PADRES JESUÍTAS JOSÉ DE ANCHIETA (DE JOELHOS) E, PRINCIPALMENTE, MANUEL DA NÓBREGA, AQUI RETRATADOS PELO PINTOR BENEDITO CALIXTO EM OBRA DE 1927, FORAM ADOTADOS PELO ESPIRITISMO BRASILEIRO, CONFIRMANDO SER UMA RELIGIÃO FUNDAMENTADA PELO CATOLICISMO DA IDADE MÉDIA.
Por muita sorte, o Brasil é um país atrasado e que, por isso, vê em fenômenos como a bregalização cultural como “vanguarda”, uma ideia sem um pingo de lógica e só serve para atestar a ignorância sistêmica e solipsista do brasileiro médio. Por sorte é que o desconhecimento geral das coisas faz com que tudo que é, na verdade, velho, soa “novo”, desde o bolsonarismo até a pintura padronizada nos ônibus. Não é porque tais coisas são novidades, elas é que não são conhecidas pelo público médio.
Uma religião que envelhece mal é, por incrível que pareça, o Espiritismo brasileiro. Na verdade, a forma que o dito “kardecismo” surgiu no Brasil, com traições doutrinárias graves contra Allan Kardec, revela que essa religião nunca passou de uma atualização do antigo Catolicismo medieval português, que prevaleceu no período colonial. A influência de jesuítas é bem maior do que a do próprio Kardec, que é apenas apreciado na superfície.
Tudo no Espiritismo brasileiro é ultraconservador. Seus sacerdotes, autoproclamados "médiuns", foram e são conhecidos pelo visual cafona, pelas ideias obscurantistas marcadas pela Teologia do Sofrimento, a corrente mais radical do Catolicismo da Idade Média e que pauta os valores "espíritas" muito mais do que a Codificação da Doutrina Espírita francesa.
Mesmo a ideia de progresso espiritual é fundamentada num moralismo punitivista, na culpabilização da vítima e na própria censura aos oprimidos, aconselhados a "nunca reclamar" das desgraças sofridas, mesmo que elas sejam acumuladas, intensificadas e incessantes. Esse lado sombrio é mascarado por uma fachada que engana muita gente boa, pois o Espiritismo brasileiro consegue ludibriar com seu aparato de "sabedoria, simplicidade e despretensão".
Embora utilize, com relativo êxito, o apelo midiático da dramaturgia, com filmes usando títulos simples como "nosso lar" e "a viagem", o Espiritismo brasileiro não é muito criativo na sua propaganda, o que mostra seu caráter velho e mofado, como uma religião completamente antiquada e ultrapassada, que mal consegue convencer com seu falso futurismo.
Seus pregadores, quando muito, apresentam uma estética visual dos anos 1970, e suas ideias apresentam um forte igrejismo católico-medieval, mesmo quando tentam desmentir essa "catolicização". Vários pregadores "espíritas" apelaram e apelam para a hipocrisia, criticando a "catolicização" dos outros como alguém que fala mal do argueiro dos olhos alheios e ignora as traves dos próprios olhos.
Houve quem atribuísse, de maneira patética, a deturpação do Espiritismo brasileiro à extorsão financeira das igrejas neopentecostais. E os "espíritas" brasileiros falam dos "inimigos internos" de forma tão caricatural que parecem mais inimigos externos e distantes, como os estereótipos que misturam o Corcunda de Notre-Dame e o personagem Mr. Burns de Os Simpsons.
As obras "mediúnicas" são atividades forjadas e vindas da imaginação dos "médiuns", obras tão farsantes que só servem como propaganda religiosa que, frequentemente, destoam das personalidades originais dos autores mortos alegados. Os nomes dos mortos, em afronta aos ensinamentos originais de Kardec, são usados apenas como "gancho" para forçar a legitimação do moralismo retrógrado defendido pelos "médiuns", que até no juízo de valor severo conseguem disfarçar com uma retórica dócil e suave.
A religião "espírita" foi uma das patrocinadas pela ditadura militar para combater a Teologia da Libertação, corrente da Igreja Católica que atuava como grande força oposicionista ao poder ditatorial, organizando a mobilização popular e denunciando a repressão para órgãos internacionais de direitos humanos. O humanismo de fachada dos "espíritas" seria uma forma de desviar a atenção e confundir as pessoas mais ingênuas.
O Espiritismo brasileiro envelhece mal porque não consegue obter o aparato de modernidade das seitas neopentecostais. Sem um método criativo de persuasão, o Espiritismo brasileiro, mesmo quando faz sucesso com seus filmes e novelas, fica apenas dentro de sua bolha de seguidores, identificados com o velho moralismo piegas e cafona de seus enredos, presos em algum padrão de enredos novelescos da TV dos anos 1970.
A religião "espírita" perdeu seguidores ao longo dos últimos anos por conta das revelações que se multiplicam na Internet e que tentam reverter a síndrome de Estocolmo que setores sociais considerados arrojados, como roqueiros, ateus, esquerdistas e até atrizes sensuais, manifestaram em torno do "médium da peruca" de Uberaba, que na verdade foi uma das figuras mais reacionárias de toda a história da religiosidade brasileira e um dos mais radicais defensores da ditadura militar.
Até a ideia de "Pátria do Evangelho" é muito perigosa, pois reflete o desejo apressado do Brasil exercer supremacia no mundo, pois nosso país está culturalmente precarizado e a supremacia só beneficiaria uma elite de privilegiados dotada de ambição, megalomania e pedantismo, a elite do bom atraso que domina as narrativas nas redes sociais e dita o padrão de "opinião pública" a prevalecer dentro do sistema de valores em vigor há pelo menos 50 anos, nas formas contemporâneas que hoje vemos.
Por isso mesmo, o Espiritismo brasileiro só não cai porque a sociedade brasileira se encontra num atraso retumbante, por conta de um culturalismo vira-lata nunca assumido, pois quase toda a sujeira bregalizante e obscurantista é jogada para debaixo do tapete, só deixando à mostra o "culturalismo sem cultura" nos padrões do "jornalismo da OTAN".
Daí que o Espiritismo brasileiro, bem mais do que as seitas neopentecostais, representa o atraso e o obscurantismo travestido de "modernidade", e só quem é ingênuo e incauto não percebe o forte cheiro de bolor dos paletós e camisetas dos "médiuns" e suas ideias que só fariam sentido no século 12. Para quem acha que canções bregas como "Evidências" são "vanguarda", até fruta podre representa o "novo". Assim não há como botar o Brasil no Primeiro Mundo.
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