Pular para o conteúdo principal

O BRASIL ESTÁ IGNORANDO UM GRANDE LIVRO SOBRE CULTURA VINTAGE

 

O pessoal anda vendo Instagram e Tik Tok demais. Andei divulgando o meu livro Devagar Quase Correndo, um importante livro sobre cultura vintage lançado originalmente em 2021 e acrescido de novos textos em 2023, e a repercussão foi praticamente nula. Culpa minha? Evidentemente, não.

Infelizmente, o mercado literário brasileiro anda muito deteriorado de tal forma que, num país em que o histórico Jornal do Brasil deixa de ter edição impressa, se gasta papel à toa com "livros para colorir", que deveriam se limitar a um serviço on line de assinatura pelo qual os interessados pagavam uma taxa e os próprios assinantes imprimissem, por conta própria, o livro comprado pela Internet.

As pessoas fogem do Conhecimento como o diabo da cruz. Por isso, cria-se uma ideia equivocada de "conhecimento" e "saber" que não passa de um engodo que mistura pseudociência, misticismo, teoria conspiratória e até profetismos baratos e catastróficos. E tudo isso é difundido por livros, periódicos e páginas da Internet que prometem "curiosidades" e não raro oferecem fake news, mesmo gozando de uma reputação que os dissocie de páginas farsantes como Terça Livre, por exemplo.

Dito isso, é assustador que os brasileiros não deem chance para ter curiosidade. Tudo é tão previsível que até a objetificação do corpo feminino faz com que a exibição obsessiva da suposta sensualidade de nomes como Geisy Arruda e, principalmente, a Mulher Melão, já nem permitem mais a imaginação masculina, tudo é "oferecido" como uma mercadoria de liquidação, mesmo. 

Se isso ocorre no imaginário sexual dos homens que, de tão afoitos, se excitam até com uma biruta de posto movimentada pelo vento, imagine então com a literatura, tratada no Brasil mais como um mecanismo de fuga e anestesia mental do que de busca de aprimoramento do saber, a ponto de nulidades como Whindersson Nunes e Pablo Marçal venderem mais livros do que novos escritores que tivessem o talento de um Machado de Assis ou Clarice Lispector, só para citar dois exemplos mais conhecidos.

Que Esses Intelectuais Pertinentes..., meu livro sobre a deterioração cultural brasileira gourmetizada por uma elite de intelectuais e jornalistas, seja alvo de boicote, vá lá. É uma situação incômoda, mas compreensível, mesmo quando surgem, nas redes sociais, dublês de críticos literários que ficam resenhando o que não leram, "adivinhando" pelo título e por uma vaga sinopse o conteúdo que, em verdade, não têm a mínima ideia do que se trata.

Mas outro livro meu, Devagar Quase Correndo, não é um livro necessariamente de críticas, mas de curiosidades. Como as que, dentro do âmbito do rock, estão sendo publicadas recentemente no Whiplash, por exemplo. No livro, tem capítulo sobre Chacrinha e Roberto Carlos, e nada de repercussão.

Este livro é uma coletânea - apesar de conter textos de várias fontes e também contar com alguns textos nunca publicados antes - , que incluem assuntos relacionados a MPB, rock, televisão, indústria fonográfica, cultura em geral. Felizmente, só no mês retrasado uma cópia foi vendida, mas mesmo assim é assustadora a resistência em relação a esse livro.

Afinal, o que o público médio acha que é "cultura vintage"? O seriado mexicano Chaves? A música "Evidências", na versão de Chitãozinho & Xororó? O Xou da Xuxa? O Ursinho Blau-Blau? O Odair José, o "Pat Boone brasileiro"? Michael Sullivan? É O Tchan?

Pelo menos o pessoal deveria sair de suas zonas de conforto e primar pela curiosidade. Brasil é culturalmente tão fechado que, até na cultura rock, houve momentos constrangedores, principalmente movidos por rádios canastronas como 89 FM (SP) e Rádio Cidade (RJ), que cometeram a insanidade de rebaixar, por um tempo, bandas seminais como AC/DC e Deep Purple a one-hit wonders, conhecidas por um único sucesso (?!) cada, respectivamente "Back in Black" e "Smoke on the Water".

