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A GRANDE MÍDIA NÃO LARGA A "NOVILÍNGUA"


COM O AVAL DA MÍDIA VENAL E CLIMA DE "LIBEROU GERAL", GÍRIA "BALADA" VOLTA À TONA NA IMPRENSA "SÉRIA".

Já informamos que a "liberdade", tal como conhecemos hoje, é uma concessão privativa de uma meia-dúzia de senhores donos da mídia.

Os irmãos Marinho (Globo), Sílvio Santos (SBT), Marcelo de Carvalho e Amilcar Dallevo (Rede TV!), Calvary Investimentos (atual dona do Grupo Abril), Otávio Frias Filho (in memoriam) (Folha) e Tutinha (Jovem Pan) são os donos da "liberdade" que corre livre, leve e solta nas redes sociais.

São eles que influenciam, mesmo indiretamente, no imaginário da maioria dos internautas que jura que, da mídia, só assistem ao streaming da Netflix.

E essa "liberdade" envolve coisas nada livres, como tatuar o corpo todo como se fosse um boi recebendo carimbo do capataz de latifúndio, ou apelar para a "novilíngua" brasileira, feita para dar a falta impressão de que surgiu no "cotidiano natural" dos consumidores de redes sociais.

O Brasil está culturalmente sucateado, socialmente fragilizado, politicamente confuso e à beira de uma catástrofe.

Mas nas redes sociais, onde reina a inversão de valores, é que "tudo está às mil maravilhas". Com o jornalista cultural "isentão" dizendo que "vivemos uma fase gloriosa, porque temos muitas narrativas e muitas vozes em plena atividade".

Há até a inversão entre comercial e não-comercial, ainda que com teses sem pé nem cabeça.

"Não-comercial", agora, são o k-pop, a Beyoncé Knowles, o Michael Jackson, a pisadinha, o "funk ostentação" e a "sofrência sertaneja".

"Comercial", agora, é Paul McCartney recusando a dar autógrafos para fãs (embora ele prefira trocar ideias com eles do que ficar assinando papéis) e Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá como responsáveis pela marca Legião Urbana.

A questão de "comercial" e "não-comercial" virou um caso de terraplanismo cultural. "O que eu gosto é não-comercial, o que eu detesto é comercial".

E temos Luíza Sonza falando uma besteira, dizendo que ela, originária do rock, sentia predileção pelos Beatles.

"O meu gosto artístico sempre predominou nesse lugar; o blues é meu ritmo preferido, minha banda preferida é Beatles, por exemplo. Só que saí um pouco dessa zona de conforto (...)", disse ela, ao abraçar o "pop funk".

Sair da zona de conforto? Quem saiu da zona de conforto foram os Beatles, que abandonaram a música excelente, porém acessível, que fizeram até 1965, e decidiram fazer experimentos musicais arriscados.

Alguém viu essa dedicação - que será vista, no próximo mês, no documentário Get Back, de Peter Jackson - no "funk" e seus MCs extremamente medíocres?

"Funk", para mim, é que é zona de conforto, os MCs ficam até cruzando os braços enquanto o DJ, que já é um canastrão musical, vai criando um som qualquer nota e uma batida padrão para todo mundo. Impossível surgir um Neil Peart, um Charlie Watts no "funk".

E dentro dessa imbecilização cultural, a grande mídia que comanda o triste espetáculo da liberdade fabricada não toma jeito.

Mais uma vez a imprensa "´séria" investe numa gíria, a palavra "balada", que deveria ter tido vida curta por diversos motivos. 

Já era para ser considerada em desuso, porque nada é mais cringe - tenho que falar a língua do momento, para a "galera" entender, né? - do que a gíria "balada".

A gíria "balada" surgiu de um grupo de burguesinhos frequentadores da noite paulistana, há trinta anos. Era eufemismo para rodízio de pílulas alucinógenas, como o tal ecstasy.

Patenteada por Tutinha e popularizada por Luciano Huck, a gíria "balada" virou a "gíria do Terceiro Reich", acima dos tempos e das tribos.

"Balada" é a única gíria que têm departamento de marketing próprio para ela, e vira também artigo de mershandising em novelas e até em livros juvenis.

"Balada" é o símbolo da "novilíngua" que saiu das páginas de 1984 de George Orwell para as redes sociais onde muitos pensam que a "bolha digital" é onde se respira o ar mais puro.

Não existe almoço grátis e não foi a turminha da escola que fez a gíria "balada" virar "a gíria de tudo, de todos e de sempre" e é falada até por repórteres com alguma competência na mídia "séria" (claro, eles precisam seguir o vocabulário imposto pelos chefes de redação).

A gíria "balada", originalmente ligada a um alucinógeno e da qual se fala geralmente como se estivesse cuspindo em alguém, virou a "gíria do Terceiro Reich" pelo objetivo de testar o controle que a mídia venal, da identitarista Globo à fascista Jovem Pan, exercem na juventude.

A "novilíngua" tenta fazer prevalecer a palavra "balada" reduzindo a variedade linguística, como na obra de Orwell.

Dessa forma, não falamos mais "festa", "jantar entre amigos", "vida noturna", "boemia", "noitada" e "curtição", e muito menos "apresentação de música eletrônica". Tudo virou "balada", porque é mais simples acumular diversos significados numa mesma palavrinha. O Grande Irmão que o diga.

Mas é esse "maravilhoso mundo da liberdade plena" e do "ar puro que se respira nas redes sociais", que por sinal glorifica subcelebridades vindas do Big Brother Brasil, que representa esse "admirável mundo novo" misturado com 1984 que se tornou a realidade brasileira.

Uma realidade da qual não podemos questionar, sob pena de sofrermos ataques de linchamento digital nas redes sociais, como ocorreu no Orkut (erroneamente tido como um paraíso de progressismo digital pelas esquerdas infantilizadas) em 2007.

E o pior é que os valentões digitais, no fundo devotos de Jair Bolsonaro, pela Espiral do Silêncio manifesta após a crise do bolsonarismo, já começam a esconder seu direitismo histérico sob as calças de Lula, na esperança de não naufragarem com o "capitão" quando este se mostrar insustentável.

E, além disso, não há almoço grátis. Se os reaças digitais agora dizem que apoiam Lula, é porque eles têm esperança de que Lula irá lhes oferecer generosas verbas estatais para os "coletivos culturais" que a juventude reaça organizar.

Nem que sejam os "coletivos" para produzir as tais "baladas" de todo fim de semana. O Grande Irmão, o Tutinha e o Luciano Huck que o digam.

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