Pular para o conteúdo principal

POR QUE A "BOA" SOCIEDADE ESTÁ COM MEDO DE QUE LULA NÃO SEJA REELEITO?


Oficialmente, há um medo muito grande dos brasileiros de que Lula não possa ser reeleito para o cargo presidencial. Já se fala numa obsessão por essa reeleição, como única solução para o Brasil e o pretexto usado é de que essa reeleição, seja quantas vezes for e ainda que atropele a Constituição de 1988 - que veta mais de dois mandatos consecutivos para cargos do Executivo municipal, estadual e federal - , seria necessária para frear o avanço da extrema-direita no país.

Fala-se que Lula é o único a garantir a tal "democracia" que tanto se fala nos últimos anos. Como se a democracia tivesse sido uma invenção do petista, uma estranha democracia na qual só ele decide e o povo é convidado a festejar, dançar, brincar e até "bebemorar". E isso quando o próprio Lula traiu as regras do jogo democrático sabotando a campanha presidencial faltando a alguns debates estratégicos e não permitindo a diversidade na competição eleitoral.

Ou seja, surge um sentimento de paranoia, pelo qual somente Lula deve ser o sucessor na presidência do Brasil, o que faria das eleições de 2026 uma mera formalidade, quase um ato simbólico. E dizemos isso porque hoje, na França, o segundo turno das eleições do Legislativo ameaça dar vitória definitiva para os parlamentares extremo-direitistas, confirmando a tendência esboçada no primeiro turno.

Mas o risco do fascismo, no Brasil, chega a ser uma paranoia, porque parte de quem nunca se sentiu realmente prejudicado por essa ideologia. O retrocesso do golpismo de 2016-2022, sob Michel Temer e Jair Bolsonaro e passando pela tragédia da Covid-19, não fez com que essas pessoas se mobilizassem de verdade para derrubar esses presidentes nefastos.

Na verdade, essas pessoas são a pequena burguesia formada numa frente ampla social que vai do pobre remediado ao famoso milionário, uma elite que tenta ser "mais povo que o povo", mas não esconde seus privilégios de classe e, como classe média abastada e cheia da grana para consumir, de maneira gulosa, os supérfluos e até os nocivos (como os cancerígenos cigarro e cerveja), tenta manipular o senso comum em favor de seus interesses privativos.

Ou seja, a bolha social do lulismo e dos chamados liberais descolados da "boa" sociedade manifesta seu medo à toa da volta de um fascismo que não lhe trará prejuízos profundos, pois na pior fase da ditadura militar, o AI-5 entre 1968 e 1978, essa classe privilegiada teve benefícios com o "milagre brasileiro" e até com o escapismo do desbunde (precursor do hedonismo do identitarismo sociocultural que hoje vemos).

A "boa" sociedade não lutou para derrubar Temer nem Bolsonaro, manifestando seu repúdio frouxo feito mais para lacrar na Internet e parecer "bacana" para os demais internautas. Mas hoje essas mesmas pessoas estão com medo de que, de repente, Lula seja derrotado na campanha presidencial de 2026, expressando uma aparente aflição com esse risco a ponto de desejar a reeleição do presidente na marra.

Mas se esse pessoal nada tem a perder, por que esse medo todo? Por que essa paranoia da classe média abastada em usar o pretexto da "democracia" para ver apenas Lula ganhando as eleições de daqui a dois anos?

Certamente não é pelo pão dos pobres nem pelo abrigo dos sem-teto. O que está em jogo nessa sociedade que domina as narrativas nas redes sociais é que a vitória de Lula em 2026, na verdade, trará a continuidade dos benefícios estatais que a burguesia enrustida e seus amigos recebem através de atividades de entretenimento, ditas "culturais", num contexto em que existe até festa de aniversário fantasiada de "evento cultural", vide a "farofa da G-Kay".

De tanto defender a iniciativa privada, a privatização do bem público e outras causas semelhantes, a burguesia de chinelos passou a gostar do dinheiro público, quando viu que Lula é o único com mão aberta para dar verbas estatais para sustentar atividades da elite do privilégio, poupando-a de usar seu patrimônio financeiro para tamanha finalidade.

Com isso, a pequena burguesia está liberada para usar a grana que tem para sua própria diversão, pois as atividades, digamos, "profissionais", serão custeadas pelos recursos do Ministério da Cultura. Em outras palavras, é mais dinheiro no bolso dessa burguesia enrustida, que pode até pedir verbas superfaturadas e pegar seu excedente para a recreação.

Veja o quanto estamos sendo enganados por essa elite fantasiada de "gente simples", se achando no poder de formar opinião e consenso, espalhada entre o povo em geral e, descendente da aristocracia historicamente opressora da História do Brasil, finge agora parecer "bacaninha" e "moderninha".

