O espectro político do Lulismo 3.0 reflete também no círculo midiático. Se Lula cerca em torno de si setores que vão da ala mais moderada dos golpistas de 2016 até uma parcela próspera da esquerda raiz, na mídia o clube se configura de maneira semelhante.
Assim como a elite do bom atraso é uma frente social que vai da alta burguesia descolada ao chamado “pobre de novela”, a mídia já começa a montar um padrão que envolve vários veiculos antes considerados antagônicos entre si.
Temos desde veículos “insentos” da mídia patronal, como Folha/UOL e O Globo/Rede Globo, até veículos como a Revista Fórum. Recentemente, veículos como O Antagonista e O Estado de São Paulo sinalizam um apoio condicionado ao Lulismo 3.0, em que pese as divergências conhecidas.
A questão não é apenas diversificar as pautas jornalísticas nem de desenvolver um “jornalismo do contra”, mas a de criar um padrão de jornalismo parcialmente crítico, com críticas ao bolsonarismo mas ao mesmo tempo tornando-se chapa branca em relação a Lula quando o assunto rende visibilidade e prestígio para o Brasil.
Ou seja, quando o Brasil busca uma posição de “mocinho” da geopolítica mundial, quase toda a grande mídia passa a adotar uma postura solidária a Lula. No caso do tarifaço, a esperança de visibilidade internacional do Brasil uniu até Estadão e Diário do Centro do Mundo e Veja e Carta Capital, só para se ter uma ideia.
É claro que, em muitos princípios, há muita divergência, dentro das posturas que os veículos de imprensa adotam em relação a Lula. Mas nota-se que, mesmo fora da política, diferentes periódicos passaram a ter atitudes convergentes, como publicar dicas sobre nutrição e relatos sobre o potencial turístico ou econômico das cidades brasileiras.
Ver que tanto O Antagonista quanto a Revista Fórum falam igualmente sobre os atrativos das cidades do Brasil é curioso. Há dez anos, os dois periódicos atuavam em frentes opostas. O Antagonista foi um dos porta-vozes do golpe político de 2016 e a Revista Fórum é um dos veículos de apoio aos governos do PT.
Hoje essa mídia, descontadas as divergências pontuais em relação ao governo Lula, já se configuram num padrão de jornalismo comercial marcado por uma quase neutralidade editorial, procurando se afastar de uma análise crítica da realidade dentro de um comum acordo já existente nos âmbitos político e sociocultural. Torna-se, portanto, uma nova mídia mainstream.
Dessa forma, o chamado quarto poder encontra sua zona de conforto de sustentação do cenário socioeconômico de um neoliberalismo assistencialista, independente do apoio a Lula ser ou não incondicional. Dentro de uma “democracia” para poucos, a atual frente ampla da mídia patronal junto a veículos outrora golpistas e a outros da mídia esquerdista é a representante dos interesses dos que estão bem de vida.
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