Pular para o conteúdo principal

PAULO RICARDO APRESENTA O ROCK BRASIL E OS ANOS 80 PARA HOMENS DE 60 E TANTOS ANOS

PAULO RICARDO E CLEMENTE, DOS INOCENTES E DA PLEBE RUDE - A turma do baixista do RPM não vive nos tempos de Jacinto de Thormes.

Recentemente, um empresário de 63 anos, pai de uma ex-tenista, foi ver uma apresentação do cantor Paulo Ricardo ao lado de sua jovem esposa de 42 anos, atriz e ativista.

O baixista do RPM é conhecido por ser o "único" artista dos anos 80 que conhecidos empresários ou médicos, casados com atrizes, ex-modelos ou apresentadoras bem mais jovens, aceitam entrar em contato.

Esses homens, grisalhos e de comportamento sisudo, estão sendo obrigados, pelas circunstâncias, a se inventarem.

Têm que pegar emprestado até a coleção de CDs de seus filhos.

Até pouco tempo atrás, esses senhores nascidos entre 1950 e 1954 - há um publicitário e apresentador de TV que nasceu em 1955 - comemoraram 50 anos de idade achando que obtiveram uma bagagem de vida de senhores de 75 anos.

Um tentava se achar expert em jazz dos anos 1950, sem ter 1% da especialização de um Luiz Orlando Carneiro, conhecido estudioso do gênero que escreve no Jornal do Brasil.

Outro citava João Guimarães Rosa em uma entrevista e, em outra ocasião, entrava em contato com um amigo do pintor Pablo Picasso como se tivesse vivido os tempos do pintor espanhol.

Há também um economista de 60 e tantos anos mostrando antigas vinícolas da França, como se vivesse ainda na Belle Époque francesa do século XIX.

Homens nascidos nos anos 1950 com o velho cacoete de se apropriarem do passado.

Deram a falsa impressão de que conviveram com Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues e Sérgio Porto, acompanharam Tom Jobim nos primeiros sucessos musicais, conheceram a revista Senhor e assistiram a uma apresentação de Glenn Miller (que no entanto morreu antes deles nascerem).

Isso na casa dos 50, 55 anos, até no começo dos 50. Que mostram que a meia-idade é uma espécie de versão infantil da velhice.

Eles até evitaram evocar Elvis Presley e os Beatles, ignorando que os nascidos em 1953 e 1954 ainda eram bebês quando Bill Haley and the Comets abriram as portas para o rock.

Mas aí, advertidos de que não eram tão idosos quanto imaginavam devido aos cabelos grisalhos ou brancos, esses homens tiveram que recuar.

Não passam de uns eternos trintões que se ascenderam profissionalmente nos anos 1980.

Década que renegam por achá-las "infantis" e voltadas para a "juventude irresponsável".

Alguns deles tiveram que consolar pela desilusão da pressa em ser maduros indo ver Paulo Ricardo se apresentar.

Embora Paulo Ricardo não seja considerado um artista "difícil", ele é um músico experiente, foi um dedicado jornalista musical com muitos conhecimentos obtidos e possui muitos contatos no Rock Brasil.

Ele teve um bom trânsito no cenário pós-punk paulistano nos anos 1980. Cantou "Agora Eu Sei" com o vocalista Guilherme Isnard no Zero, sendo este cantor ex-membro do arrojado Voluntários da Pátria.

O RPM teve como baterista o conhecido Charles Gavin, que, fora esta experiência, realizou o caminho inverso de André Jung entre o Ira! e os Titãs.

Assim como o círculo social dos Beatles envolveu até integrantes do Deep Purple e Led Zeppelin e o guitarrista Jimi Hendrix, o círculo social de Paulo Ricardo incluiu até nomes associados ao punk brasileiro.

Paulo chegou a ser desafeto de Renato Russo, na Legião Urbana, com o qual trocaram desaforos num debate sobre o Rock Brasil. Mas depois fizeram as pazes e, tornando-se amigos, gravaram uma versão orquestrada e acústica de "A Cruz e a Espada", do RPM, com Renato já no final da vida.

Os Beatles não estavam isolados cercados de standards musicais dos anos 1950 por todos os lados.

Paulo Ricardo não vive isolado cercado de crooners de piano-bar por todos os lados.

A vida em torno deles é um mundo de roqueiros geralmente associados a um público visto pelos "coroas" como "irresponsável" e "infantil".

Uma grande desilusão para senhores sessentões que ainda buscavam sentido na vida se fantasiando com os cenários granfinos dos filmes de Hollywood dos anos 1940 e 1950.

Saindo da órbita do hi-so, esses senhores começam a perceber que o mundo não é uma coluna de Jacinto de Thormes nem de Imbrahim Sued. Que não dá para ficar vestindo ternos e calçando sapatos de verniz o tempo inteiro.

Hoje eles veem Paulo Ricardo se apresentando. Na próxima, serão os Titãs.

A gente vê esses senhores no próximo Lollapalooza Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin