Pular para o conteúdo principal

A VIOLÊNCIA NO BRASIL E OS DADOS DUVIDOSOS


Recentemente, um novo dado sobre as cidades com maior número de assassinatos havia, finalmente, incluído o Rio de Janeiro no ranquim.

Queimados foi considerada a cidade mais violenta do país e municípios como Rio de Janeiro e Niterói estiveram em índices "modestos", mas não tão pequenos assim.

Ainda há uma ênfase em apontar o Nordeste com a região mais violenta do país, enquanto se esforça em vender a imagem do interior paulista como "paraíso de paz e tranquilidade".

É certo que, no Norte ou nas cidades distantes do interior, muitas pessoas resolvem seus problemas com a violência, vide a situação de isolamento social, pobreza e falta de consciência moral.

Mas nota-se um certo preconceito social quando índices chegam mesmo a distorcer dados para transformar o Sul/Sudeste em "paraísos" e o Norte/Nordeste em "infernos", enquanto o Centro-Oeste fica num meio caminho.

Na última quinta-feira, uma disputa criminosa teria motivado uma chacina ocorrida no Venice Beach Hotel, em Canasvieiras, na cidade de Florianópolis.

Florianópolis é considerada oficialmente a "segunda capital menos violenta do Brasil", seguida de São Paulo.

No entanto, a capital catarinense tem a criminalidade aumentando assustadoramente e há muito a cidade não tem mais o relativo glamour de 47 anos atrás, quando nela nasci.

A antiga "Europa caipira" deu lugar a uma mistura de Baixada Fluminense e uma imitação brega da Barra da Tijuca de hoje em dia.

A chacina teve como mortos uma família ligada a um empresário local, de origem paulistana, e dona de um salão de festas no bairro Vargem Grande e com propriedade em Jurerê Internacional, a tal "Barra da Tijuca brega" de Floripa.

A violência ocorreu na tarde do último dia 05 de julho, por volta de 16 horas. O grupo teria deixado as iniciais PCC escritas numa parede.

Também à luz do dia, um assalto ocorreu numa área movimentada de Charitas, em Niterói.

Um ladrão armado saiu de seu carro para render uma família que passeava na calçada de uma rua. O homem teve que entregar um cordão. O incidente foi registrado por uma câmera instalada no local.

Até que ponto pode-se considerar uma cidade mais ou menos violenta? É suficiente o fato da cidade estar no interior, ser de regiões associadas à população negra ou pobre, como o Nordeste, e estar associada à miséria e à suposta baixa qualidade de vida das cidades?

Muitos desses aspectos acabam sendo bastante discutíveis. Sobretudo quando se observa que o Sul e Sudeste andam perdendo em qualidade de vida, enquanto o Nordeste se recupera, aos poucos.

Isso inclui, por exemplo, mobilidade urbana.

Salvador, na Bahia, construiu rodovia até em área tida como incogitável (a Via Expressa Baía de Todos os Santos, na região de Cidade Nova).

Niterói não consegue (e não se interessa) em resolver o problema da falta de avenida própria de ligação entre Rio do Ouro e Várzea das Moças, causando sobreposição de funções da RJ-106. Periga repetir o vexame da Via Cafubá-Charitas, que levou sete décadas para ser realizada.

O maior reacionarismo está nas cidades do "civilizado" Sul e Sudeste. Assaltos e assassinatos ocorrem em plena luz do dia com mais frequência em cidades como Curitiba, Niterói, São Paulo e Florianópolis.

Em cidades como Salvador e Aracaju, há maior frequência desses crimes no período noturno.

Um atentado ocorrido à tarde contra um dirigente de escola de samba em Madureira, no Rio de Janeiro, levou tempo para ter alguma pista decifrada. Um assalto ocorrido a uma rádio em Aracaju, no fim de noite de um sábado, teve seus envolvidos rapidamente presos.

Até que ponto Lauro de Freitas pode ser uma das cidades mais violentas do país? Não será porque os crimes são quase sempre denunciados e investigados?

E se houver cidades mais violentas, no interior gaúcho, potencialmente fascista, ou no paulista, e a polícia acobertar uma considerável parcela de crimes, diante de um jogo sujo de interesses?

E até que ponto cidadãos aparentemente sem antecedentes criminais podem cometer crimes em uma cidade nordestina ou numa capital sudestina? E até que ponto um crime pode ser cometido à luz do dia e em locais de grandes movimentos?

A violência policial também não pode colocar uma cidade no ranquim de mais violenta?

O chamado "Atlas da Violência" tem dados muito duvidosos e confusos, nos quais Aracaju "ganha" uma reputação violenta por conta de crimes ocorridos nos subúrbios de outras cidades de sua Região Metropolitana.

Seria preciso discutir os critérios e sair das aparências, além de colocar as questões de lutas de classes, por exemplo.

Afinal, conforme eu previ, a reforma trabalhista e o espírito elitista do Grande Rio de Janeiro, que elegeu Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro para a Câmara dos Deputados e pediu intervenção militar nas favelas, só fez aumentar a criminalidade na região.

Há tiroteios no Leme e o chamado "Bonde do Fuzil" aterrorizou bares e estabelecimentos em Niterói, além de realizar assaltos à luz do dia, de manhã e de tarde.

Isso diz bastante à reação de criminosos, que bem ou mal são de origem pobre, aos redutos das elites na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Daí que é preciso rever critérios e trazer maior transparência. Para usar um trocadiho, a insegurança no Brasil ainda mantém sua insegurança estatística, feita ao sabor dos preconceitos sociais e interesses particulares diversos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

TRINTA ANOS DE UMA NOVELA DA PESADA

A PRIMEIRA VERSÃO DE A VIAGEM  "PRESENTEOU" OS FUNCIONÁRIOS DA TV TUPI COM A FALÊNCIA DA EMISSORA. Triste país em que executivos de TV e empresários do entretenimento montam uma falsa nostalgia, forjando valores e fenômenos falsamente cult  para enganar as novas gerações, que levam gato por lebre com esse pseudovintage feito para lacrar nas redes sociais. Vide a gourmetização da mediocridade musical com, por exemplo, Michael Sullivan, Chitãozinho e Xororó e É O Tchan, nomes que deveriam cair no esquecimento público, pelas obras deploráveis que fizeram. Na dramaturgia, a coisa não é diferente num país em onde Caio Ribeiro, Luva de Pedreiro e um tal de Manoel Gomes (do sucesso "Caneta Azul") são considerados cult  e hit-parade  é confundido com vanguarda, qualquer coisa pode ser alvo dessa "nostalgia de resultados " que transforma o Brasil no Olimpo da idiotização cultural. A coisa chega ao ponto de uma novela infeliz, com temática mais medieval do que Game

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document