Pular para o conteúdo principal

GOVERNO TEMER MOSTRA QUE ATÉ A MATURIDADE É UM CONCEITO EM CRISE

DOIS SENHORES COMETENDO TRAQUINAGENS...

Desculpe ser indelicado com os mais velhos, mas a verdade é que a maturidade é um conceito em crise.

Ou melhor, uma utopia inalcançável.

Muitas pessoas se assustam quando se fala que já não se fazem idosos tão sábios e experientes como antes.

Não que faltem idosos e gente de meia-idade querendo trazer excelentes lições de vida e muitos conhecimentos.

Eles continuam existindo, só que sem a quantidade e a projeção de outros tempos.

Não há como comparar as pessoas nascidas em 1950 com as que nasceram nos anos 1910 e 1920.

Aquela geração, sim, acompanhou um Brasil promissor, embora problemático.

Puderam aprender desde valores morais edificantes até grandes conhecimentos em livros de diversas áreas.

Puderam conhecer Filosofia, se tiveram uma boa escolaridade.

Mas tinham também a chance de desenvolver idealismo, com um Brasil esboçando seu desenvolvimento social, cultural, tecnológico e industrial. Desenvolvimento precário, mas promissor.

Quem nasceu nos anos 1950 e 1960 não teve condições de desenvolver idealismo.

O Brasil vivia sob o signo do medo, do ceticismo e da desesperança, diante da repressão da ditadura militar.

Também não houve condições de buscar um aprendizado humanista.

Afinal, boa parte de seu período letivo passou pelo período ditatorial, em que o ensino só visava o mercado e as noções "pragmáticas" e inócuas do conhecimento.

Em muitos casos, até grêmios estudantis, bandas ou rádios de rock ou mesmo comunidades hippies ensinavam muito mais do que profissões liberais e eventos de gala.

É chocante dizer isso.

Muitos acreditam que a sabedoria, de maneira linear e certa, cresce com o descolorir dos cabelos.

A vaidade dos mais velhos e a boa-fé dos mais jovens costumam julgar que é só completar 45, 50 ou 60 anos que, pronto, a sabedoria sai do forno como um alimento saído de um micro-ondas.

Grande engano.

O que se vê são coroas e velhos que andam nas ruas como se tivessem um ponto de interrogação pendurado em suas cabeças.

Isso para não dizer os grisalhos que cometem gafes, corrupções ou crimes.

Gente que não consegue segurar uma profissão que vai logo armando esquemas de corrupção.

Ou gente que fica trabalhando demais em um cargo importante que não consegue mais perceber o mundo fora dos escritórios.

Acabam confundindo conversas com os amigos com debates em seminários ou reuniões de negócios.

Limitam sua diversão a jantares e almoços formais, e até ser informal se torna uma formalidade.

Os adultos perdem a espontaneidade. Sobretudo numa época em crise de valores.

Se calcula até a forma de dar uma risada, de contar piada ou de ser cordial com as pessoas.

A espontaneidade da infância e o idealismo juvenil se perdem quase que por completo na competição insana do alpinismo social adulto.

A sabedoria, na vida adulta, é uma utopia intangível de tal forma que até as palestras dos profissionais liberais de hoje são em boa parte "wikipedizadas".

Muitos palestrantes tentam ensinar em dobro aquilo que aprenderam pela metade.

Ensinam, é claro, a experiência profissional e os conhecimentos que realmente aprenderam.

Mas isso dá meia-hora de exposição, pois o contexto atual não apresenta muitos gênios.

E boa parte das palestras são "copiadas" do Wikipedia, como nas velhas tarefas escolares do tempo da ditadura.

Nessas tarefas, as pessoas simplesmente faziam trabalhos escritos pela cópia mecânica de trechos de livros.

Sim, pode ser chocante, mas é a realidade.

Vemos o governo de Michel Temer cheio de senhores grisalhos corruptos, entendendo a vida pela metade, confundindo as leis e cometendo muitas traquinagens.

Temer é um senhor de 76 anos que eventualmente sofre de teimosias ou inseguranças infantis, achando que pode mandar, agir à revelia da população e, depois, recuar de medo.

O maior delinquente político é um senhor de 58 anos, Eduardo Cunha, louco para voltar a presidir a Câmara dos Deputados. E teimosamente confiante de que conseguirá.

Gilmar Mendes é jurista e tem 61 anos. Mas atua no Judiciário como se fosse membro de uma gangue de jovens valentões de rua.

Sabemos que isso é chocante, mas, para os senhores e senhoras de 50 ou 60 anos que se sentirem ofendidos ao ler este texto à primeira vista, podem garantir que não é sobre eles que escrevo.

Eles são exceção à regra, porque hoje as regras são ruins.

Infelizmente não há como dizer que a exceção é regra quando ela é apenas uma exceção.

Há pessoas de meia-idade e idosas que ensinam muita coisa boa, sim.

Mas elas não se encontram necessariamente em seminários empresariais ou de profissões liberais, eventos de gala ou no colunismo social.

