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NÃO VEJO FIRMEZA COM LULA E AS ESQUERDAS


Quando escrevi que não vou votar em Lula, não virei coxinha, ressentido, bolsomínion, neocon ou qualquer coisa parecida.

Me considero tão ou mais esquerdista que muitas esquerdas triunfalistas com voz plena na mídia progressista.

Não passei a desrespeitar Lula nem a nutrir ódio por ele.

Continuo respeitando Lula como pessoa. Fiquei feliz com sua saída da prisão. Torci pelo Lula Livre.

Eu respeito personalidades ligadas a ele, como Gleisi Hoffmann e o casal de advogados Cristiano e Valeska Zanin Martins.

O problema que eu vejo é que o próprio Lula não parece agir de maneira acertada, e além disso a realidade está muito perigosa para a volta das esquerdas ao poder.

Lula, a meu ver, está cometendo erros estratégicos.

Não é a sombra do antigo líder sindical que convocava as classes trabalhadoras a se manifestarem de verdade, pressionando contra o arbítrio dos patrões.

E isso em tempos de AI-5.

Em tempos democráticos, pelo menos formalmente, Lula nunca convocou as esquerdas a fazerem protestos constantes e pressionarem de verdade para expulsar Jair Bolsonaro do Governo Federal.

O que se vê de manifestações contra Bolsonaro não passam de meros carnavais fora de época, as tais micaretas, com toda a essência do protesto prejudicada pela espetacularização.

E, o que é pior, com manifestações sendo marcadas com grandes intervalos, sob a desculpa de que protestos constantes iriam "banalizar" a causa.

É mesmo? E toda essa conversa de que "Lula já ganhou todas", também não está sendo banalizada a ponto de haver reações de antipetistas que não suportam imaginar ele governando de novo o Brasil?

Lula não está sendo estratégico, ele não está tomando cuidado com seus próprios limites.

De um lado, ele faz alianças por uma frente ampla demais das quais ele não mede critérios. Faz acordo até com quem havia, anos atrás, desejado sua prisão.

De outro, ele acha que poderá fazer tudo de seu programa de governo, acreditando que só por ele ser voltado para as classes populares ninguém vai impedir.

E Lula acha ainda que pode fazer uma frente ampla demais pedindo para que seus aliados respeitem integralmente seu projeto político.

Isso lembra o famoso conto do escorpião e do sapo - na ironia dos detratores de Lula o chamarem de "sapo barbudo", mas, no âmbito zodiacal, Lula ser um escorpiano - , de contundente lição moral.

Nesse conto o escorpião pede carona a um sapo para atravessar um rio.

O sapo se recusa de início, e pergunta se o escorpião não irá picá-lo. O escorpião jura que não irá picar o sapo.

Mas, na travessia, o escorpião pica o sapo, ele morre e os dois se afogam no rio, e o escorpião, antes de morrer, ainda diz que "é de sua natureza picar algum animal".

Será que os aliados neoliberais de Lula vão realmente cumprir a promessa de respeitar o projeto político do petista?

Vejamos o seguinte fato.

Michel Temer, que traiu e ajudou a derrubar Dilma Rousseff, falou que iria "respeitar todos os direitos trabalhistas". Fez o contrário, criando a tal reforma trabalhista que tornou o mercado de trabalho mais precário.

Daí que não vejo Lula como seguro e preparado para enfrentar as dificuldades que haverá em seu governo.

Da pessoa dele, até acredito que Lula tem competência técnica para resolver os problemas do país, e ele tem boas intenções para recuperar o Brasil.

Mas os problemas são três.

Um, é que o Brasil foi sucateado nas mãos de Temer e Bolsonaro.

Outro, é que o golpe político de 2016 veio para ficar e não vai devolver o poder que tiraram das esquerdas.

Terceiro, é que Lula encontrará uma oposição ainda mais agressiva do que aquelas que derrubaram Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart em 1964.

O golpe contra Dilma em 2016, então, é fichinha para o que se ameaça fazer contra Lula.

Lula terá dificuldades de fazer o "governo dos sonhos" porque as dificuldades deixaram o Brasil em condições piores do que aquelas vistas em 2001-2002.

Além disso, pelas alianças que costurou, ele virou refém daqueles que não aceitariam ver o petista realizando as ousadias próprias de seu programa de governo.

Regulação da mídia? Reindustrialização do Brasil? Impostos para os ricos? Revogação da reforma trabalhista? Para quem tem as instituições nas mãos, nem pensar!

Lula se limitará a prometer mágica com o Auxílio Emergencial de R$ 600 - que será visto como um suposto programa de rentismo popular, como foi o Bolsa Família - e algumas medidas convencionais de geração de emprego.

O petista não terá liberdade de ação, castrado pelas alianças que vão pedir cargos em ministérios e um afrouxamento do programa de governo.

E, assim como Jango e Dilma, Lula começará com uma pauta conservadora, para agradar o mercado, mas, quando implantar medidas em prol dos trabalhadores, um golpe se lançará contra ele.

Lula promete tudo, até reforma agrária radical ele promete, sem perceber as armadilhas e bloqueios no caminho.

As esquerdas, que perderam o protagonismo, cruzam os braços e acreditam numa vitória que não existe, e que as faz sentir tanto ilusão quanto arrogância e falta de um mínimo de autocrítica.

E aí vemos o quanto Lula está fraco e com menos chances de vitória do que se imagina.

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