Que a bela atriz Maitê Proença tem seus impulsos conservadores, isso é verdade.
Mas eu não imaginava que ela, que no primeiro turno da campanha presidencial apoiou Marina Silva, fosse aderir com gosto ao bolsonarismo.
Ela é filha de um falecido desembargador da Justiça Militar, que cometeu um feminicídio - sim, Maitê é filha de uma mulher, professora, assassinada pelo marido - e deixou uma pensão vitalícia para a atriz.
Ela já era consagrada quando o pai faleceu, por suicídio, apesar de também sofrer câncer, em 1989.
Nem mesmo o baixo astral familiar, que influiu na morte de um irmão de Maitê, por alcoolismo, maneirou o conservadorismo da atriz.
Deveria ser, ao menos, um pano de fundo que produzisse uma pessoa conservadora, sim, mas longe de ser uma reacionária convicta.
O vídeo que ela gravou foi constrangedor. Uma gafe.
Maitê havia dito ideias sem pé nem cabeça, dentro do triunfalismo da causa bolsonarista. Disse ela:
"Bolsonaro não ganhou porque as pessoas querem a volta da tortura, as mulheres ganhando menos. Ele (Bolsonaro) ganhou porque ele foi autêntico, porque ele inaugurou uma forma nova. Nunca nesse país se faz campanha com a verdade, depois de tanta corrupção e roubalheira. O homem comum ele quer segurança, emprego e comida na mesa. Ele abriu mão dos direitos humanos pra ter isso. Eu não vou atirar pedras. Então, é o que temos. O povo quis assim. Vamos torcer".
"É o que temos". Triste legado de uma geração, nascida nos anos 1950 e 1960 que, salvo honráveis exceções, anda muito, muito, muito imatura.
Uma geração que, pelo menos da parte de uns elitistas, poderia nos trazer um novo Juscelino Kubitschek na centro-direita, talvez com um apetite privatista maior, é verdade, mas com alguma consciência social.
Mas não. Preferiu-se deixar, como legado, um estranho crossover de Jânio Quadros com Emílio Garrastazu Médici, a suceder o misto de José Sarney com Ernesto Geisel que até agora foi o governo Michel Temer.
Admirava Maitê Proença, achava ela lindíssima, sensual e formosa e via nela considerável talento.
Ela parecia esforçada ao se tornar escritora, colunista, autora de teatro. Parecia intelectualizada.
É certo que ela compactuou com o machismo (herança do pai feminicida) durante o governo Dilma Rousseff, e ela esteve entre as vozes que clamaram pelo impeachment.
Mas não imaginava que ela chegasse a tanto, ao asneirol de dizer que Jair Bolsonaro "ganhou porque foi autêntico e fez campanha com a verdade".
Até uma lesma reconhece que Jair Bolsonaro ganhou porque houve disparos, aliás, bombardeios de notícias falsas contra o PT e a favor do candidato do PSL.
Maitê, elitista, também não tem ideia de que o verdadeiro homem comum quer segurança, quer emprego, quer comida na mesa, sim, mas mantendo os direitos humanos, os direitos trabalhistas, as garantias sociais.
Ou será que ela desconhece que, sem direitos humanos, há o risco de nem sequer haver reunião de amigos num bar ou numa praça, no caso de ser decretado estado de sítio?
Fui informado, via Internet, que um bolsonarista negro foi detido por um policial também bolsonarista porque o cidadão tinha "aparência de traficante de droga".
Isso é só uma amostra grátis do que o anedotário popular já define como "direito de não ter direitos".
Algo que não vai atingir a filha atriz famosa do desembargador feminicida que recebe pensão vitalícia que só a obrigou a não oficializar o casamento com o empresário Paulo Marinho (desfeito há anos), para não perder o benefício.
Paulo também está alinhado ao cenário bolsonarista, aliás, é amigo pessoal do "mito". E Maitê foi cogitada para ser futura ministra do Meio-Ambiente, pasta que quase não seria criada para o governo Bolsonaro.
A composição ministerial do governo Bolsonaro anda lembrando muito bem o governo Fernando Collor, pela embalagem tecnocrática pouco verossímil e por uma escalação de celebridades por suposta especialidade de cada pasta ministerial.
E Maitê anda afinada com o cenário bolsonarista, o que a fez desafinar diante dos problemas de nosso país.
Comentários
Postar um comentário