A prisão, ontem, do dirigente esportivo José Maria Marin, que meses atrás era presidente da Confederação Brasileira de Futebol, gerou um impacto devastador na cúpula dos dirigentes esportivos brasileiros e os internacionais associados.
Quem leu os livros Jogo Sujo (Foul!) e Um Jogo Cada Vez Mais Sujo, do jornalista escocês Andrew Jennings, e O Lado Sujo do Futebol, de Amauri Ribeiro Jr., Luiz Carlos Azenha, Leandro Cipoloni e Tony Chastinet, não se surpreende com a prisão de Marin e outros seis "cartolas" (como são conhecidos os dirigentes esportivos), mas até sente um alívio.
Já quem não conhece os bastidores do futebol - abafados pelo tendenciosismo noticioso da maioria da imprensa esportiva - e fica achando que o esporte só vive de jogadores e torcedores, sentirá um certo abalo emocional, mesmo quando sente uma pequena aversão pelos "cartolas".
Isso porque há uma certa apreensão em ver o espetáculo do futebol se desmoronar. Os livros contam horrores sobre o futebol e, entre outras coisas, confirmam o que muitos pensam ser "teoria conspiratória" de chatos que não apreciam a "religião da emoção": a Copa do Mundo 2002 nunca foi mais do que uma grande farsa.
A Seleção Brasileira de Futebol estava tão ruim - mesmo as exceções (Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo) não ajudavam num time sem entrosamento por causa da dispersão dos "estrangeiros" (jogadores que atuam no exterior) - que nas Eliminatórias de 2001 a CBF e a FIFA deram um jeitinho de afastar a Seleção do Chile do páreo, para favorecer os "canarinhos".
Na Copa da Coreia do Sul e Japão, a Seleção Brasileira atuou de forma medíocre, mas foi favorecida pelas conveniências. Estranhamente, grandes times nacionais foram "eliminados" de maneira fácil demais, e a Seleção da Inglaterra estava muito estranha, mesmo para seus piores jogos, quando enfrentou a Seleção Brasileira, em 21 de junho de 2002.
A "nossa seleção" jogou mal, os jogadores estavam agressivos e sem entrosamento, enquanto os ingleses pareciam querer ganhar, no primeiro tempo. Ronaldinho Gaúcho fez o primeiro gol, mas depois agrediu um rival, e sua irritação lhe rendeu um cartão vermelho.
No segundo tempo, a Seleção Brasileira jogou mal, mas os ingleses estranhamente "liberaram" o espaço para Rivaldo fazer o segundo gol, de tal forma que parecia que o time da Inglaterra foi combinado pelos "cartolas" a não ganhar dos jogadores brasileiros.
A corrupção envolvendo José Maria Marin pode impulsionar a condenação a outros dirigentes, além de inspirar uma campanha pela saída de Joseph Blatter da corrida para mais um mandato na FIFA, que, apesar de suíço, é ligado a João Havelange e aos interesses deste e de Ricardo Teixeira.
MARIN E O DONO DA 89 FM "A RÁDIO ROCK"
Mas a atuação dos dirigentes esportivos em prol da Seleção Brasileira de Futebol sempre foi cheia de fraudes. Os citados livros contam tudo com detalhes, como resultado de um cuidadoso trabalho investigativo cujo episódio mais recente é a contratação fraudulenta de Neymar dos Santos Jr. para o Barcelona, antes de finalizar o contrato dele com o Santos Futebol Clube.
José Maria Marín surgiu como político da ARENA (Aliança Renovadora Nacional) que, sabemos, foi berço político dos "progressistas" Fernando Collor, Jaime Lerner e Mário Kertèsz (este um grande amigo dos "cartolas" baianos).
Marin era ligado a Paulo Maluf e, com ele, era colega e amigo de José Camargo, dono da "rádio rock" 89 FM de São Paulo. Há quem aposte que a amizade entre Marin e Camargo influenciou na criação de programas sobre humor e futebol na "rádio rock", uma associação forçada, pois o rock nunca foi o ritmo mais apreciado pela maioria esmagadora de jogadores e torcedores de futebol.
Marin tem sua história ligada a um fato bastante negativo. A TV Cultura de São Paulo, cujo diretor de redação era Vladimir Herzog, havia, por protesto, se recusado a fazer reportagem de uma obra do Governo do Estado de São Paulo. Isso causou um incômodo entre os políticos da ditadura e alguns discursos agressivos eram feitos na Assembleia Legislativa estadual.
Marin havia feito um discurso bastante agressivo e foi um dos que mais defenderam a prisão de Herzog. Graças à sua campanha, Herzog não só foi preso como foi assassinado e seus matadores do DOI-CODI forjaram um enforcamento para inventar que o jornalista havia se suicidado.
O fato, em 1975, provocou uma grave crise política da ditadura, já abalada pela crise econômica que derrubou o "milagre brasileiro". A crise fez com que a ditadura militar se desgastasse até ser extinta dez anos depois.
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