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A CONFUSÃO VERGONHOSA ENTRE PUBLICAR E DIVULGAR LIVROS

DRAMALHÕES JUVENIS NÃO PRECISAM DE DIVULGAÇÃO PORQUE JÁ TEM SEU ESQUEMA DE SUCESSO DE VENDAS NO MAINSTREAM LITERÁRIO.

É horrível o cenário de burrice cultural em que vivemos. Culturalmente, o Brasil está devastado.

O mercado literário é um dos mais estúpidos, e não é por falta de bons autores. Eles existem, e não são poucos, mas não prevalecem senão sob o esquema da visibilidade, sobretudo conquistada no passado.

Afinal, vamos combinar que, se uma Clarice Lispector e um Fernando Morais fossem jovens e lançassem livros hoje, não teriam sequer um lugar pequeno no Sol literário.

E se George Orwell lançasse, este ano, seu 1984, seria visto como um "zé mané". No máximo, uns oportunistas da Internet vão fazendo resenha do que não leram, fazendo análise do que não sabem.

A situação é tão risível que, certa vez, testei uma pesquisa para saber como se deve divulgar um livro independente.

O que há são páginas de publicação de livros independentes, ou seja, editoras virtuais.

Publicar livros já publiquei. Tenho mais de dez livros publicados. O que eu quero é divulgar, ver quais os canais de propaganda para meus livros.

Tento publicar propagandas por conta própria, no Twitter, no Facebook, no Linkedin.

No Facebook, até alguns seguidores meus dão curtidas para minha propaganda literária. Comprar livros, que é bom, nada.

E eu tento e continuo tentando de tudo. Mas não sigo os padrões dessa cultura de lacração que passa pano na mediocridade cultural reinante.

Não vivemos um período culturalmente fértil nem positivo. Esse papo de "muitas vozes e muitas narrativas" é desculpa, porque não tem espaços nem microfones para todo mundo.

A visibilidade é seletiva. Prevalece quem é medíocre ou, quando possui algum talento, são veteranos que já gozam de visibilidade há, pelo menos, 35 ou 40 anos.

E ver que existe confusão entre divulgar e publicar um livro é gritante e, portanto, muito burra.

Há maneiras de fazer propagandas dos meus livros, mas elas custam dinheiro.

E isso não traz dificuldade aos autores de literatura anestésica, como esses modismos literários feitos para driblar qualquer busca ao Conhecimento de verdade.

São obras superficiais que nem para entretenimento saudável servem, e que vivem seus quinze minutos de fama e seis meses de sucesso estrondoso, desviando o público do verdadeiro Saber.

Num dia são estudantes vampiros, noutro biografias de cachorros com nomes de músicos de rock ou coisa parecida, num outro são draminhas de mocinhas perdidas, noutro sagas de cavaleiros medievais atormentados, noutro de diários vazios de influenciadores digitais da moda.

E ainda se tem os livros dos chamados coach administrativos, com títulos com algum palavrão.

Junto a eles, os mesmos livros de auto-ajuda de sempre, além das horrorosas "psicografias" de um tal "médium de peruca" que lançou inúteis e abomináveis 400 e tantos livros de mistificação medieval travestida de "espiritualismo".

Obras "espiritualistas" cujas "lindas lições" se baseiam nesse recado hipócrita: "Aceite sua própria desgraça sem reclamar da vida, porque assim encurtará o seu caminho para os braços de Deus".

Livros mentirosos como esses, que chegam ao ponto de carregar, antecipando as fake news de hoje em dia, nomes de famosos como Humberto de Campos, Olavo Bilac, Castro Alves e até a bela negra Auta de Souza, vendem muito e aparecem até em feiras de livros.

Já autores que realmente transmitem Conhecimento de verdade, dos quais me incluo, têm dificuldade, porque as obras que publicam não estão de acordo com o imaginário que reina absoluto no Instagram, Facebook, Twitter, WhatsApp etc.

Hoje não se exerce mais o senso crítico. Intelectual hoje é um flanelinha cultural, tem que ficar passando o pano e fingir que o Brasil é a sucursal do Paraíso na Terra.

E é isso que faz o culturalismo reinante no Brasil, extremamente decadente e devastador, ser visto como algo maravilhoso.

Problemas a resolver? Só se for as sagas distantes no tempo, no espaço e da realidade que são os livrinhos de aventuras medievais de cavaleiros atormentados.

Há a fuga da realidade, que as pessoas fazem como o diabo fugindo da cruz, na alegoria popular. Quando muito, Conhecimento só serve para provas de concurso ou do ENEM. O resto tem que ser "literatura para relaxar e entreter", desculpa para a anestesia cotidiana das massas.

Tudo no Brasil parece uma maravilha. Até que a realidade que virá, possivelmente, no imprevisível 2022, possa dar um banho de água gelada nas mentes histéricas de hoje. 

E talvez aí as pessoas possam procurar livros que tragam Conhecimento e não a fuga da realidade.

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