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EM NITERÓI, PARQUILETES SÃO O "TRAMPOLIM" DA BOEMIA BURGUESA


A elite do bom atraso que sempre vive à paisana, no seu eterno carnaval de uma classe fantasiada permanentemente de "gente simples", adora uma hipocrisia. Sem delimitar fronteiras entre o público e o privado, essa elite, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, se encanou em privatizar tudo, até mesmo o dinheiro público, daí o apoio incondicional a um Lula ideologicamente desfigurado, visando os benefícios dos incentivos financeiros dados pelo presidente.

Essa classe burguesa enrustida, que se acha "pobre" porque toma aguardente, fala português errado, vai a estádios de futebol e paga IPVA, é inclinada a uma frescura. Vide os estranhos fenômenos dos parquiletes (parklets), falsas praças públicas que atendem a interesses privados de comerciantes, aberrações que agridem a mobilidade urbana ao ocupar, sem necessidade, os meios-fios das ruas, atrapalhando o estacionamento de veículos e, muitas vezes, dificultando seu tráfego.

A burguesia enrustida, que em São Paulo não gosta de ver uma rede de supermercados como Oxxo multiplicar filiais, mas adora ver parklets que mais parecem currais de faroeste, em Niterói compartilha dessa grosseira ideia dessas "praças de rua" que, também na cidade de Arariboia, promovem propaganda enganosa se vendendo como "parques públicos" (?!).

Seja ocupando espaço à toa em Icaraí, na Rua Ator Paulo Gustavo - onde, na proximidade da esquina com a Rua Otávio Carneiro, um grande calçadão dispensa a "necessidade" de um parquilete pois dá para colocar cadeiras na calçada - , ou dificultando o tráfego na Travessa Alberto Victor, no Rink (no trecho onde, nos anos 1980, passavam as linhas circulares 43-2 e 49-2), os parquiletes demonstram sua total inutilidade e irrelevância social, só agradando a uma classe abastada e cervejeira.

Isso porque a "boa" sociedade é que gosta dos parquiletes, sob a desculpa de serem "mais espaços para se sentar", mas a verdade é que a burguesia de chinelos gosta de brincar de ser "americano", criando aquele clima "Route 66" que faz seus indivíduos cantarem "Uouin' at the Ribo", versão balbuciada de "Proud Mary" do Creedence Clearwater Revival.

Os niteroienses médios (que ficam "boiando" quando o assunto é a falta de rodovia própria ligando Rio do Ouro e Várzea das Moças, condenando a RJ-106 a fazer o papel de "avenida de bairro"), acham que os parquiletes, apesar de anunciados como "instalações temporárias", vieram para ficar, julgando que se tratam de "espaços de lazer para a sociedade".

Seguindo a lógica da burguesia enrustida, essa classe tenta romper os limites do tempo e do espaço. Seus ídolos, de "médiuns" a funqueiros, são "cidadãos do mundo", quando na verdade são meros astros provincianos girando na órbita dessa elite presunçosa. A gíria "balada", que deveria ser provisória e ter caído em desuso há 20 anos e é um jargão da Faria Lima ligado a drogas, virou "gíria acima dos tempos e das tribos", tendo até um esquema de marketing próprio na grande mídia.

A burguesia de chinelos tenta, com isso e com absurdos como os parquiletes, se impor como uma elite privada que tenta interferir no público. Uma elite, que sempre foi privatista e torcia para que empresas públicas tivessem a privatização concluída nos anos 1990, hoje adora as verbas públicas de Lula, o que parece estranho se não fosse um motivo simples: com as verbas públicas, sobra mais grana para a elite do bom atraso investir no seu entretenimento consumista.

E aí vemos que, no caso de Niterói, os parquiletes - monstrengos arquitetônicos que se impõem como "eternos" - não passam de uma resposta terrestre e supérflua ao antigo Trampolim de Icaraí, que existiu entre 1941 e 1964, como uma área de lazer de garotões sarados da praia niteroiense.

Se o enferrujado Trampolim nos anos 1960 chegou a ser palco de uma tragédia e um acidente mortal em 1963 deu a sentença fatal ao monumento, hoje os parquiletes aos poucos se destinam a ser dormitórios de mendigos. Eu vi um parquilete com esse destino na Rua Maria Antônia, a mesma rua do conflito estudantil de 1968, em São Paulo.

A burguesia de chinelos não gosta de admitir isso, mas a verdade é que aquilo que entendem como "praças públicas" já começa a decair servindo de "leitos' para mendigos, e isso tende a aumentar consideravelmente até que os parquiletes se tornem, nas madrugadas, verdadeiras cracolândias. E aí esse "trampolim" da boemia dos "bacanas" de Niteroi encerrará sua trajetória de maneira dramática, depois de tanto tirarem onda de "praças públicas" para mascarar os interesses de comerciantes locais.

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