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O DESRESPEITO PÓSTUMO A MARIELLE FRANCO


Não bastasse a brutalidade da tragédia que atingiu a vereadora e ativista social Marielle Franco, seu nome é hoje sujeito a leviandades póstumas diversas.

Ela vai desde o oportunismo de Michel Temer em usá-la para a defesa do temeroso governante da intervenção militar até as fake news que chegaram a associar a parlamentar ao crime organizado.

No caso da intervenção, Temer se esqueceu que Marielle foi uma das críticas mais severas da medida, pois ela afirmava que isso prejudicava a população.

No caso das fake news, uma desembargadora, Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, acusou Marielle de ter se "engajado" com o Comando Vermelho.

Mentira sem tamanho. Afinal, Marielle estava engajada, sim, com os movimentos sociais, com os trabalhadores, negros, mulheres, a sociedade LGBT e até os bons policiais, porque nem todos os policiais são corruptos.

O PSOL entrou em processo por calúnia e difamação contra a magistrada.

A desembargadora é apenas mais um personagem dessa "maré reacionária" que não tem medo de ofender as pessoas.

Marielle é tratada como um pretenso troféu do moralismo hipócrita da mídia venal.

Afinal, a vereadora foi vítima das condições psicológicas e morais que motivaram o golpe político de 2016 e abriram caminho para ações vingativas e criminosas diversas.

A mídia venal, de forma indireta, contribuiu para a morte de Marielle.

Só faltavam os dois carros, que perseguiram o veículo que conduziu a parlamentar, após um evento de debates, terem formato de "patos amarelos", porque estava perto disso.

O Movimento Brasil Livre, ou seja, o Movimento Me Livre do Brasil, e o coronel aposentado da PM, deputado Alberto Fraga (DEM-DF), da "bancada da bala", se empenham em desmoralizar a parlamentar e ativista.

Eles poderiam até discordar do nível de comoção da tragédia ou mesmo das bandeiras de luta da vereadora, de um plano ideológico oposto ao deles.

Mas não podiam ofendê-la, como andam fazendo, espalhando muitas mentiras, extremamente grosseiras e que alimentaram a mentira da desembargadora Marília, que depois confessou nunca ter ouvido falar de Marielle.

Alberto Fraga, que preside o DEM no Distrito Federal, também usou a mentira de que a vereadora era ligada ao Comando Vermelho.

Tanto Alberto Fraga quanto o MBL tiveram milhares de curtidas. O MBL chegou a ter mais de 38 mil.

Isso é terrível e mostra o quanto as mídias sociais se tornaram um antro de reacionarismo e estupidez. Falam muito que isso ocorre no Facebook, mas isso vem desde os tempos do Orkut.

Quanto à Marielle Franco, o pior ainda vem de uma religião hipócrita chamada espiritismo, que desvirtuou da doutrina original francesa e hoje virou a religião neomedieval que faz apologia à desgraça humana.

Abandonei com gosto esse espiritismo igrejista que está aí, do qual outro Franco, este pseudo-ativista, condenou até a ideologia de gênero (Marielle, que era lésbica, não iria gostar) e defendeu o golpismo político e a ditadura de toga.

Eu não vou retratar e correr chorando para os braços desses tais "médiuns" porque vi o quanto essa religião é movida de muitas mentiras, caridade de fachada e moralismo ultraconservador.

Essa religião deve armar uma mensagem fake atribuída a Marielle Franco, com aquele mesmo apelo estranho de propaganda religiosa.

Desde que, em 1932, uma antologia fake atribuída a vários poetas, com o risível nome de "Parnaso" num tempo em que o Parnasianismo já estava ultrapassado, abriu precedente para essa "fábrica de mensagens fake", tidas como "mediúnicas", a que se reduziu esse "espiritismo à brasileira".

O responsável dessa armação literária é até hoje tido como "homem mais bondoso do mundo" pela mídia venal, para promover comercialmente a idolatria religiosa.

Esse oportunista religioso, tido como "médium", ainda usurpou o nome de Humberto de Campos, para se vingar, segundo informam várias páginas na Internet, de uma resenha cheia de ironias do antigo escritor e membro da Academia Brasileira de Letras.

E aí deu no que deu: o Humberto de Campos fake segue livre, leve e solto nas livrarias, enquanto o Humberto de Campos verdadeiro desapareceu do mercado literário faz tempo.

Segundo muitos falam, ser "médium espírita" é como ser "tucano", no que diz a blindagem e à impunidade, só que com uma dose a mais de popularidade.

Muitos mortos foram vítimas dessas pseudografias: Raul Seixas, Ayrton Senna, Tancredo Neves, Getúlio Vargas, Eça de Queiroz, Júlio Verne, Leila Lopes, a poetisa potiguar Auta de Souza, Daniella Perez, e o que vier na moda.

Essas obras são sempre de acordo com o que disse o ex-jornalista de Realidade e Caros Amigos, Léo Gilson Ribeiro, em indignada ironia: "o espírito sobe, o talento desce".

No exterior, a prática é menos comum, porque há menos trouxa para esses farsantes. Mesmo assim, houve até falsa psicografia atribuída à saudosíssíma Brittany Murphy, que hoje só é lembrada pela tragédia que sofreu.

Já há mensagens fake atribuídas ao ex-governador pernambucano Eduardo Campos e ao juiz Teori Zavaschi.

Deve vir aí mensagem atribuída à dona Marisa Letícia Lula da Silva pedindo para ninguém votar em Lula e rezar, com Jesus Cristo, para que Luciano Huck vencesse as eleições de 2018.

E aí vamos nos preparar para o petardo que vão armar com o nome da admirável Marielle.

Pretensamente defensora da paz, a mensagem fake virá com um igrejismo retrógrado, cheio de chiliques conservadores (tipo ela "se arrepender" do lesbianismo) e promover a fraternidade forçada, uma "fraternidade de final de missa" que nada contribui para unir as pessoas.

Será um nojo ler mensagens assim com o nome de Marielle Franco.

Ela não precisa mais falar para nós, pelo menos dessa forma igrejeira e supostamente messiânica.

Deixemos que ela viva lá no seu mundo espiritual e que passemos a trabalhar o legado que ela deixou entre nós.

O legado de Marielle Franco será seguido naturalmente por quem sempre se identificou com as mesmas causas da vereadora.

A vida segue e a melhor contribuição para a memória de Marielle não é produzir notícias fake, pegar carona na comoção com sua morte ou produzir supostas psicografias, mas dar continuidade à missão dela na defesa das causas sociais progressistas.

Temos que respeitar Marielle Franco e a lembrança de sua breve vida brutalmente interrompida.

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