
As redes sociais se tornaram um paraíso da hipocrisia humana. Gente que quer parecer legal costuma se tornar mentiras de si própria. Usam nomes falsos, adotam posições ideológicas falsas, se passam por outras pessoas e exaltam virtudes e personalidades que não admirariam em situações normais.
Até uma comunidade como, nos tempos do Orkut, a chamada Eu Odeio Hipocrisia foi a que mais tinha gente hipócrita. Hipócritas e mentirosos não são aqueles que dizem “Cuidado que eu minto! Eu sou hipócrita!”, mas aqueles que se passam por honestos e sinceros para enganar os mais ingênuos.
Um hábito muito caraterístico dos hipócritas das redes sociais é dizer que odeiam aquilo que na verdade amam profundamente. O mito da Globolixo, por exemplo, é uma grande mentira montada por pessoas fanáticas pela Rede Globo só para dizer que “não são influenciadas” pela mídia. Essa mentira tem uns vinte anos mas só foi encampada pelos bolsonaristas de uns dez anos para cá, até porque eles são tietes da concorrente, a Record TV.
Há o caso ouvintes da 89 FM que, nos anos 1980, falavam mal da Jovem Pan sem saber do comportamento “gêmeo” das duas emissoras que, descontando o que rolava no toca-CD, eram praticamente a mesma coisa.
Há o caso de internautas que falam a gíria “balada” se esquecendo que fazem isso por influência da mesma Jovem Pan e de Luciano Huck, ao qual assistem com fidelidade religiosa mas se arrogam a mentir nas redes sociais de que “sempre odiaram o cara”.
Os caras consomem muita mídia mas, pelo que eles dizem, até parece que eles odeiam todo mundo: William Bonner, Fátima Bernardes, Galvão Bueno, Fausto Silva. O Faustão falava a palavra “galera”, outra gíria intragável, cerca de dez vezes por minuto, e o pessoal que também fala nessa proporção no entanto alega que odeia o apresentador por este ou aquele motivo.
É aquela coisa. Tem muito internauta que declara odiar tudo aquilo que ama, com medo de ter um vínculo com aquilo que, um dia, pode sucumbir à decadência. Ninguém quer navegar em barco furado e o hipócrita é capaz de embarcar numa causa que ele repudia para obter vantagens pessoais, que nem aquele capanga de pirata que se apressa em embarcar no navio inimigo e se passar por tripulante deste.
Imagine o pessoal ir a missa todo domingo e dizer que odeia o padre. É o que acontece nas redes sociais. E isso lembra muito uma parábola do bom discípulo que nos ensina muito.
Duas duplas de mestres e discípulos existem numa sociedade. A primeira dupla mostra mestre e discípulo brigando e rompendo relações e a segunda dupla mostra o discípulo sempre empenhado em lisonjear o mestre com elogios e votos de fidelidade.
As duplas se separam e o discípulo da primeira dupla, o que rompeu com o mestre, manifestou-se fiel aos ensinamentos, enquanto o da segunda dupla, o que jurava fidelidade, cometeu graves, vergonhosas e preocupantes traições.
Isso diz muito sobre o Brasil de hoje e, sobretudo, sobre os internautas que dominam as redes sociais no nosso país.
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