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PRECISA COMPRAR LIVROS PARA COLORIR?


Depois dos livros sobre cachorros com nomes de roqueiros, e, mais atrás, de ficções com vampiros ou cavaleiros medievais, sem falar os livros de blogueiros surgidos do nada - como essas moças que escrevem vinte páginas só para comentar sobre como afinou seus supercílios - , agora tem os tais livros para colorir.

Aparentemente, a ideia parece simpática. Livros que relembram a infância, quando a criançada pintava com as cores que escolherem as ilustrações dadas pelos professores. Livros que em tese resgatariam o contato das pessoas com os lápis, ainda que fosse só para pintar. Livros que serviriam de terapia para as pessoas estressadas se relaxarem.

Só que a coisa foi um tanto longe demais e o que parecia simpático tornou-se uma chatice. Afinal, o mercado literário é de livros para serem lidos, não é um mercado que possa colocar, entre os mais vendidos, livros que não são para ler, são só para pintar.

Mas se a gente observa, em certos nomes espalhafatosos do pop, que suas apresentações tem tudo, como dançarinos encenando gestos com a cantora, coreografias imitando múmias, cantora e dançarino trocando olhares de caretas, quando a música não passa de um pleibeque vagabundo, então faz sentido. Se temos música sem música, temos leitura sem leitura.


O grande problema é que esses livros para colorir são muito caros. Trinta reais cada livro, o que é um grande desperdício, neste país em crise econômica em que vivemos. E o pior é que eles aparecem nas listas dos mais vendidos tomando o lugar de muitos livros que deveriam ser lidos, como os meus.

Não, não é questão de vaidade, não. Eu não costumo me transformar num marketing ambulante de mim mesmo. O problema é que meus livros, "Pelas Entranhas da Cultura Rock" e "Música Brasileira e Cultura Popular em Crise", escrevem o que não aparece em best sellers, tive muito trabalho de pesquisa para passar aos leitores o que a grande mídia não costuma mostrar.

É claro que a lista de mais vendidos costuma apresentar também boas obras. Mas o que faz livros dos anos 1940 como Diário de Anne Frank e O Pequeno Príncipe estarem nas listas atuais é algo que junta fatores como o vazio cultural dos nossos dias e uma busca de alguma reflexão perdida no passado.

Mas a compra de livros para colorir, com R$ 30 conforme pude ver, há poucos dias, nas Lojas Americanas, é um grande desperdício. Ilustrações para colorir existem na Internet e basta alguém com um computador e uma impressora - ou pelo menos um pen drive para gravar o arquivo e mandar para um serviço de impressão - para imprimir uma página para colorir.

Fica realmente muito estranho numa época em que muitos precisam ler - felizmente houve muitos jovens interessados em leitura, na Bienal do Livro 2015 onde fui, no Riocentro, no último dia 04 - , haver livros só para pintura. Eles poderiam ser um segmento à parte, se bem que deveriam reduzir a caderninhos baratos vendidos em papelarias. Livros para colorir não são para ler, são para colorir.

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