Enquanto isso, o povo pobre, mesmo diante da ameaça da volta do fascismo, não tem a temer porque já está acostumada a sofrer. E sofre horrores, mesmo sob Lula, com gente morando nas ruas, acumulando dívidas diversas, sendo passada para trás nas ofertas de emprego pela gente "jovem, bonita e divertida" que inventa currículos fictícios para conquistar as vagas oferecidas, e temos ainda os dramas do proletariado, campesinato e lumpesinato em geral, todos vendo no petista um grande traidor.

Esse pessoal espera, pelo menos, que um político novo, mesmo da direita moderada, possa surgir para combater a polarização entre Bolsonaro e Lula, que está fazendo o Brasil ficar doente com esse "Fla-Flu político", criando a alternância social entre a burguesia ortodoxa do bolsonarismo e a burguesia heterodoxa do lulismo.

A burguesia heterodoxa é que tem medo de que Lula não seja reeleito. Mas as classes trabalhadoras e o povo pobre em geral, se sentindo abandonados pelo presidente Lula, é que não se preocupam muito com esse risco do atual presidente ser derrotado nas urnas, e isso é até desejável, tanto pelo desejo de ver um sangue novo na nossa República quanto em ver um governante que, mesmo que não seja genial, pelo menos mantenha os pés no chão.

Devemos lembrar aos lulistas que não dá para o povo pobre e os demais excluídos sonharem grande se suas vidas se tornaram pesadelos sem fim.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

A SOCIEDADE HIPERMERCANTIL E HIPERMIDIÁTICA

CONSUMISMO, DIVERSÃO E HEDONISMO OBSESSIVOS SÃO AS NORMAS NO BRASIL ATUAL. As pessoas mais jovens, em especial a geração Z mas incluindo também a gente mais velha nascida a partir de 1978, não percebe que vive numa sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. Pensa que o atual cenário sociocultural é tão fluente como as leis da natureza e sua rotina supostamente livre esconde uma realidade nada livre que muitos ignoram ou renegam. Difícil explicar para gente desinformada, sobretudo na flor da juventude, que vivemos numa sociedade marcada pelas imposições do mercado e da mídia. Tudo para essa geração parece novo e espontâneo, como se uma gíria fabricada como “balada” e a supervalorização de um ídolo mediano como Michael Jackson fossem fenômenos surgidos como um sopro da Mãe Natureza. Não são. Os comportamentos “espontâneos” e as gírias “naturais” são condicionados por um processo de estímulos psicológicos planejados pela mídia sob encomenda do mercado, visando criar uma legião de c...

COVID-19 TERIA MATADO 3 MIL FEMINICIDAS NO BRASIL

Nos dez anos da Lei do Feminicídio, o machismo sanguinário dos feminicidas continua ocorrendo com base na crença surreal de que o feminicida é o único tipo de pessoa que, no Brasil, está "proibida de morrer". Temos dois feminicidas famosos em idade de óbito, Pimenta Neves e Lindomar Castilho (87 e 84 anos, respectivamente), e muitos vão para a cama tranquilos achando que os dois são "garotões sarados com um futuro todo pela frente". O que as pessoas não entendem é que o feminicida já possui uma personalidade tóxica que o faz perder, pelo menos, 20 anos de vida. Mesmo um feminicida que chega aos 90 anos de idade é porque, na verdade, chegaria aos 110 anos. Estima-se que um feminicida considerado "saudável" e de boa posição social tem uma expectativa de vida correspondente a 80% de um homem inofensivo sob as mesmas condições. O feminicida tende a viver menos porque o ato do feminicídio não é um simples desabafo. No processo que se dá antes, durante e depois ...

ESTÁ BARATO PARA QUEM, CARA PÁLIDA?

A BURGUESIA DE CHINELOS ACHA BARATO ALUGUEL DE CASA POR R$ 2 MIL. Vivemos a supremacia de uma elite enrustida que, no Brasil, monopoliza as formas de ver e interpretar a realidade. A ilusão de que, tendo muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais dos quais umas centenas concordam com quase tudo, além de uma habilidade de criar uma narrativa organizada que faz qualquer besteira surreal soar uma pretensa verdade, faz da burguesia brasileira uma classe que impõe suas visões de mundo por se achar a "mais legal do planeta". Com isso, grandes distorções na interpretação da realidade acabam prevalecendo, mais pelo efeito manada do que por qualquer sentido lógico. "Lógica " é apenas uma aparência, ou melhor, um simulacro permitido pela organização das narrativas que, por sorte, fabricam sentido e ganham um aspecto de falsa coerência realista. Por isso, até quando se fala em salários e preços, a burguesia ilustrada brasileira, que se fantasia de "gente si...

