Pular para o conteúdo principal

PROPOSTA PUNITIVISTA DE BOLSONARO SÓ TRARÁ DOR PARA OS BRASILEIROS

PARA QUEM ACHA "UM CLÁSSICO" COMERCIAIS COMO O DA SEMP-TOSHIBA, QUE FAZIA ALUSÃO A FEMINICÍDIO, TANTO FAZ O BRASIL VIRAR UM BANGUE-BANGUE.

A proposta de armar a população comum de Jair Bolsonaro é pior do que se pode imaginar e se voltará para os próprios defensores.

Antes dessa proposta ser sancionada, ainda com a vitória parcial de Bolsonaro, no primeiro turno da campanha presidencial, as aulas de tiro aumentaram seus frequentadores.

O caráter punitivista dos brasileiros não é de hoje. Na ditadura militar, esse "holocausto a varejo" já corria solto e intenso, conforme os noticiários mostravam.

Conflitos familiares e conjugais, assaltos, pistolagem, estupros seguidos de morte, tantas coisas terríveis já ocorriam nos anos 1970 e não pararam de ocorrer até hoje.

Essas ocorrências trágicas apenas ganharão o "selo de certificação" do governo Bolsonaro. A antiga carnificina, que fazia a festa da imprensa policialesca, apenas será oficializada e institucionalizada.

A liberação do porte de armas só vai piorar as coisas, por conta desse estímulo legal.

E isso tem um fundo moralista que mostra a vocação autoritária e violenta de uma boa parcela de brasileiros, nesses tempos em que o mito do "brasileiro cordial" foi morto e sepultado.

Temos as religiões evangélicas do tipo pentecostal, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que adotam uma imagem punitivista de Deus e até de Jesus Cristo.

Temos o "Espiritismo" brasileiro, o daquele "médium de peruca ou boné", que, apesar da imagem dócil e melífula, também adota um moralismo punitivista.

Os ditos "espíritas" atribuem o sofrimento extremo de muitos brasileiros a um "pagamento de uma sentença moral severa", sem que fundamento algum fosse usado para explicar isso.

Fala-se até de "reajustes espirituais" e "resgates morais". E o "nosso Espiritismo" adora culpabilizar a vítima, dizendo que ela foi algum algoz na Idade Média.

E há até "resgates coletivos", uma falácia sem pé nem cabeça que atribui um mesmo destino a diferentes pessoas, estranhas entre si, que são atingidas por uma tragédia que ocorrem num mesmo lugar.

O cara está na fila do pão, junto a pessoas às quais ele não dirige uma só palavra, aí ocorre um atentado terrorista e os "iluminados espíritas", no seu juízo de valor, dizem que a multidão ocasional tinha um "destino comum", uma mesma "fatalidade". Isso não tem lógica alguma!

Fora disso, temos uma mídia e um mercado publicitário que adoram alguma violência.

Nos anos 1990, o que mais passava na Sessão da Tarde eram filmes violentos. Até filmes de ação da pesada como Desejo de Matar eram jogadas em plena tarde. Comédias inocentes e alegres de Charlie Chaplin eram jogadas na madrugada, vejam só!

Foi nessa época que teve um comercial da marca de televisões Semp-Toshiba, no ar entre 1994 e 1995 e exibida no intervalo do Jornal Nacional.

Na peça publicitária aparece uma fila de um cinema, e, de repente, um menino peralta surge ao fundo gritando "A mocinha morre no final! Quem matou foi o marido!".

Bingo! Alusão ao feminicídio. Fiquei abismado quando vi a página do vídeo no YouTube e os comentários não citassem o feminicídio, mas considerassem o comercial "divertido" e "um clássico".

O público cinéfilo médio está acostumado a finais felizes e, então, o feminicídio, para eles, seria o "final feliz".

E se a mocinha é morta pelo marido, no final do filme, ele também é um mocinho? Na sociedade patriarcalista e punitivista, talvez.

É claro que a liberação de armas também causará muita dor ao "cidadão de bem" que passar a brincar de justiceiro.

Assaltantes armados vão entrar em ação, porque até eles terão acesso às armas facilitado, e, assim, eles tomarão as armas dos "justiceiros bacanas".

O aumento de armas roubadas e do comércio clandestino das mesmas será impulsionado de maneira surpreendente. O feitiço virará contra o feiticeiro.

Além disso, "cidadãos de bem" perderão a cabeça em discussões momentâneas, e, numa fúria de uns dois minutos, atiram no interlocutor e ele morre. 

Diante disso, os diversos conflitos emocionais do homicida também podem abreviar sua vida, com nervosismo, depressão, arrogância e vergonha, que levarão o "matador do bem" a contrair câncer ou sofrer risco de um infarto.

Sem falar que o "matador do bem" sofrerá inúmeras ameaças de morte de odiadores (haters) espalhados nas redes sociais.

O MST e figuras como Marielle Franco serão mortas. 

A pistolagem no campo, que já havia aumentado nos últimos anos, se multiplicará, mesmo quando sabemos que os pistoleiros, em maioria, também não gozam de grande expectativa de vida (que gira em torno de 45-54 anos de idade).

