Recentemente, a cantora baiana Daniela Mercury declarou que a axé-music está "viva e apontando para o futuro", discordando das afirmações de que o cenário musical do Carnaval de Salvador esteja decadente. A cantora, em entrevista recente, deu a seguinte declaração:
"O axé virou tudo que a gente produz na Bahia para dançar. A gente é especialista nisso no mundo, vamos sempre ser um polo de produção de cultura, arte, dança. Os artistas de outras linguagens estão indo pras nossas festas. Estamos vivos, produzindo e apontando para o futuro".
Apesar da aparente boa intenção da declaração, Daniela na verdade só se refere a uma parcela da música baiana que justamente está desapegada ao contexto carnavalesco e se aproxima da herança tropicalista e das raízes culturais baianas, mas que está incluída nesse balaio de gatos que se tornou o termo axé-music, atualmente priorizado na alegria tóxica de nomes bastante comerciais.
O que está relacionado, na verdade, com o "polo de produção de cultura, arte, dança" e "aponta para o futuro" são nomes como Carlinhos Brown, Gerônimo, Lazzo, Margareth Menezes, Olodum e Ilê Ayiê, herdeiros dos ventos culturais trazidos por Caetano Veloso e Gilberto Gil quando lideravam o Tropicalismo, nos anos 1960.
Mas não podemos incluir a banda podre da axé-music, que é tão mofada que soa antiga após seis meses de sucesso. Mesmo os exaltados Ivete Sangalo e Luís Caldas estão nesse triste embalo, soando musicalmente datados e perdidos. Mas em pior situação está o canastrão Bell Marques, que deveria urgentemente se aposentar por não ter mais o que fazer de útil - o cantor ainda tem o agravante de ser incapaz de fazer um jingle - , seu BFF igualmente decadente Durval Lélis e o horrendo "pagodão" baiano.
Puxado por grupos como É O Tchan, Companhia do Pagode, Gang do Samba, Terra Samba e Harmonia do Samba, o "pagodão" baiano leva a alegria tóxica da axé-music para as dimensões da positividade tóxica do Instagram, enquanto, por baixo dos panos, letras machistas e a erotização das dançarinas ocorrem no embalo de lemas como "tapa na cara, mamãe", "é na madeirada, toma, toma" etc.
Mas se até o horripilante É O Tchan já vem com versos com apologia ao estupro e estimulam abertamente a sexualização das crianças, então não dá para concordar com Daniela Mercury. Infelizmente, a axé-music é esse cenário dominado pela canastrice musical de Bell Marques e pela positividade tóxica do É O Tchan.
Se é isso que "aponta para o futuro", então temos que dar razão para a NASA quando fala que o Brasil só tem cinquenta anos de existência. Tuvalu não está sozinho na sua trágica sina.
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