MICHAEL JACKSON EM SUA DERRADEIRA APARIÇÃO, EM 24 DE JUNHO DE 2009.
O viralatismo cultural enrustido, aquele que ultrapassa os limites do noticiário político que carateriza o “jornalismo da OTAN” - corrente de compreensão político-cultural, fundamentada num “culturalismo sem cultura”, que contamina as esquerdas médias abduzidas pela mídia patronal - , tem desses milagres.
O que a Faria Lima planeja em seus escritórios em Pinheiros e Itaim Bibi (nada contra esses bairros, eu particularmente gosto deles em si, só não curto as ricas elites da grana farta) acaba, com uma logística publicitária engenhosa, fazendo valer não só nas areias do Recreio dos Bandeirantes, mas também nos redutos descolados de Recife, Fortaleza e até Macapá. Vide, por exemplo, a gíria “balada”, jargão de jovens ricos da Faria Lima para uma rodada de drogas alucinógenas.
Pois a “novidade” trazida pelos farialimeiros que moldam o comportamento da sociedade brasileira através da burguesia ilustrada, é a “ressurreição” do cantor Michael Jackson, ultimamente “em alta” nas redes sociais. Falecido há 16 anos, o “Rei do Pop” parece ser requentado como um suposto gênio, um guru visionário e até um pretenso roqueiro.
A “reabilitação” não traz, em verdade, algo realmente novo, mas recicla o sucesso de, pelo menos, uns três sucessos do milionário álbum Thriller, de 1982: “Billie Jean”, a própria canção “Thriller” e a forçadamente roqueira “Beat It”. Ou seja, velhos sucessos requentados para a comunidade woke curtir, sob o falso rótulo de “vanguarda”.
Lembremos que Michael Jackson nunca foi roqueiro e que seu envolvimento com o rock, além de puramente fake, foi por motivação tóxica, pela vergonha dele ser negro e pela obsessão em fazer parte do mundo dos brancos. Portanto, foi um grande forçamento de barra (forçação não existe; favor não insistir) e cujos resultados foram constrangedores quanto aos mínimos requisitos de um repertório de canções de rock.
A “reabilitação” de Michael Jackson no Brasil ocorre até como que num processo de merchandising. Michael “aparece” como um suposto enfermo de vitiligo (na verdade, o embranquecimento foi fruto de ingestão de remédios que, mais tarde, abreviaram a vida do cantor)), como um famoso mencionado em páginas de ateus (?!) e até numa exposição de rock (?!?!) num shopping de São Paulo.
Até parece que alguém está investindo pesado para vender o mito de Michael Jackson para os brasileiros. Sobretudo se considerarmos que a glorificação do cantor não condiz com a realidade porque o ídolo estava decadente e soava ultrapassado nos EUA, apesar de ter inspirado a quase totalidade do pop juvenil dos últimos 35 anos. Ou seja, se existem Beyoncé Knowles, Backstreet Boys, Bruno Mars e até BTS, isso se deve a Michael Jackson.
Michael Jackson até soa datado e velho. Mas o que é ser datado para uma sociedade já atrasada como o Brasil, que não consegue enxergar pieguice no misticismo cafona e abertamente piegas que é, por exemplo, o Espiritismo brasileiro? O som de Michael Jackson nem de longe pode ser considerado vanguarda, pois já soa como um pop dançante com cheiro de mofo do começo dos anos 1980 e um pretensiosismo sonoro que só é “contemporâneo” porque o próprio pop de hoje é confuso e datado, mais preocupado com coreografia e factoides do que da música.
Só mesmo o provincianismo da Faria Lima para promover essa onda de supervalorização de Michael Jackson, uma tendência “bem brasileira”, uma vez que o finado cantor estava vivendo como uma subcelebridade nos últimos anos de vida. Portanto, a reputação de “gênio absoluto” de Michael só vale em território brasileiro, pelas mãos de algum representante de copyright atuante em nosso país, capaz de espalhar as fale news que inventam do cantor qualidades que ele nunca teve, como roqueiro, pesquisador cultural, ativista político e até ateu.
Chega-se a falar muita besteira em prol de Michael Jackson, como se ele fosse o mais revolucionário artista do mundo. Nunca foi. E de repente Michael, que no seu país de origem era mais um personagem de factoides e acusado de abusar de menores, somente no Brasil ou, talvez, em algumas pequenas bolhas sociais em alguns países latinos, é considerado "gênio" sem um pingo de fundamento, com declarações de fãs e adeptos motivadas pela emoção.
E aí vemos que há executivos brasileiros investindo em Michael Jackson, de forma tão patética que apenas seus principais hits são requentados o tempo todo, como aquele café com prazo de validade vencido que é requentado várias vezes.
Só mesmo um Brasil vira-lata para achar Michael Jackson o "gênio absoluto", quando no país de origem ele foi uma estrela cadente, um artista razoável que foi tragado pelo pretensiosismo e pela vergonha de ser negro, além de, como um pretenso roqueiro, soar como um verdadeiro canastrão e um peixe fora d'água ao mesmo tempo. Michael Jackson é o retrato do viralatismo cultural enrustido da sociedade hipermidiatizada e hipermercantilizada que é o Brasil de hoje.
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