megalomania da classe média abastada e de seu novo ídolo, o presidente Lula, se preocupam muito em falar mal do "viralatismo dos outros", mas se esquecem do próprio viralatismo, um "viralatismo do bem" pelo qual tentam dominar o mundo com seu "jeito peculiar de ser", como se essa elite se achasse "a mais adiantada do mundo". Mas não é.

O Brasil chafurda na lama do viralatismo, num momento em que a classe média abastada se transforma em animais alucinados famintos pelo consumismo, gastando dinheiro demais à toa e nunca ajudando o próximo, mentindo nas redes sociais quando dizem defender um mundo justo, solidário e igualitário mas se isolando no seu sorridente egoísmo.

É um pessoal que tenta caprichar nos sorrisos de sua felicidade tóxica e na sua obsessão em contar piadas com os amigos, como se o Brasil quisesse ser um país "mais feliz" que a Finlândia, oficialmente considerado o "país mais feliz do mundo".

Mas esse Brasil "feliz de novo" é para poucos, para uma elite provinciana e vira-lata que fica se achando só porque tem muito dinheiro no bolso, alegria tóxica para dar e vender e um uso regular nas redes sociais para impor, sustentar e reciclar as mesmas narrativas de sempre. É uma bolha social que, mesmo isolada, tenta soar como "maior do que o universo", uma megalomania enrustida que não deveria ser considerada motivo de orgulho, mas caso para uma consulta psiquiátrica de emergência.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...