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RELATÓRIOS NÃO SUBSTITUEM A REALIDADE

BRINCANDO DE INTERPRETAR A REALIDADE.

O cara se acha o mais legal do planeta. Bem abastado, cheio da grana, com diplomas importantes, cerca de dez mil seguidores do Instagram dos quais pelo menos 400 ou 500 escrevem quase sempre concordando com ele. O cara mal sai de casa, isolado dentro de seu carrão, para ir aos restaurantes ou outros pontos da moda, evitando olhar o mundo em volta.

Apesar disso, o cara odeia ler textos que não lhe agradam. Ele tenta julgar o mundo conforme suas convicções. Odeia ser contrariado. O mundo não é como realmente é, mas é como esse cara acredita que seja, e ele luta para que seus juízos de valor se sobreponham à realidade.

Por incrível que pareça, não estamos falando de um bolsonarista nem de algum isentão ressentido. Bolsonaristas e isentões são tão patéticos que soam caricatos demais para atribuir-lhes alguma séria gravidade cognoscitiva, já que eles são tão delirantes que nem assustam com suas sandices.

Falamos do "democrático" ou do "centro-esquerdista" dos tempos atuais, o burguês convertido agora numa pessoa "bacana" e, fantasiado de "gente simples", tenta impor sua superioridade social como alguém supostamente esclarecido e pretensamente moderado, um "dono da verdade" enrustido, que jura não querer a posse da verdade, mas luta para ficar sempre com a palavra final sobre tudo.

Dito isso, vemos o quanto esse protótipo de burguês enrustido simboliza a sociedade "democrática" de hoje, a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, que jura ser a "classe mais legal do planeta", mas volta e meia sofre chiliques meramente golpistas ou conservadores.

Essa classe é submissa a instituições, cultura logomarcas e ídolos famosos, sente fobia pelo senso crítico e julga os privilégios das pessoas pela meritocracia. Por mais que disfarcem seu elitismo indo a estádios de futebol, bebendo pinga de vez em quando, falando português errado principalmente quando pronuncia um substantivo plural no singular - certa vez um cara despejou "os fiozão" - , em algum momento ele surta e lembra da sua herança golpista de seus aristocráticos antepassados.

E aí vemos a questão do lulismo 3.0, que a realidade que muitos não querem ver mostra o quanto o presidente Lula está com uma performance aquém dos dois mandatos anteriores. Nesses mandatos se via algum serviço, mas hoje o que se vê são meros atos de propaganda, com supostas medidas que, de tão fáceis demais, rápidas demais e demasiado grandiloquentes, a gente desconfia, principalmente se a gente confronta com a realidade.

Enquanto a propaganda lulista, mascarada pelos simulacros feitos através de relatórios, estatísticas, opiniões, promessas, cerimônias etc - com direito a Lula "esbravejando" contra a privatização da Eletrobras, definida como "crime de lesa-pátria", enquanto seu vice Geraldo Alckmin serenamente afirma que o Governo Federal não irá reestatizar empresas privatizadas - , fala em "recordes históricos", a realidade mostra que pouca coisa sobra de real neste relato de fantasias.

É como crianças escrevendo e produzindo desenhos no papel, ocupadas em escrever estórias imaginárias e fazer desenhos, anunciando um "mundo" que somente elas e seus amiguinhos conhecem e que brincam de ser realidade. Nota-se que tudo é fácil demais nessa produção de relatórios e eles se repetem muito, como se a imaginação fizesse um esforço desesperado de se impor à realidade.

As quedas de desemprego não se observam como os tais "recordes históricos" anunciam. O que se vê são apenas ofertas de empregos quase sempre precarizados. São empregos formais, sim, mas com salários precarizados, mas, baseado no ditado "pimenta nos olhos dos outros é refresco", salário de R$ 1.412 é "uma fortuna" quando não faz parte dos ganhos da "galera" que apoia o governo Lula nas redes sociais.

Aliás, o salário mínimo de 2025 será mais uma vez uma micharia, com reajuste para R$ 1.509. Sempre uns noventa reais somados ao salário a cada ano, festejados pelos tecnocratas do governo Lula como se fossem "aumentos reais", enquanto, fora da bolha lulista, as classes populares precisam estrangular o orçamento para ver se algumas moedas sobrevivem nas mãos dos trabalhadores depois do fim de cada mês.

Mas não podemos escrever isso. A "boa" sociedade não gosta. O "cara legal" que domina as narrativas nas redes sociais boicota textos que não lhes agrada. Temos que recorrer a Caetano Veloso, apesar dos erros que ele comete dentro do espírito do Lula 3.0 de hoje, citando o verso "Narciso acha feio o que não é espelho", ilustrativo dos tempos atuais.

Por mais que a realidade aponte que relatórios não substituem a realidade, sendo apenas, quando muito, represntações interpretativas, o "cara legal" não admite isso e, praticamente sem sair de casa, quer mandar no mundo achando que somente o que ele pensa é que vale. E tudo isso é alimentado pela ilusão de umas centenas de pessoas concordando com ele no Instagram e no Facebook, sugerindo uma falsa unanimidade.

Enquanto isso, fora da bolha lulista e dos "recordes históricos" do governo Lula, as pessoas têm que se virar se empregando fora de suas vocações e talentos naturais e tendo que enxugar o roteiro de gastos. E não dá para azeitar a vida, porque o azeite está caro, triplicou os preços nos últimos meses. Mas não fala isso não porque a "galera" lulista não gosta de ser avisada de que os preços aumentaram em vez de diminuírem. Para os lulistas, não só relatórios substituem a realidade. Os sonhos e fantasias também.
 

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