Um pouco mais de leitura e garimpagem por algum conhecimento a mais do que aquele que circula nos Instagram, Tik Tok e Facebook - vamos combinar que eu não visito muito essas redes sociais porque, salvo exceções, cheiram a mofo de tanta cafonice e pieguice publicada nelas no Brasil - , deveria ser fundamental.

Espera-se que Devagar Quase Correndo não sofra da sina dos falsos críticos literários, que na sua preguiça pedante têm a mania de ficar resenhando o que não leem, de tão acostumados a ficar comentando sobre aquilo que não entendem.

Independente disso, peço que as pessoas se interessem a ler este livro que ilustra esta postagem, e que tem um linque disponível neste mesmo texto. Não vou dizer o que tem esse livro, vão lá e confiram. Suas curiosidades ficarão agradecidas e a leitura será bastante proveitosa e agradável.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BRASIL TERRIVELMENTE DOENTE

EMÍLIO SURITA FAZENDO COMENTÁRIOS HOMOFÓBICOS E JOVENS GRITANDO E SE EMBRIAGANDO DE MADRUGADA, PERTURBANDO A VIZINHANÇA. A turma do boicote, que não suporta ver textos questionadores e, mesmo em relação a textos jornalísticos, espera que se conte, em vez de fatos verídicos, estórias da Cinderela - é sério, tem muita gente assim - , não aceita que nosso Brasil esteja em crise e ainda vem com esse papo de "primeiro a gente vira Primeiro Mundo, depois a gente conversa". Vemos que o nosso Brasil está muito doente. Depois da pandemia da Covid-19, temos agora a pandemia do egoísmo, com pessoas cheias de grana consumindo que em animais afoitos, e que, nos dois planos ideológicos, a direita reacionária e a esquerda festiva, há exemplos de pura sociopatia, péssimos exemplos que ofendem e constrangem quem pensa num país com um mínimo de dignidade humana possível. Dias atrás, o radialista e apresentador do programa Pânico da Jovem Pan, Emílio Surita, fez uma atrocidade, ao investir numa

BRASIL TÓXICO

O Brasil vive um momento tóxico, em que uma elite relativamente flexível, a elite do bom atraso - na verdade, a mesma elite do atraso ressignificada para o contexto "democrático" atual - , se acha dona de tudo, seja do mundo, da verdade, do povo pobre, do bom senso, do futuro, da espécie humana e até do dinheiro público para financiar seus trabalhos e liberar suas granas pessoais para a diversão. Controlando as narrativas que têm que ser aceitas como a "verdade indiscutível", pouco importando os fatos e a realidade, essa elite brasileira que se acha "a espécie humana por excelência", a "classe social mais legal do planeta", se diz "defensora da liberdade e do humanismo" mas age como se fosse radicalmente contra isso. Embora essa elite, hoje, se acha "tão democrática" que pretende reeleger Lula, de preferência, por dez vezes seguidas, pouco importando as restrições previstas pela Constituição Federal, sob o pretexto de que some

ENCRENCAS E TURBULÊNCIAS DE UM BRASIL DEGRADADO

Enquanto o presidente Lula, para abafar sua crise política, tenta posar de "líder mundial" discursando na ONU e comandando um "movimento pela democracia" (democracia que o próprio Lula sabotou na campanha presidencial de 2022, pois ele não admitia outros concorrentes para combater o bolsonarismo), carregado de muita pieguice de causar enjoo, o Brasil, rebaixado a um parque de diversões e a um reality show  da vida real, mostra três personalidades metidas em encrencas. Deolane Bezerra, a advogada transformada em subcelebridade que é viúva de um funqueiro paulista (mas que faleceu, por acidente, no Rio de Janeiro), saiu da prisão mas está sob investigação sob acusações de envolvimento com jogos ilegais e até de supostas ligações com o PCC. O mesmo PCC também é suspeito de ser um dos elos de ligação do candidato à Prefeitura de São Paulo, o empresário e influenciador Pablo Marçal, que mais uma vez está relacionado a uma nova encrenca, após ter levado uma cadeirada do r

