Pular para o conteúdo principal

"FUNK" ANTECIPOU A "PONTE PARA O FUTURO" NA MÚSICA BRASILEIRA


Algo estranho acontece.

Toda vez que ocorre uma crise no governo de Michel Temer, os funqueiros aliciam as esquerdas.

Vem com aquele discurso falsamente progressista, com críticas sociais que parecem previamente ensaiadas.

A Furacão 2000 se autopromovendo às custas da passeata pró-Dilma em Copacabana, abafando o coro dos manifestantes com "pancadão".

Nas agências de imagens jornalísticas, estava tudo claro: o teor político da manifestação foi neutralizado pela "alegria da dança".

E aí os deputados federais da oposição à presidenta foram tranquilos para fazer o seu espetáculo da votação pela abertura do impeachment.

E tudo se deu no governo Temer que ameaça destruir o Brasil.

"Funk" não é Dilma nem veio de Marte. "Funk" é Temer e veio da Rede Globo.

Muitos se esquecem que a Furacão 2000 elegeu como "embaixador do funk" ninguém menos que Luciano Huck, amigo de Aécio Neves e João Dória Jr..

Muitos acreditavam que Mr. Catra estava "invisível às corporações midiáticas" mas ele já era figurinha fácil no Caldeirão do Huck transmitido em rede nacional para milhões de TVs.

Tido erroneamente como "genial", o "funk", com aspas para não confundir com o que hoje chamamos de funk autêntico, antecipou na música brasileira todo a "ponte para o futuro" do Plano Temer.

Para começo de conversa, o funk autêntico era uma variação da soul music popularizada por James Brown.

EARTH WIND & FIRE - FUNK AUTÊNTICO VALORIZAVA INSTRUMENTISTAS E ARRANJADORES.

Teve também como discípulos nomes como Kool & The Gang, Chic, Earth Wind & Fire e os irmãos Jackson (Jackson Five, The Jacksons), dos quais se destacou o astro Michael Jackson.

O funk autêntico era marcado pelo instrumental forte, sobretudo pela cozinha de baixo e bateria que com a guitarra faziam um estilo bem diferente do rock.

E havia também numerosas orquestras, com sua sessão de metais e cordas.

No Brasil, Tim Maia popularizou o estilo, com sua orquestra e banda Vitória Régia.

As equipes de som, a princípio, expressavam essa boa assimilação da black music estadunidense através do cenário carioca. Mesmo a Furacão 2000.

Só que depois que os DJs pioneiros morreram aos poucos, como Cidinho Cambalhota, Ademir Lemos e Messiê Limá, dois DJs praticamente chutaram o pau da barraca e deturparam a vertente eletrônica do funk autêntico.

Sabe-se que o eletro-funk original foi popularizado por Afrika Bambattaa, e consistia não só numa vitrola, mas no uso de teclados e baterias eletrônicas.

Afrika não sampleou "Trans-Europe Express" do Kraftwerk, o que ele fez foi ele mesmo tocar seus acordes no seu sintetizador.

O eletro-funk tinha seus derivados, como o freestyle, que também se preocupava com a música.

Mas veio o mafioso miami bass e este é que foi assimilado pelo "funk".

Tudo se reduziu a um simplório karaokê, de uma mesma batida eletrônica e vozes esganiçadas de MCs parodiando o andamento de cantigas de roda.

A "Ponte para o Futuro" musical começou aí.

A terceirização musical, reduzida à figura do DJ e do MC.

A precarização dos intérpretes, a hierarquização do DJ (o cérebro) e o MC (o porta-voz).

A eliminação das melodias e dos arranjos, que é a PEC 241 musical.

A flexibilização das relações culturais, em que prevalecem os interesses de mercado.

É a privatização da cultura popular, para a indústria do entretenimento popularesco, para as equipes de som e casas noturnas que realizam "bailes funk".

É a venda do pré-sal, a substituição do samba das favelas pelo "funk", o desmonte da PRETOBRAS pelo Bonde da Chevron.

Na PEC 241 musical do "funk", o som só se renova, e olhe lá, de temporada em temporada.

E mesmo assim é um mesmo som para todo mundo.

Os mesmos efeitos, a mesma colagem.

Ou então a variação amplia a pedido do freguês.

É como Michel Temer recuando e atendendo às pressões da demanda.

Se a demanda pede, se sampleia gaita, trompete mexicano, desses que se toca em tourada etc.

Mas mesmo assim, é sempre um "teto" de gastos de cifras musicais, para manter o "funk" dentro da fórmula de "música de pobre" que agrada o "deus mercado".

Tudo é tendencioso, nada é espontâneo. Por conta própria, nada feito.

Hoje o "funk" está "aberto" a tudo, mas vai um MC pedir para tocar violão e compor melodias e arranjos.

A resposta do DJ era não.

A ideia é nivelar musicalmente por baixo para criar o tal "som de pobre" ao gosto do "deus mercado".

E da mídia venal, que sempre foi receptiva e até contribuiu para a ascensão do "funk".

As esquerdas deveriam ter cuidado com o "funk".

O "funk" se faz de amigo das esquerdas, faz coitadismo e tudo o mais.

Depois apunhala as esquerdas e vai festejar nos palcos da mídia venal.

"Funk" não veio de Marte, veio da Globo. "Funk" é o Caldeirão, do Huck.

Mas, acima de tudo, "funk" é Temer. Está no dicionário.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...