A combinação de trajes chiques, diplomas, cabelos grisalhos e uma boa retórica nem sempre trazem boa sabedoria.

O que é uma regra de etiqueta num contexto granfino, que transforma o indivíduo num robô social?

O que é a etiqueta que se preocupa apenas, numa sociedade patriarcalista, em ensinar o homem a ser cavalheiro com uma mulher, mas pouco se preocupa em evitar que ele perca a cabeça diante de um pedido de divórcio?

O que é saber separar as guarnições num prato de comida, como se criassem "territórios" para o arroz, feijão e salada, se o sujeito se descontrola num pequeno acidente de trânsito?

O que é maturidade? Eu, nos meus 45 anos, só posso dizer que não sei.

Quando meus cabelos ficarem brancos, não quero ser sábio nem maduro.

Não me preocuparei com a obrigação tirânica de ensinar o que nem sei direito.

Talvez só transmita o que eu saiba e o que eu me esforço em saber com profundidade.

Mesmo assim, sem a preocupação em ser sábio, por mais que admita ser inteligente e entendido em alguma coisa.

Mas, no conjunto da obra, quando meus cabelos ficarem brancos, só quero saber de uma coisa.

Viver a vida com prazer e me divertir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

A SOCIEDADE HIPERMERCANTIL E HIPERMIDIÁTICA

CONSUMISMO, DIVERSÃO E HEDONISMO OBSESSIVOS SÃO AS NORMAS NO BRASIL ATUAL. As pessoas mais jovens, em especial a geração Z mas incluindo também a gente mais velha nascida a partir de 1978, não percebe que vive numa sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. Pensa que o atual cenário sociocultural é tão fluente como as leis da natureza e sua rotina supostamente livre esconde uma realidade nada livre que muitos ignoram ou renegam. Difícil explicar para gente desinformada, sobretudo na flor da juventude, que vivemos numa sociedade marcada pelas imposições do mercado e da mídia. Tudo para essa geração parece novo e espontâneo, como se uma gíria fabricada como “balada” e a supervalorização de um ídolo mediano como Michael Jackson fossem fenômenos surgidos como um sopro da Mãe Natureza. Não são. Os comportamentos “espontâneos” e as gírias “naturais” são condicionados por um processo de estímulos psicológicos planejados pela mídia sob encomenda do mercado, visando criar uma legião de c...

COVID-19 TERIA MATADO 3 MIL FEMINICIDAS NO BRASIL

Nos dez anos da Lei do Feminicídio, o machismo sanguinário dos feminicidas continua ocorrendo com base na crença surreal de que o feminicida é o único tipo de pessoa que, no Brasil, está "proibida de morrer". Temos dois feminicidas famosos em idade de óbito, Pimenta Neves e Lindomar Castilho (87 e 84 anos, respectivamente), e muitos vão para a cama tranquilos achando que os dois são "garotões sarados com um futuro todo pela frente". O que as pessoas não entendem é que o feminicida já possui uma personalidade tóxica que o faz perder, pelo menos, 20 anos de vida. Mesmo um feminicida que chega aos 90 anos de idade é porque, na verdade, chegaria aos 110 anos. Estima-se que um feminicida considerado "saudável" e de boa posição social tem uma expectativa de vida correspondente a 80% de um homem inofensivo sob as mesmas condições. O feminicida tende a viver menos porque o ato do feminicídio não é um simples desabafo. No processo que se dá antes, durante e depois ...

ESTÁ BARATO PARA QUEM, CARA PÁLIDA?

A BURGUESIA DE CHINELOS ACHA BARATO ALUGUEL DE CASA POR R$ 2 MIL. Vivemos a supremacia de uma elite enrustida que, no Brasil, monopoliza as formas de ver e interpretar a realidade. A ilusão de que, tendo muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais dos quais umas centenas concordam com quase tudo, além de uma habilidade de criar uma narrativa organizada que faz qualquer besteira surreal soar uma pretensa verdade, faz da burguesia brasileira uma classe que impõe suas visões de mundo por se achar a "mais legal do planeta". Com isso, grandes distorções na interpretação da realidade acabam prevalecendo, mais pelo efeito manada do que por qualquer sentido lógico. "Lógica " é apenas uma aparência, ou melhor, um simulacro permitido pela organização das narrativas que, por sorte, fabricam sentido e ganham um aspecto de falsa coerência realista. Por isso, até quando se fala em salários e preços, a burguesia ilustrada brasileira, que se fantasia de "gente si...