Haverá também aumentos de suicídios, com o acesso facilitado a uma arma.

E tiros acidentais, que fazem com que crianças matem amiguinhos achando que a arma é de brinquedo.

E ainda há o caso das mortes se agravarem nos hospitais, porque, com menos médicos após o fim do Mais Médicos, feridos recuperáveis podem morrer por falta ou demora no atendimento.

Além disso, há ainda a ameaça maior: à democracia.

Com o bangue-bangue que será gerado com a liberação de armas, Jair Bolsonaro depois verá que isso provocou uma desordem social e vai endurecer as leis, tornando seu governo ainda mais autoritário.

Foi esse clima de caos, como no conflito estudantil da Rua Maria Antônia, em São Paulo, um dos fatores que impulsionaram o AI-5.

A liberação do porte de armas só vai trazer esse pesadelo para o Brasil, e quem pagará caro é justamente quem apoiou isso e acha que vai poder brincar de ser "justiceiro" nas ruas ou em casa.

Ninguém imaginou esse pesadelo quando transformou, em 28 de outubro de 2018, as urnas eleitorais em baldes de vômito.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

AXÉ-MUSIC SOA MOFADA, COMO TODA MÚSICA BREGA-POPULARESCA

A AXÉ-MUSIC SERVE DE TRILHA SONORA PARA A ALEGRIA E O AMOR TORNADOS MERAS MERCADORIAS DE CONSUMO. A música brega-popularesca pode fazer sucesso estrondoso nas rádios, lotar plateias e atingir o grande público. Mas, passados seis meses, essas músicas soam velhas e não adianta a blindagem de intelectuais e críticos tentar exumar esses cadáveres sonoros porque o merecimento é inevitável. A título de comparação, canções da Legião urbana e de Cazuza ainda mantém o frescor de novas. E isso é irônico, pois Cazuza e Renato Russo estão falecidos há, respectivamente, 35 e 29 anos, portanto, muito tempo.  Os ídolos popularescos, no entanto, podem estar vivos e, todavia, seus sucessos perecem rapidamente. Seus primeiros sucessos já soam mais antigos do que parecem e mesmo quem adora essas músicas terá que admitir isso, até pela fugacidade de suas vidas frenéticas. Mas, para quem acha que Chaves é humor de vanguarda vai pensar que os sucessos popularescos são “modernos” e “atemporais”. A axé-mu...

A SOCIEDADE HIPERMERCANTIL E HIPERMIDIÁTICA

CONSUMISMO, DIVERSÃO E HEDONISMO OBSESSIVOS SÃO AS NORMAS NO BRASIL ATUAL. As pessoas mais jovens, em especial a geração Z mas incluindo também a gente mais velha nascida a partir de 1978, não percebe que vive numa sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. Pensa que o atual cenário sociocultural é tão fluente como as leis da natureza e sua rotina supostamente livre esconde uma realidade nada livre que muitos ignoram ou renegam. Difícil explicar para gente desinformada, sobretudo na flor da juventude, que vivemos numa sociedade marcada pelas imposições do mercado e da mídia. Tudo para essa geração parece novo e espontâneo, como se uma gíria fabricada como “balada” e a supervalorização de um ídolo mediano como Michael Jackson fossem fenômenos surgidos como um sopro da Mãe Natureza. Não são. Os comportamentos “espontâneos” e as gírias “naturais” são condicionados por um processo de estímulos psicológicos planejados pela mídia sob encomenda do mercado, visando criar uma legião de c...

COVID-19 TERIA MATADO 3 MIL FEMINICIDAS NO BRASIL

Nos dez anos da Lei do Feminicídio, o machismo sanguinário dos feminicidas continua ocorrendo com base na crença surreal de que o feminicida é o único tipo de pessoa que, no Brasil, está "proibida de morrer". Temos dois feminicidas famosos em idade de óbito, Pimenta Neves e Lindomar Castilho (87 e 84 anos, respectivamente), e muitos vão para a cama tranquilos achando que os dois são "garotões sarados com um futuro todo pela frente". O que as pessoas não entendem é que o feminicida já possui uma personalidade tóxica que o faz perder, pelo menos, 20 anos de vida. Mesmo um feminicida que chega aos 90 anos de idade é porque, na verdade, chegaria aos 110 anos. Estima-se que um feminicida considerado "saudável" e de boa posição social tem uma expectativa de vida correspondente a 80% de um homem inofensivo sob as mesmas condições. O feminicida tende a viver menos porque o ato do feminicídio não é um simples desabafo. No processo que se dá antes, durante e depois ...

ESTÁ BARATO PARA QUEM, CARA PÁLIDA?

