
EM DESVANTAGEM, LULA QUER MARCAR PONTOS NOS 45 MINUTOS DO SEGUNDO TEMPO.
O termo “pelego”, muito comum no vocabulário das classes trabalhadoras, virou um grande tabu. Mas quem faz uma análise bem apurada sabe que Lula se tornou um grande pelego, termo que se refere ao representante dos oprimidos que se alia aos opressores, sob o pretexto de entrar em acordo com eles.
Lula cometeu o maior erro que um presidente poderia cometer em um mandato: pensou primeiro na política externa. Um erro que considero crucial para sua queda de popularidade, que já ocorreu em 2023 mas custou mais de um ano para ser reconhecida pelas supostas pesquisas de opinião.
A obrigação de Lula era ter evitado o clima de festa e ficado no Brasil para reconstruí-lo. Deveria ter cancelado o Festival do Futuro da cerimônia de posse. Lula falou, recentemente, que o atual presidente dos EUA, Donald Trump, deveria ser “menos (lacrador da) Internet e mais chefe de Estado). Mas Lula foi mais festa do que governo, e deixou muito a desejar como gestor no atual mandato.
Lula pareceu se divertir muito, sorrindo, brincando e cometendo gafes. O relatorismo do “Efeito Lula” fazia com que a dança dos números fizesse crer que o governo realizava muito, mas eram façanhas tão fantásticas, fáceis e rápidas demais que a desconfiança é certa. Tudo bom demais para ser verdade. No contexto do Brasil devastado por Jaír Bolsonaro, uma melhoria lenta e concreta teria sido mais realista.
Daí a queda de popularidade e a atitude patética do governo Lula achar que a realidade deveria estar informada da “magnitude das realizações do governo”. Mas a máscara cai e números não substituem fatos. Da mesma forma, a farsa foi desmontada quando os milhares de investimentos estrangeiros da política externa não refletiram na reserva necessária para o governo Lula aplicar nas inúmeras medidas sociais. Só pouca coisa foi investida, e nada que tivesse impedido o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de pensar nos cortes do orçamento.
Lula se viu numa enrascada, depois de festejar a recuperação dos direitos políticos. E também apostou na ilusão de fazer do seu terceiro mandato um trampolim para o quarto. Ou seja, Lula queria relaxar no terceiro mandato achando que teria maior liberdade de ação se ele fosse sucessor de si mesmo. Só que a falta de empenho no terceiro mandato, apenas marcado por simulacros de realizações, pode pôr o presidente a perder na campanha de 2026.
Até medidas como a taxação dos mais ricos são muito brandas e não fazem sequer coceira nos bolsos dos bilionários. As porcentagens pequenas permitem aos bilionários recuperar o dinheiro pago ao imposto, podendo até mesmo aumentar suas fortunas. Comparem isso com o valor do salário mínimo e do Bolsa Família, que aonda obrigam as famílias pobres a continuar apertando o orçamento para ao menos sobreviverem.
E, enquanto Lula dá aumentos pequenos para o salário mínimo, não economiza grana para a compra de votos de apoio, agora conhecidas pelo nome "técnico" de "verbas para emendas parlamentares". E Lula não age com firmeza para barrar a carestia nos preços dos alimentos, mesmo os mais essenciais, como leite e derivados, feijão, arroz e carne. Até porque a carestia é resultado da cobrança dos impostos e, no caso da taxação dos mais ricos, os bilionários vão repassar suas perdas para os preços, como chantagem contra a medida, por mais branda que esta seja. As elites são gananciosas, mesmo.
O peleguismo de Lula se dá porque ele, a princípio, parece conciliador nas negociações entre as classes dominantes e as classes populares, mas acaba sempre priorizando as classes privilegiadas na medida em que não investe em rupturas, deixando os trabalhadores e os excluídos em geral esperar mais tempo sofrendo para mais tarde (e tarde demais) obter um benefício abaixo do desejado e do necessário. E Lula não está cobrando muito do patronato, suas falas não passam de jogo de cena.
Como um sindicalista pelego, Lula começa a ver a indignação dos antigos companheiros, após se esbaldar nas festas do patronato. E aí ele tenta reconquistar a confiança perdida, mas aí é tarde demais.
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