ED MOTTA ERROU AO CRITICAR MARIA BETHÂNIA

  Ser um iconoclasta requer escolher os alvos certos das críticas severas. Requer escolher quem deveria ser desmascarado como mito, quem merece ser retirado do seu pedestal em primeiro lugar. Na empolgação, porém, um iconoclasta acaba atacando os alvos errados, mesmo quando estes estão associados a certos equivocos. Acaba criando polêmicas à toa e cometendo injustiças por conta da crítica impulsiva. Na religião, por exemplo, é notório que a chamada opinião (que se torna) pública pegue pesado demais nos pastores e bispos neopentecostais, sem se atentar de figuras mais traiçoeiras que são os chamados “médiuns”, que mexem em coisa mais grave, que é a produção de mensagens fake atribuídas a personalidades mortas, em deplorável demonstração de falsidade ideológica a serviço do obscurantismo religioso de dimensões medievais. Infelizmente tais figuras, mesmo com evidente charlatanismo, são blindadas e poupadas de críticas e repúdios até contra os piores erros. É certo que a MPB autêntica ...

A EXPLOSÃO DO SENSO CRÍTICO QUE ENVERGONHA A "BOA" SOCIEDADE

Depois de termos, em 2023, o "eterno" verão da conformidade com tudo, em que o pensamento crítico era discriminado e a regra era todos ficarem de acordo com um cenário de liberdade consumista e hedonista, cuja única coisa proibida era a contestação, o jogo virou de vez. As críticas duras ao governo Lula e as crises sociais do cenário sociocultural em que temos - como a queda da máscara do "funk" como suposta expressão do povo pobre, quando funqueiros demonstraram que acumularam fortunas através dessa lorota - mostram que o pensamento crítico não é "mera frescura" de intelectuais distópico-existencialistas europeus. Não convencem os boicotes organizados por pretensos formadores de opinião informais, que comandam as narrativas nas redes sociais. Aquele papo furado de pedir para o público não ler "certos blogues que falam mal de tudo" não fez sentido, e hoje vemos que a "interminável" festa de 2023, da "democracia do sim e nunca do nã...

COMO A BURGUESIA DE CHINELOS DISSIMULA SUA CONDIÇÃO SOCIAL?

A BURGUESIA ENRUSTIDA BRASILEIRA SE ACHA "POBRE" PORQUE, ENTRE OUTRAS COISAS, PAGA IPVA E COMPRA MUITO COMBUSTÍVEL PARA SEUS CARRÕES SUV. A velha Casa Grande ainda está aqui. Os golpistas de 1964 ainda estão aqui. Mas agora essa burguesia bronzeada se fantasia de “gente simples” e se espalha entre o povo, enquanto faz seus interesses e valores prevalecerem nas redes sociais. Essa burguesia impõe seus valores ou projetos como se fossem causas universais ou de interesse público. A gíria farialimer “balada”, o culto aos reality shows , o yuppismo pop-rock da 89 FM, Rádio Cidade e congêneres, a exaltação da música brega-popularesca (como a axé-music, o trap e o piseiro), a pseudo-sofisticação dos popularescos mais antigos (tipo Michael Sullivan e Chitãozinho & Xororó) e a sensação que a vida humana é um grande parque de diversões. Tudo isso são valores que a burguesia concede aos brasileiros sob a ilusão de que, através deles, o Brasil celebrará a liberdade humana, a paz soc...

LULA QUER QUE A REALIDADE SEJA SUBJUGADA A ELE

LULA E O MINISTRO DA SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, SIDÔNIO PALMEIRA. A queda de popularidade do presidente Lula cria uma situação inusitada. Uma verdadeira "torre de Babel" se monta dentro do governo, com Lula cobrando ações dos ministros e o governo cobrando dos assessores de comunicação "maior empenho" para divulgar as chamadas "realizações do presidente Lula". Um rol de desentendimentos ocorrem, e acusações como "falta de transparência" e "incapacidade de se chegar à população" vêm à tona, e isso foi o tom da reunião que o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, publicitário responsável pela campanha de Lula em 2022, fez com 500 profissionais de assessorias de diversos órgãos do Governo Federal, na última sexta-feira. Sidônio criticou a falta de dedicação dos ministros para darem entrevistas para falar das "realizações do governo", assim como a dificuldade do governo em apresentar esses dados ao ...

THE ECONOMIST E A MEGALOMANIA DA BURGUESIA DE CHINELOS ATRAVÉS DO "FUNK"

A CANTORA ANITTA APENAS LEVA O "FUNK" PARA UM NICHO ULTRACOMERCIAL DE UM RESTRITO PÚBLICO DE ORIGEM LATINA NOS EUA. Matéria do jornal britânico The Economist alegou que o "funk" vai virar uma "febre global". O periódico descreve que "(os brasileiros modernos) preferem o sertanejo, um gênero country vibrante, e o funk, um estilo que surgiu nas favelas do Rio. O funk em particular pode se tornar global e mudar a marca do Brasil no processo". Analisando o mercado musical brasileiro, o texto faz essa menção em comparação com a excelente trilha sonora do filme Eu Ainda Estou Aqui , marcada por canções emepebistas, a julgar pela primeiro sucesso póstumo de Erasmo Carlos, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", uma antiga canção resgatada de um LP de 1971. "A trilha sonora suave do filme alimenta a imaginação dos estrangeiros sobre o Brasil como um país onde bandas de samba e bossa nova cantam canções jazzísticas em calçadões de areia. Mas ...