Ter muito dinheiro, prestígio, alguma instrução, consumir informação nas redes sociais, ter os bens mais desejados do Brasil e contar com umas 400 pessoas concordando com tudo o que é dito ou escrito faz do negacionista factual o isentão da temporada, certo de que, se não é declaradamente o “dono da verdade”, se esforça ao menos para ficar com a palavra final, o que dá no mesmo.
Patrulheiro do período Lula 3.0, o negacionista factual se acha na certeza do triunfo de sua classe, a burguesia ilustrada que se pretende “mais povo que o povo”. O período atual mostra uma euforia tóxica de uma elite megalomaníaca que quer se ostentar ao mundo.
É um período extremamente perigoso, com uma sensação enganosa de triunfalismo, como se um caminhão sem freio ordenasse para o obstáculo sair da frente para o veículo passar. É um cenário ensandecido, preocupante em todos os aspectos, pois nosso país não tem condições objetivas para ser um país desenvolvido e, mesmo assim, deseja na marra que a nação brasileira esteja no elenco do Primeiro Mundo.
Não se trata, portanto, de uma perspectiva real de todo o povo brasileiro, mas de uma elite consumista dotada de prestígio e visibilidade que se acha “o povo brasileiro” e a “espécie humana por excelência”, supostamente equilibrada, sem a distopia existencialista europeia nem o fundamentalismo primitivo afro-asiático.
Trata-se de uma convicção de classe, de uma burguesia ilustrada que quer circular pelo mundo, fazer turismo e tratar o Brasil como seu parque de diversões. Daí o interesse em ver o nosso país considerado “desenvolvido”, e Lula torna-se a pessoa certa, dada a visibilidade e o prestígio que o presidente brasileiro busca no exterior. Mas nada em prol do.povo pobre, só apreciado por nossas elites “generosas” nos limites de evitar a revolta que faz essa classe abastada ser assaltada.
Vivemos o período tóxico de uma parcela de brasileiros considerada economicamente próspera e que fica se achando. Apenas consumindo informações nas redes sociais, se acha a "mais sábia", com mania de julgar tudo e todos e dar seu pitaco para qualquer assunto. Essas pessoas acham que chegou a vez de o Brasil dominar o mundo e se tornar um país desenvolvido.
Essa ilusão de uma falsa certeza, tida como inabalável e certa, também vive a situação enganosa de que as circunstâncias favorecem. Mas, neste caso, não. Esse "querer demais" de uma elite brasileira considerada cool a ponto de fazer carteirada ioiô - às vezes se julga a "melhor", em outras vem com falsa modéstia do tipo "todo mundo erra" ou "ser gente como a gente" - é muito preocupante.
Vejo que, em dado momento, essa ilusão da certeza absoluta vai se dissolver como um castelo de areia tragado por uma suave onda do mar. Ter muito dinheiro, prestígio, ajuda de parceiros e planos estratégicos será insuficiente para garantir o ingresso do Brasil no banquete dos desenvolvidos.
Tudo parece certeiro e irreversível. Mas creio que, em dado momento, no soar da meia-noite, a noite de Cinderela se revelará uma grande ilusão.
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