ED MOTTA ERROU AO CRITICAR MARIA BETHÂNIA

  Ser um iconoclasta requer escolher os alvos certos das críticas severas. Requer escolher quem deveria ser desmascarado como mito, quem merece ser retirado do seu pedestal em primeiro lugar. Na empolgação, porém, um iconoclasta acaba atacando os alvos errados, mesmo quando estes estão associados a certos equivocos. Acaba criando polêmicas à toa e cometendo injustiças por conta da crítica impulsiva. Na religião, por exemplo, é notório que a chamada opinião (que se torna) pública pegue pesado demais nos pastores e bispos neopentecostais, sem se atentar de figuras mais traiçoeiras que são os chamados “médiuns”, que mexem em coisa mais grave, que é a produção de mensagens fake atribuídas a personalidades mortas, em deplorável demonstração de falsidade ideológica a serviço do obscurantismo religioso de dimensões medievais. Infelizmente tais figuras, mesmo com evidente charlatanismo, são blindadas e poupadas de críticas e repúdios até contra os piores erros. É certo que a MPB autêntica ...

COMO A BURGUESIA DE CHINELOS DISSIMULA SUA CONDIÇÃO SOCIAL?

A BURGUESIA ENRUSTIDA BRASILEIRA SE ACHA "POBRE" PORQUE, ENTRE OUTRAS COISAS, PAGA IPVA E COMPRA MUITO COMBUSTÍVEL PARA SEUS CARRÕES SUV. A velha Casa Grande ainda está aqui. Os golpistas de 1964 ainda estão aqui. Mas agora essa burguesia bronzeada se fantasia de “gente simples” e se espalha entre o povo, enquanto faz seus interesses e valores prevalecerem nas redes sociais. Essa burguesia impõe seus valores ou projetos como se fossem causas universais ou de interesse público. A gíria farialimer “balada”, o culto aos reality shows , o yuppismo pop-rock da 89 FM, Rádio Cidade e congêneres, a exaltação da música brega-popularesca (como a axé-music, o trap e o piseiro), a pseudo-sofisticação dos popularescos mais antigos (tipo Michael Sullivan e Chitãozinho & Xororó) e a sensação que a vida humana é um grande parque de diversões. Tudo isso são valores que a burguesia concede aos brasileiros sob a ilusão de que, através deles, o Brasil celebrará a liberdade humana, a paz soc...

A EXPLOSÃO DO SENSO CRÍTICO QUE ENVERGONHA A "BOA" SOCIEDADE

Depois de termos, em 2023, o "eterno" verão da conformidade com tudo, em que o pensamento crítico era discriminado e a regra era todos ficarem de acordo com um cenário de liberdade consumista e hedonista, cuja única coisa proibida era a contestação, o jogo virou de vez. As críticas duras ao governo Lula e as crises sociais do cenário sociocultural em que temos - como a queda da máscara do "funk" como suposta expressão do povo pobre, quando funqueiros demonstraram que acumularam fortunas através dessa lorota - mostram que o pensamento crítico não é "mera frescura" de intelectuais distópico-existencialistas europeus. Não convencem os boicotes organizados por pretensos formadores de opinião informais, que comandam as narrativas nas redes sociais. Aquele papo furado de pedir para o público não ler "certos blogues que falam mal de tudo" não fez sentido, e hoje vemos que a "interminável" festa de 2023, da "democracia do sim e nunca do nã...

THE ECONOMIST E A MEGALOMANIA DA BURGUESIA DE CHINELOS ATRAVÉS DO "FUNK"

A CANTORA ANITTA APENAS LEVA O "FUNK" PARA UM NICHO ULTRACOMERCIAL DE UM RESTRITO PÚBLICO DE ORIGEM LATINA NOS EUA. Matéria do jornal britânico The Economist alegou que o "funk" vai virar uma "febre global". O periódico descreve que "(os brasileiros modernos) preferem o sertanejo, um gênero country vibrante, e o funk, um estilo que surgiu nas favelas do Rio. O funk em particular pode se tornar global e mudar a marca do Brasil no processo". Analisando o mercado musical brasileiro, o texto faz essa menção em comparação com a excelente trilha sonora do filme Eu Ainda Estou Aqui , marcada por canções emepebistas, a julgar pela primeiro sucesso póstumo de Erasmo Carlos, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", uma antiga canção resgatada de um LP de 1971. "A trilha sonora suave do filme alimenta a imaginação dos estrangeiros sobre o Brasil como um país onde bandas de samba e bossa nova cantam canções jazzísticas em calçadões de areia. Mas ...

LULA QUER QUE A REALIDADE SEJA SUBJUGADA A ELE

LULA E O MINISTRO DA SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, SIDÔNIO PALMEIRA. A queda de popularidade do presidente Lula cria uma situação inusitada. Uma verdadeira "torre de Babel" se monta dentro do governo, com Lula cobrando ações dos ministros e o governo cobrando dos assessores de comunicação "maior empenho" para divulgar as chamadas "realizações do presidente Lula". Um rol de desentendimentos ocorrem, e acusações como "falta de transparência" e "incapacidade de se chegar à população" vêm à tona, e isso foi o tom da reunião que o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, publicitário responsável pela campanha de Lula em 2022, fez com 500 profissionais de assessorias de diversos órgãos do Governo Federal, na última sexta-feira. Sidônio criticou a falta de dedicação dos ministros para darem entrevistas para falar das "realizações do governo", assim como a dificuldade do governo em apresentar esses dados ao ...