Pular para o conteúdo principal

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A MÚSICA BRASILEIRA?

MARIA BETHÂNIA É TALENTOSA, MAS ESTÁ FICANDO BASTANTE REPETITIVA.

O que está acontecendo com a MPB autêntica? Ela está ficando autorreverente, com excesso de homenagens e tributos que dão calafrios, porque dão a impressão de despedida, de fim da MPB, que em breve poderá entregar os pontos ao mais escancarado comercialismo musical brasileiro.

Isso é de arrancar os cabelos. Os talentosos artistas da MPB verdadeira - aquela que não depende de plateias lotadas para ser bem-sucedida, é MPB com M de música maiúsculo - se perdem revisitando repertórios, fazendo tributos intermináveis, em vez de fazer algo novo, que atingisse o grande público sem se vender para a breguice disponível no caminho.

Enquanto o brega-popularesco fica superlotado de intérpretes, com um verdadeiro exército de duplas "sertanejas", funqueiros, axézeiros, "pagodeiros" e tudo o mais, tantos ídolos e tão iguais uns aos outros que, quando um se desgasta, o outro entra no lugar, a MPB parece cantar para o próprio umbigo, feliz na sua humilhante condição de estar envelhecida e repetitiva.

Passando, certa vez, pela rodovia RJ-104, descendo a Av. Capitão Juvenal Figueiredo (nenhum parentesco comigo), no Colubandê, vejo cartazes de funqueiros, "pagodeiros" e outras armações comerciais (sim, existem armações comerciais no Brasil), o que dá uma impressão de que a chamada "música das classes populares" simplesmente se privatizou.

Afinal, não temos mais grandes artistas genuínos vindos das favelas, roças, cortiços, sertões e agrestes. O que se entende como "artistas populares" não passam de mercadorias humanas lançadas por espertos e ricos empresários do entretenimento, que só são "pobretões" na imaginação fértil da moçada "sem preconceito", mas bastante preconceituosa, dos intelectuais "bacanas".

Temos o comercialismo voraz dos brega-popularescos atingindo mais e mais mercados, de tal forma que os mais jovens correm o risco de não saberem mais o que é MPB. E aí, eles serão iludidos e enganados por esses "provocativos" intelectuais "bacanas" que têm a coragem (ou a covardia) de invadir a mídia esquerdista para dizer que "é tão bom" o folclore sucumbir ao "livre mercado".

A MPB, que poderia ser um foco de resistência e ação, se recolhe, medrosa, para a mania de tributos e homenagens intermináveis. Eventualmente, seus artistas compactuam com o brega-popularesco, se rendem ao inimigo como carneirinhos condescendentes. Não há uma resistência, um movimento que busque livrar a música brasileira do empastelamento, da caricatura.

Os emepebistas parecem felizes quando são acuados no mercado, enquanto brega-popularescos tentam ganhar o tempo e alugam produtores, arranjadores, iluminadores de palcos e até assessores de imprensa para "melhorarem sua imagem" enquanto fazem uma "MPB de mentirinha" falsamente "de qualidade".

A cada ano uma avalanche de ídolos brega-popularescos é lançada, porque os riquíssimos empresários do entretenimento popularesco - que, repito, só são "pobres" nas mentes lunáticas de antropólogos, jornalistas culturais, cineastas e outros comprometidos com a bregalização - jogam muito dinheiro, tanto para lançar "novos talentos (sic)", quanto para evitar que os existentes caiam no ostracismo.

É muito triste. Nosso rico patrimônio musical é estuprado por uma gigantesca multidão de ídolos "populares" que são fetiches em vez de artistas, mercadorias em vez de valores, feitos apenas para botar sucessos nas FMs "populares" controladas por oligarquias  nacionais e regionais (sim, existem "barões da mídia" regionais), mas depois para tirar onda com o passar do tempo.

É constrangedor ver esses ídolos, quando passam cinco, dez, quinze anos, quererem entrar no primeiro escalão da MPB assim no mole, só porque fizeram sucessos ininterruptos nas rádios e TVs, e acham que podem fazer uma cosmética musical qualquer para parecerem "genuinamente artísticos".

E até os neo-bregas, os bregas veteranos mais pretensiosos que vieram nos anos 80 e 90, já estão embarcando na cauda do cometa das homenagens intermináveis da MPB e estão também fazendo seus "tributos" caça-níqueis, se passando por "sofisticados" e de "altíssimo nível".

É terrível. E ver que nossa intelectualidade presta um péssimo serviço usando a choradeira do "preconceito"! Eles, que se dizem "sem qualquer tipo de preconceito", expressam o mais cruel, o mais perverso e o mais descarado preconceito de aceitar qualquer porcaria só porque faz sucesso e vende feito bala em escola de jardim de infância.

Eles, que poderiam zelar pela verdadeira música brasileira, preferem cultuar fetiches e fazer etnografia barata com os listões de rádios FM "populares", mal disfarçando sua intenção sensacionalista de beijar na boca do mercado e tentar desmentir isso com seu coitadismo acadêmico, jornalístico ou cinematográfico.

Enquanto isso, nossa cultura musical anda minguando. A situação é catastrófica. Os brega-popularescos aumentando em quantidades industriais, criando um inchamento que impulsiona a invasão de outros mercados, para um domínio totalitário e castrador. Enquanto isso, a MPB se deixa decair homenageando a si mesma, sem se renovar nem adotar uma postura firme e forte. Triste.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul