Jair Bolsonaro traiu sua promessa de que seu governo seria de disciplina, combate à ideologia e ao aparelhamento do Estado.
Ele prometeu que seu governo seria o da transparência, da objetividade e da competência técnica.
Muitos caíram nessa conversa, que não me convenceu. Tanto que não votei no "mito".
E agora seu governo está cheio de tantos desastres que até o mercado e a mídia hegemônica que, no começo deste ano, pareciam entusiasmados com ele, já começam a criticá-lo.
Jair Bolsonaro já não é mais o homem de palavra que parecia ser no imaginário dos seus fanáticos seguidores.
Ele recuou tanto que até a mídia que lhe era solidária deixou de ter confiança nele.
Exemplos são o aumento do IOF - que iria pôr em contradição o presidente que prometeu não reajustar impostos - , a oferta da base militar de Alcântara (MA) aos EUA e as mudanças nos livros didáticos.
Os livros didáticos iriam vir sem revisão de erros e sem referências bibliográficas, uma obrigação técnica que, no Brasil, segue os padrões determinados pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
No entanto, o novo edital, que acusava o anterior de seguir ainda os ranços "ideológicos" (sic) do governo Michel Temer, promete seguir o "padrão Olavo de Carvalho" da atual orientação do Ministério da Educação, nas mãos de Ricardo Veléz Rodriguez.
Rodriguez tem a mesma visão medieval que orienta a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (que viu Jesus numa goiabeira) e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (que disse que o aquecimento global é invenção comunista).
Essa visão medieval faz com que boa parte da pauta do governo Jair Bolsonaro esteja fora de sintonia com os tempos atuais.
Isso porque apostam em assuntos já superados e obsoletos como a tese Criacionista (o mundo surgiu com Adão e Eva) e a falácia da Terra Plana, que só fazia sentido até o século XVI.
Diante desse quadro que desmente o rótulo de "governo do novo", envergonhadamente evocado pelos bolsomínions, Bolsonaro mais aparelha do que desaparelha, sob a desculpa de "desideologizar o Estado".
Seu ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ficou tão afobado em demitir funcionários públicos visando eliminar o ranço do PT, que seu gabinete ficou paralisado, sem gente no quadro técnico.
Além disso, descobriu-se, segundo informa a revista Piauí, só três dos 293 exonerados eram do Partido dos Trabalhadores, o que significa que 290 foram defenestrados de maneira precipitada.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro já era conhecido por ser muito amigo do ex-assessor de sua família, Fabrício Queiroz, que teve uma cirurgia de retirada de tumor maligno feita num hospital caríssimo, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que acolheu o "mito" após o atentado.
E aí vieram outras camaradagens.
O seu vice, general Antônio Hamilton Mourão, teve seu filho, homônimo, promovido em três níveis, triplicando seu salário no Banco do Brasil.
Mourãozinho passou de assessor empresarial da Diretoria de Agronegócio para assessor especial do presidente Bolsonaro, da parte da instituição. O salário passou de R$ 12 mil para R$ 37,5 mil.
O episódio foi tão escandaloso que muitos dos bolsomínions ficaram indignados com a nomeação. E ainda mais quando vários servidores públicos pró-Bolsonaro correm o risco de serem demitidos.
Ontem mesmo eu e meu irmão perguntávamos por que as pessoas não vestem mais aquelas camisetas com a foto ou o nome de Bolsonaro.
Onde estão as camisetas "estilo Ramones" ou "estilo Poderoso Chefão"? E a camiseta especial da CBF com o número 17 do "craque" Jair (não um antigo jogador, mas o "mito", mesmo)?
Mais nomeações, como a de Carlos Motta dos Santos, que vertiginosamente subiu do cargo de superintendente do BB na Bahia para a vice-presidência de Distribuição de Varejo da instituição.
E aí veio outro escândalo, quando houve a indicação, para o cargo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, do amigo pessoal de Jair Bolsonaro, o capitão em reserva da Marinha, Carlos Nagem.
Foi outra notícia que irritou os brasileiros, inclusive os bolsonaristas. A nomeação, como as demais aqui citadas, foi feita em caráter político, e não técnico.
Imaginamos se Sérgio Porto, que ontem, se estivesse vivo, teria feito 96 anos, tivesse fôlego para lançar um novo volume da série FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País).
Só o período que vem da campanha presidencial de Jair Bolsonaro para os primeiros doze dias de seu governo daria um grosso volume.
O governo Jair Bolsonaro tende a se transformar numa das pérolas do surrealismo brasileiro.
Comentários
Postar um comentário