Bem lembrou Fernando Brito, do Tijolaço, do caráter tardio da decisão do Supremo Tribunal Federal em restringir os poderes do juiz paranaense Sérgio Moro.
O STF tirou da responsabilidade de Moro os casos da acusação do ex-presidente Lula de suposto envolvimento com as obras do sítio de Atibaia e de um terreno tido como do Instituto Lula, em São Bernardo do Campo.
Também tirou da responsabilidade do juiz paranaense o caso das palestras do ex-presidente.
A justificativa é que elas não têm relação com a Petrobras, foco de investigação da Operação Lava Jato.
Por associação, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que decidiu pela prisão de Lula com base em suposta corrupção associada ao triplex do Guarujá, também não avaliará os casos retirados das mãos de Moro.
O caso do triplex do Guarujá é tão risível, baseado em estórias mal contadas por delatores, que se falou até num "elevador privativo" que nunca existiu.
Fotos revelaram que o triplex do Edifício Solaris, na litorânea cidade paulista, é muito mais modesto do que se supunha.
O imóvel é um típico apartamento de classe média, com algum conforto significativo, mas nada que se possa atribuir uma "propriedade nababesca".
Fernando Henrique Cardoso possui imóveis muito mais opulentos, um deles dado de presente à amante Miriam Dutra, ex-jornalista da Rede Globo, e ninguém fala.
Apesar de acertada a atitude do STF, ela chegou tarde demais para tirar a ilusão do "presidente" da "República de Curitiba" que muitos associaram ao famoso juiz da 13ª Vara Criminal na capital paranaense.
A "República de Curitiba" ainda continua influente. Até no sistema de ônibus de São Paulo.
O legado de João Dória Jr., agora aplicado por Bruno Covas (neto do fundador do PSDB, Mário Covas), radicalizou a "curitibanização" que há mais de 35 anos assombra o sistema de ônibus da capital paulista e de outras cidades do Estado.
Continua a pintura padronizada que esconde e "embaralha" as empresas aos olhos da população.
Há o ceifamento ou a mutilação de linhas de ônibus, num total de 109 linhas atuais extintas, e uma promessa de retirar das ruas 865 ônibus, para a alegria da indústria automobilística.
E nessa religião da "mobilidade urbana" cujos ônibus vestem as batinas da "pintura padronizada" (ou não seriam "fardas", numa lógica mais militaresca?), Jaime Lerner é "Deus" e o Bilhete Único, a hóstia a ser consumida pelos devotos de plantão.
Sim, porque o esquartejamento de trajetos com a extinção de mais de cem linhas serve apenas para transformar o cartão eletrônico num brinquedo para busólogos reacionários.
Infelizmente, o setor de ônibus é um artifício usado para "santificar" políticos que não investem em Saúde, Educação nem outras áreas públicas, mas quer deixar seu logotipo em ônibus que circulam todos iguaizinhos pelas ruas das cidades, sejam municipais ou metropolitanos.
Daí a pintura padronizada, que serve de lona para esse triste espetáculo da "partidarização" do transporte público, que alimenta a corrupção político-empresarial que se vê no Rio de Janeiro e se oculta em cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis.
Voltando à Operação Lava Jato, a atitude do STF veio tarde demais porque Moro cresceu de maneira vertiginosa, virando "herói nacional" para uma parcela conservadora de nossa sociedade.
Além disso, Lula está preso e corre o risco de ser transferido para um presídio do Exército, em lugar ignorado, para lá seu destino se tornar, digamos, ainda mais sombrio.
(Entenda "mais sombrio" como um eufemismo para coisa pior)
Embora haja uma brecha, com a decisão do STF, para que se possa anular a condenação de Lula, sabemos que não é do interesse da plutocracia seguir esse objetivo.
O que se observa é que temos um xadrez político, no qual, depois de realizado um objetivo - a prisão de Lula - , a sociedade anti-petista precisa suavizar seus procedimentos e práticas.
Ainda não o fazem de imediato. Surtos reacionários dos mais absurdos acontecem, na coleção de atos intolerantes e desrespeitosos.
O mais novo caso é de Afonso Henrique Castrioto Botelho, juiz da 2ª Vara Criminal de Petrópolis (RJ), que usou o Facebook para cometer uma atrocidade moral.
Ele pediu para que "algum brasileiro" se oferecesse para cuspir "no meio da fuça", chutar ou "dar uma bolacha" no rosto da presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann.
Depois de Lula e Dilma, Gleisi é a terceira personalidade do PT mais odiada pelos reaças brasileiros, no momento.
Imagine um juiz cometendo uma grosseria dessas. Mas se temos histórico de juízes e procuradores praticando até feminicídio conjugal, espera-se qualquer coisa desses "togo-ditas" ("trogloditas de toga").
Covarde, Afonso decidiu bloquear os acessos ao seu perfil do Facebook. Em sociedade menos imperfeita, um sujeito desses receberia as punições severas da lei, perdendo registro de juiz, cancelando benefícios e ele mesmo sendo bloqueado a criar conta no Facebook.
Mas o Brasil hoje é uma combinação de dois tipos de surrealismo: a tragédia de Franz Kafka e a comédia de Luís Buñuel.
E parece que os reaças estão esperando Lula morrer para "botar o país em ordem".
Os telejornais já estão começando a mostrar "notícias positivas", como preparação para o país "bonitinho" que a retomada conservadora quer reconstruir em 2018, elegendo algum "moderado" para presidir a República.
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