
LULA QUERENDO SER UM TRIBUNO À MANEIRA DOS ANOS 1940-1950.
Durante a reunião de cúpula do G-7, grupo dos países mais ricos do mundo, na sessão ampliada do encontro, ocorrida em Kananaskis, no Canadá, anteontem, o presidente Lula fez a festa das esquerdas médias quando discursou contra a gierra e contra a fome. Vejamos alguns trechos:
“Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam. Gastos militares consomem anualmente o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Itália: são US$ 2,7 trilhões que poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa.
Os recentes ataques de Israel ao Irã ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis.
Já em Gaza, nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra.
Só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura”, disse.
“É preciso que o secretário-geral lidere um grupo representativo de países comprometidos com a paz na tarefa de restituir à organização a prerrogativa de ser a casa do entendimento e do diálogo”.
É um discurso que soa muito bem intencionado, se não fosse a disparidade de falas com ações. Enquanto Lula tenta cumprir à risca toda a encenação de um pretenso tribuno, para fazer bonito nas enciclopédias futuras, seu governo medíocre, estabelecido sem um programa determinado, não conseguiu romper com os malefícios do inverno golpista de 2016-2022.
Lula fala tanto em diálogo, para afastar as acusações da “democracia de um homem só”, mas esse diálogo, no Brasil, só serve para que as classes dominantes percam menos dos seus privilégios e as classes populares ganhem menos benefícios. Lula fala muito em combater as desigualdades sociais, mas com esse diálogo emtre empresários e trabalhadores, na prática um “diálogo” entre as raposas e as galinhas, as desigualdades na prática são apenas mantidas em padrões socialmente aceitáveis.
A manutenção da precarização do trabalho, o que mostra a função procrastinadora das esquerdas médias - que deixaram tranquilamente Michel Temer e Jair Bolsonaro completarem seus mandatos - de não querer rupturas imediatas, prefere que os prejuízos ocorram enquanto o poder dos abusadores se desgasta lentamente, mas sem dor.
Os juros altos continuam estrangulando o orçamento dos brasileiros, ao refletir na carestia dos produtos e serviços. A precarização do trabalho, com a escala 6x1 comprometendo o rendimento dos empregados e os empregos 100% comissionados transformando salários em loterias, com ganho que não é 100% certo, complicam a vida ao não permitir o descanso pleno e a realização de planos para a vida, mesmo uma simples arrumação de casa.
Lula não tem pulso firme para combater os abusos das elites. Falar não é agir e ele lava as mãos diante da fome que assola os brasileiros e mantém as classes populares no eterno pesadelo das favelas ou das situações de rua. Trabalhadores de diversas categorias, tribos indígenas e até solteiros convictos comuns se sentem abandonados pelo presidente, que brinca de ser grandioso como um arremedo dos antigos líderes políticos dos anos 1940-1950.
A verdadeira grandeza não está no aparato das grandes frases, mas no quase silêncio dos atos. A verdadeira democracia não está no “diálogo” entre opressores e oprimidos, mas no pulso forme para romper de vez aquilo que é nocivo, em vez de deixar a coisa continuar.
A ditadura indolor, no entanto, se satisfaz com esse aparato de neutramente ouvir empresários e trabalhadores, mas isso não é democrático na medida em que se consente em aceitar as imposições do poder econômico e hesitar em buscar uma solução imediata para a parte que mais interessa, as classes populares.
É através dessa postura perigosamente neutra que Lula está perdendo popularidade de maneira dramática. E Lula só piora as coisas quando prefere falar do que agir. De boas opiniões, o inferno está superlotado.
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