O negacionista factual não entendeu o texto que este blogue publicou a respeito do voto de cabresto. Deve achar que são fale news, só que não são. Chocado com a ilustração do capataz de fazenda dando papéis com o nome de Lula, o negacionista factual foi logo pedir boicote, após saltar da cadeira e dizer que “isso é um absurdo”.
Só que ele não leu o texto com atenção. As críticas a Lula foram construtivas. Sugerimos que ele, com todo o favoritismo que tenha, deveria enfrentar os outros competidores em vez de tentar passar por cima deles. Pode ser Ciro, Tarcísio, Zema, Cabo Daciolo, seja quem for. Lula não podia passar por cima dos outros candidatos para impor sua candidatura. Não existe essa coisa de “Brasil, acima de tudo, Lula acima de todos”.
A democracia tem essas regras. Não é minha opinião, são princípios que Lula destespeitou na campanha de 2022, na qual ele se recusou a enfrentar outros concorrentes diante de sua sanha em se opor apenas a Jair Bolsonaro. Corintiano convicto, Lula, ao se recusar a ir aos debates do SBT e Record, perdeu a grande oportunidade de marcar pontos no campo adversário e acabou amargando um segundo turno e uma vitória eleitoral apertada.
Para o negacionista factual, isso não importa. Ele é filho da ditadura militar e do golpismo político, por mais que ele diga que suas posições são outras e que ele defende uma “democracia responsável”. O modus operandi, no entanto, é igual aos seus antepassados cuja trajetória incluiu extermínio de indígenas, escravização de negros e articulação de golpes políticos.
O monopólio da ideia de democracia em torno de Lula é, por ironia, uma visão que se nivela ao lavajatismo, no que se refere ao atropelo das leis e obrigações legais para obter uma vantagem. A campanha presidencial de 2026 ainda nem começou e Lula já se acha acima do pleito eleitoral e se considera reeleito por antecipação. Isso não é democrático.
Mas para quem teve seus avós defendendo a “democracia” para justificar o golpe que clamaram contra João Goulart, faz sentido para o negacionista factual, mesmo em um outro contexto, apoiar uma eleição cujo vitorioso já está previamente escolhido e cujo voto está decidido com antecedência.
O negacionista factual não é necessariamente um democrata. Ele apenas “está” democrático no contexto das conveniências do momento. “Filho” do desbunde com o AI-5, ele defende o “direito” das pessoas jogarem comida fora, encherem a cara de álcool e fumarem cigarros, mas reprime o senso crítico e tem um grande apetite de cancelamento nas redes sociais.
Por isso, ele não percebe a complexidade que é a sociedade, preferindo fetichizar uma figura política como o Lula, do qual passou a apoiar há pouco tempo, mas se empolgou além da conta. Mas isso não faz do negacionista factual um primor de humanismo até porque, por outro lado, Lula virou um pelego político, namorando escondido a burguesia que diz criticar em seus discursos.
Paciência. A palavra “democracia” foi seletiva até na Antiguidade. E, no Brasil, a seletividade incluiu a República Velha e o golpe militar de 1964. Pouco antes do AI-5, a ditadura fingiu ser uma “revolução democrática” e mesmo o movimento Diretas Já acabou decidindo por uma eleição indireta.
Daí ser compreensível a atitude do negacionista factual, que não tolera atribuir a “democracia de um homem só” de Lula como um “voto de cabresto”. Ele precisa manter o faz-de-conta, achar que um voto imposto é um “voto livre” só por causa da mística que envolve uma pessoa. É um culto à personalidade não assumido.
O que o negacionista factual não admite que nem Lula pode estar acima das eleições. Teria sido melhor ele ter descido de seu pedestal para concorrer ao terceiro mandato e enfrentar concorrentes pelo debate de ideias. Da forma como fez a campanha de 2022, Lula foi bastante constrangedor e, por isso, só empolgou mesmo a burguesia ilustrada que se acha a “espécie humana mais legal do planeta” e pensa ser “mais povo que o povo”.
E aí, nessa “democracia” de poucos e abastados, temos que fingir que a burguesia ilustrada é o povo pobre e a “democracia de um homem só” de Lula é um fenômeno “plural”, com eleições sem concorrência para um governo que promete colheita sem plantação, reconstrução com festa e nenhum canteiro de obra e “recordes históricos” surgidos da noite para o dia, como que num estalo. Se a gente contestar o negacionista factual tem chilique.
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