A BURGUESIA DE CHINELOS ACHA BARATO ALUGUEL DE CASA POR R$ 2 MIL. Vivemos a supremacia de uma elite enrustida que, no Brasil, monopoliza as formas de ver e interpretar a realidade. A ilusão de que, tendo muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais dos quais umas centenas concordam com quase tudo, além de uma habilidade de criar uma narrativa organizada que faz qualquer besteira surreal soar uma pretensa verdade, faz da burguesia brasileira uma classe que impõe suas visões de mundo por se achar a "mais legal do planeta". Com isso, grandes distorções na interpretação da realidade acabam prevalecendo, mais pelo efeito manada do que por qualquer sentido lógico. "Lógica " é apenas uma aparência, ou melhor, um simulacro permitido pela organização das narrativas que, por sorte, fabricam sentido e ganham um aspecto de falsa coerência realista. Por isso, até quando se fala em salários e preços, a burguesia ilustrada brasileira, que se fantasia de "gente si...

ED MOTTA ERROU AO CRITICAR MARIA BETHÂNIA

  Ser um iconoclasta requer escolher os alvos certos das críticas severas. Requer escolher quem deveria ser desmascarado como mito, quem merece ser retirado do seu pedestal em primeiro lugar. Na empolgação, porém, um iconoclasta acaba atacando os alvos errados, mesmo quando estes estão associados a certos equivocos. Acaba criando polêmicas à toa e cometendo injustiças por conta da crítica impulsiva. Na religião, por exemplo, é notório que a chamada opinião (que se torna) pública pegue pesado demais nos pastores e bispos neopentecostais, sem se atentar de figuras mais traiçoeiras que são os chamados “médiuns”, que mexem em coisa mais grave, que é a produção de mensagens fake atribuídas a personalidades mortas, em deplorável demonstração de falsidade ideológica a serviço do obscurantismo religioso de dimensões medievais. Infelizmente tais figuras, mesmo com evidente charlatanismo, são blindadas e poupadas de críticas e repúdios até contra os piores erros. É certo que a MPB autêntica ...

COMO A BURGUESIA DE CHINELOS DISSIMULA SUA CONDIÇÃO SOCIAL?

A BURGUESIA ENRUSTIDA BRASILEIRA SE ACHA "POBRE" PORQUE, ENTRE OUTRAS COISAS, PAGA IPVA E COMPRA MUITO COMBUSTÍVEL PARA SEUS CARRÕES SUV. A velha Casa Grande ainda está aqui. Os golpistas de 1964 ainda estão aqui. Mas agora essa burguesia bronzeada se fantasia de “gente simples” e se espalha entre o povo, enquanto faz seus interesses e valores prevalecerem nas redes sociais. Essa burguesia impõe seus valores ou projetos como se fossem causas universais ou de interesse público. A gíria farialimer “balada”, o culto aos reality shows , o yuppismo pop-rock da 89 FM, Rádio Cidade e congêneres, a exaltação da música brega-popularesca (como a axé-music, o trap e o piseiro), a pseudo-sofisticação dos popularescos mais antigos (tipo Michael Sullivan e Chitãozinho & Xororó) e a sensação que a vida humana é um grande parque de diversões. Tudo isso são valores que a burguesia concede aos brasileiros sob a ilusão de que, através deles, o Brasil celebrará a liberdade humana, a paz soc...

A EXPLOSÃO DO SENSO CRÍTICO QUE ENVERGONHA A "BOA" SOCIEDADE

Depois de termos, em 2023, o "eterno" verão da conformidade com tudo, em que o pensamento crítico era discriminado e a regra era todos ficarem de acordo com um cenário de liberdade consumista e hedonista, cuja única coisa proibida era a contestação, o jogo virou de vez. As críticas duras ao governo Lula e as crises sociais do cenário sociocultural em que temos - como a queda da máscara do "funk" como suposta expressão do povo pobre, quando funqueiros demonstraram que acumularam fortunas através dessa lorota - mostram que o pensamento crítico não é "mera frescura" de intelectuais distópico-existencialistas europeus. Não convencem os boicotes organizados por pretensos formadores de opinião informais, que comandam as narrativas nas redes sociais. Aquele papo furado de pedir para o público não ler "certos blogues que falam mal de tudo" não fez sentido, e hoje vemos que a "interminável" festa de 2023, da "democracia do sim e nunca do nã...

THE ECONOMIST E A MEGALOMANIA DA BURGUESIA DE CHINELOS ATRAVÉS DO "FUNK"

A CANTORA ANITTA APENAS LEVA O "FUNK" PARA UM NICHO ULTRACOMERCIAL DE UM RESTRITO PÚBLICO DE ORIGEM LATINA NOS EUA. Matéria do jornal britânico The Economist alegou que o "funk" vai virar uma "febre global". O periódico descreve que "(os brasileiros modernos) preferem o sertanejo, um gênero country vibrante, e o funk, um estilo que surgiu nas favelas do Rio. O funk em particular pode se tornar global e mudar a marca do Brasil no processo". Analisando o mercado musical brasileiro, o texto faz essa menção em comparação com a excelente trilha sonora do filme Eu Ainda Estou Aqui , marcada por canções emepebistas, a julgar pela primeiro sucesso póstumo de Erasmo Carlos, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", uma antiga canção resgatada de um LP de 1971. "A trilha sonora suave do filme alimenta a imaginação dos estrangeiros sobre o Brasil como um país onde bandas de samba e bossa nova cantam canções jazzísticas em calçadões de areia. Mas ...