A BURGUESIA DE CHINELOS ACHA BARATO ALUGUEL DE CASA POR R$ 2 MIL.
Vivemos a supremacia de uma elite enrustida que, no Brasil, monopoliza as formas de ver e interpretar a realidade. A ilusão de que, tendo muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais dos quais umas centenas concordam com quase tudo, além de uma habilidade de criar uma narrativa organizada que faz qualquer besteira surreal soar uma pretensa verdade, faz da burguesia brasileira uma classe que impõe suas visões de mundo por se achar a "mais legal do planeta".
Com isso, grandes distorções na interpretação da realidade acabam prevalecendo, mais pelo efeito manada do que por qualquer sentido lógico. "Lógica " é apenas uma aparência, ou melhor, um simulacro permitido pela organização das narrativas que, por sorte, fabricam sentido e ganham um aspecto de falsa coerência realista.
Por isso, até quando se fala em salários e preços, a burguesia ilustrada brasileira, que se fantasia de "gente simples" e se espalha dentro do povo em geral, apresenta sua inconsistência, o que poucos percebem por conta da linearidade das palavras e argumentos. Aliás, a burguesia ilustrada adora argumentar e criar desculpas, daí a farta presença de "isentões" nas redes sociais.
Mesmo quando verdadeiras insanidades interpretativas ocorrem, a "boa" sociedade estufa o peito por achar que só ela tem a visão objetiva da realidade. Vide o fato de acharem que um aumento salarial pífio de cerca de R$ 90 por ano ser uma "fartura", enquanto vai para a cama tranquilo por causa das "verbas para emendas parlamentares" - nome "científico" para compra de votos do Congresso Nacional - , vistas como "gorjetas" do governo Lula para cada parlamentar, deputado ou senador, que votar a favor do presidente.
Nessa visão torta dos "isentões" de plantão, aluguel a R$ 2 mil é "barato", assim como "de baixo custo" são o almoço de R$ 30, a bebida láctea de R$ 14, a passagem de ônibus de R$ 5. Para quem ganha mais de R$ 10 mil reais - estamos falando dos mais "modestos" - e se acha "pobre" porque paga IPVA, toda carestia parece barata.
Falamos nisso por conta da lorota da "cidade barata" de Uberaba, farsa desmontada com exclusividade por nosso blogue, que acabou atraindo muita gente e alavancou o turismo dessa cidade que é um dos maiores centros de poder coronelista do Brasil e que, pelo menos até Jair Bolsonaro virar "vidraça", foi um dos maiores redutos bolsonaristas do país.
A mentira acabou causando euforia, mas quem acabou visitando Uberaba - marcada pelo turismo religioso em torno de um charlatão de ideias medievais que foi uma das personalidades que mais defenderam e até colaboraram com a ditadura militar de 1964-1985 - foi a própria burguesia e suas "melhores famílias", que puderam conferir o "baixo custo" dos produtos e serviços da cidade do Triângulo Mineiro.
Na verdade, essa mentira de "quarta cidade mais barata do país", um título que soa mais sensacionalista do que realista, atribuída a Uberaba mostra o quanto nossas elites, quando querem mentir, capricham nas narrativas. O que pesa também nesse processo é o ponto de vista etnocêntrico dessa "boa" sociedade que agora tenta conduzir a "democracia" para seus interesses, infelizmente sob os sorrisos de aprovação de um Lula tornado pelego e amigo da Faria Lima.
Os visitantes de Uberaba, empolgados com a simpática mentira trazida sem a menor fundamentação de argumentos, eram de classes abastadas, os mesmos turistas cheios de dinheiro e os mesmos burgueses do interior em busca de "eldorados" para construir uma vida nova. Nada de incels, camponeses, sem-teto, proletários e outros "sem chão" que, certamente, não teriam a mesma sorte, até porque a farsa da "cidade mais barata" só funciona para quem tem dinheiro demais no bolso.
Daí vemos que o sentido de "barato" e "baixo custo" depende do ponto de vista. Para quem ganha muito dinheiro, até um quilo de charque a R$ 45 custa "barato". Quem pode pagar uma diária num hotel cinco estrelas acha aluguel de R$ 2 mil "barato", acha taxa de condomínio de R$ 500 de "baixo custo". Paga um almoço farto de R$ 35 num restaurante da moda e ainda joga boa parte da comida no lixo, atitude típica desse cinismo burguês.
É por isso que nosso Brasil sofre por conta da supremacia da burguesia de chinelos, uma elite invisível a olho nu, dos descendentes das famílias raivosas que pediram o golpe de 1964. Agora, com o Brasil "construído" para seus netinhos em diversas etapas - períodos dos governos Geisel, Sarney, Collor e FHC - , esses descendentes agora se acham no luxo de serem "democráticos" e se julgarem "tudo de bom" e, de vez em quando, bancarem o tipo "gente como a gente" através de atitudes frívolas ou grotescas.
Diante dessa farra da elite que se acha "mais povo que o povo", quem paga caro é quem está de fora dessa "festa democrática" do Brasil-Instagram.
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