SÓ A BURGUESIA "ON THE ROCKS" ESTÁ COM SAUDADES DA 89 FM

THE CLEVEL BAND - Bandinha de rock de bar chique, feita por empresários e dedicada à burguesia que de vez em quando brinca de ser rebelde. Nada menos rebelde do que submeter o rock ao domínio e deleite do empresariado, esvaziando de vez a essência do gênero. E digo isso num dia posterior ao que, há 54 anos, perdemos Jimi Hendrix, um músico que praticamente reinventou o rock com seu talento peculiar de guitarrista, cantor e compositor. É vergonhoso ver que nossa cultura está sob o controle do empresariado, seja ele do entretenimento, seja da mídia e seja das empresas patrocinadoras. Estamos num cenário de deterioração cultural pior do que o que se via justamente no começo dos anos 1970 ou, mais ainda, em relação a 1964, quando a burguesia que hoje se empodera se passando por "democrática" se empenhou em derrubar João Goulart. Percebemos o quanto a Faria Lima define costumes, hábitos, crenças, gírias etc para o público jovem, que aceita tudo de bandeja como se esse culturalismo

AXÉ-MUSIC ESTÁ VELHA E DECADENTE, SIM

Recentemente, a cantora baiana Daniela Mercury declarou que a axé-music está "viva e apontando para o futuro", discordando das afirmações de que o cenário musical do Carnaval de Salvador esteja decadente. A cantora, em entrevista recente, deu a seguinte declaração: "O axé virou tudo que a gente produz na Bahia para dançar. A gente é especialista nisso no mundo, vamos sempre ser um polo de produção de cultura, arte, dança. Os artistas de outras linguagens estão indo pras nossas festas. Estamos vivos, produzindo e apontando para o futuro". Apesar da aparente boa intenção da declaração, Daniela na verdade só se refere a uma parcela da música baiana que justamente está desapegada ao contexto carnavalesco e se aproxima da herança tropicalista e das raízes culturais baianas, mas que está incluída nesse balaio de gatos que se tornou o termo axé-music, atualmente priorizado na alegria tóxica de nomes bastante comerciais. O que está relacionado, na verdade, com o "polo

PABLO MARÇAL É REFLEXO DA ALIENAÇÃO PRAGMÁTICA DO BRASIL DE HOJE

O triste fenômeno do empresário, palestrante e influenciador digital Pablo Marçal, símbolo emergente da extrema-direita pós-bolsonarista, parece sinalizar um desgaste, embora o sujeito, candidato à Prefeitura de São Paulo e virtual aspirante à Presidência da República para 2026, se torne um sério perigo para a saúde política brasileira, que não está das melhores. Num momento em que Lula se torna mascote da burguesia e esta acaba travando os debates públicos, restringindo a "democracia" brasileira a um mero parque de diversões consumista, nota-se que hoje o cenário sociopolítico é de uma grande polarização política entre lulistas e bolsolavajatistas. Com o desgaste de Jair Bolsonaro e Sérgio Moro, o bolsolavajatismo tenta ver em Pablo Marçal a esperança de um país reacionário retomar o protagonismo do inverno político de 2016-2022. Mas não é só a herança do golpismo recente que faz de Marçal uma séria ameaça para os brasileiros. Há outros motivos, também. O próprio protagonism

"ANIMAIS CONSUMISTAS" E BOLSONARISTAS QUEREM DESTRUIR SÃO PAULO

A velha ordem social que obteve o protagonismo pleno no Brasil atual, a burguesia que derrubou João Goulart e que agora, repaginada, defende até a reeleição de Lula - hoje convertido num serviçal das elites "esclarecidas" - está destruindo o país, juntamente com os bolsonaristas que não se sentem intimidados com o cenário atual. Enquanto bolsonaristas ensaiam tretas contra o colega extremo-direitista Pablo Marçal, xingado de "traidor" na manifestação do Sete de Setembro na Avenida Paulista - , e realizam incêndios no interior de São Paulo, no Centro-Oeste e no Triângulo Mineiro, os "animais consumistas" consomem dinheiro feito bestas-feras ensandecidas, realizando happy hours  até em vésperas de dias úteis e promovendo "festas de aniversário" todo fim de semana. E como a "boa" sociedade tem um apetite para fumar cigarros bastante descomunal, se solidarizando, sem querer, com as "lições" do "fisólofo" Olavo de Carvalh

GIOVANNA GOLD DENUNCIA AGRESSIVIDADE DOS CARIOCAS

O Rio de Janeiro está decadente desde os anos 1990, mas a chamada opinião pública levou anos para admitir isso. "Capital" dos "tribunais de Internet", dos blogues ofensivos, das milícias, das máfias do jogo-do-bicho e do narcotráfico, reduto de jovens reacionários que ofendem quem discorda deles, a ex-Cidade Maravilhosa parece ter esperado três décadas para despejar sua dose de vômito acumulada desde o ressentimento sofrido em 1960, por ter deixado de ser capital do Brasil. Nem o "consolo" da (con)fusão dos Estados do Rio de Janeiro e Guanabara, imposta pela ditadura militar em 1975, rebaixando a vizinha Niterói, antigo Eldorado do povo fluminense, em um balneário com jeito de roça - com direito a dois bairros vizinhos, Rio do Ouro e Várzea das Moças, que não possuem via de ligação direta entre si - , fez acalmar os ressentidos cariocas, que hoje se tornaram retrógrados e agressivos, compartilhando esse triste exemplo para o pessoal do resto do atual Grand

GOURMETIZAÇÃO DO BREGA REVELA ESTUPIDEZ DOS INTELECTUAIS "BACANAS"

Coisas de uma visão solipsista. Para quem não sabe, solipsismo é quando a pessoa concebe sua visão de mundo baseada nas suas impressões pessoais, nos seus juízos de valor e no seu nível de compreensão que, não obstante, é bastante precário.  Dito isso, dá para perceber como muita gente boa caiu nas narrativas bastante equivocadas das elites intelectuais que, compondo a parcela mais "bacana" do seu meio, defenderam a bregalização cultural sob o pretexto choroso-festivo (?!) do "combate ao preconceito" (ver meu livro Essa Elite Sem Preconceito (Mas Muito Preconceituosa)... ). Essas narrativas não correspondem à realidade. Elas se baseiam na falácia de que a bregalização cultural seria "cultura de vanguarda" apenas por uma única, vaga e nada objetiva justificativa: a suposta provocatividade e a hipotética rejeição da chamada "alta cultura", como as críticas dadas a uma imaginária elite burguesa ortodoxa que não existia sequer no colunismo social tra

ROCK IN RIO REPRESENTA O APOGEU DA ELITE DO BOM ATRASO?

O festival Rock In Rio 2024 representa o apogeu de uma ordem social que se ascendeu em 1964, se consolidou em 1974 e se repaginou nos últimos dez anos, agora convertida numa "classe legal", com ambição de dominar o mundo e substituir a espécie homo sapiens  - que muitos alegam ter sido "corrompida" por distopias existencialistas europeias - pelo homo ludicus . A sociedade identitarista, de um lado, e o empresário "bacana" da Faria Lima, de outro, representam apenas alguns dos matizes da elite do bom atraso, mais preocupada com o consumismo hedonista e o lucro financeiro, uns vendendo a alma para gastar tudo com supérfluos, outros vendo rios de dinheiro se desaguarem fácil nas suas fortunas. Isso não faz o Brasil virar um país de Primeiro Mundo, com as personalidades estrangeiras esbanjando visibilidade no nosso país. Até porque, para os privilegiados que sempre detiveram e detém as narrativas nas redes sociais e nos espaços de opinião que se autoproclama &