LULA QUER EXERCER MONOPÓLIO SOBRE A DEMOCRACIA.
Na vida, quando se conquistam vantagens, devemos sempre tomar cuidado e pensar. Será que vamos realizar, absolutamente, todos os nossos desejos? Será que aquilo que mais queremos está garantido? Será que, antes do campeonato, podemos nos julgar vitoriosos por antecipação? Será que não tem uma barreira no caminho?
É preocupante a euforia em torno do presidente Lula, pois ela atinge níveis bastante tóxicos. Um entusiasmo acima dos limites cogitáveis para a espécie humana. É um sentimento surreal que nem condiz à linha do tempo do golpismo de 2016, e que nem é o povo que está sentindo, até porque não canso de ver o povo pobre irritado com Lula, que se sente o maioral abraçado com a burguesia ilustrada.
Tudo isso é um clima que não está de acordo com a realidade, por mais que se articule uma rede de apoios para permitir a reeleição de Lula. Afinal, tivemos todo um caminho do golpe de 2016 e, de repente, da noite para o dia, passamos do inferno para o paraíso, sem escalas.
É um sentimento do tipo “tem que ser assim” que dá uma boa ideia do autoritarismo neurótico de uma parcela privilegiada de brasileiros, que têm a arrogância de se impor ao Destino. A reeleição de Lula foi retomada pela indústria de pesquisismos e relatorismos, dentro de uma histeria obsessiva que deveria ser considerada um problema de sanidade mental, se nosso país fosse um pouco mais sério.
O futuro sugere que as pessoas que perseguem uma meta considerem possibilidades e também probabilidades, mas nunca certezas. O que preocupa nos lulistas é sua obsessão pela certeza, cotada no verso do famoso jungle de campanha, mas levada até as últimas consequências.
Isso não tranquiliza o povo. Isso aflige. Afinal, a certeza da reeleição de Lula não é viável, por conta da idade avançada dele, que por sinal tem um histórico de tabagismo e consumo regular de álcool no passado, o que mostra que o petista nenhum garotão é. Com 80 anos, Lula até tem a saúde sob controle, mas não tem o anunciado vigor que tanto se alardeia, até porque, a cada semana, ele tem que governar três dias e descansar quatro. E, como político veterano, a última coisa que ele poderia representar é o “novo” na política.
Lula não arrumou herdeiro político e erra por se achar autossuficiente. Uma democracia de um homem só, na ilusão de um indivíduo ser considerado a “síntese dos desejos de um país” só revela uma autocracia cordial, que empolga a elite do bom atraso mas faz o povo pobre focar desconfiado.
E vamos combinar que Lula tornou-se o mordomo da burguesia ilustrada, a elite do bom atraso que se acha "a mais esclarecida e bacana do mundo". Os descendentes dos golpistas de 1964 são mais espertos que seus avós, por isso não precisa derrubar um político de esquerda, mas amestrá-lo e fazê-lo atender a seus interesses, sob a desculpa da "democracia". A Casa Grande é que mais está apaixonada por Lula e a reeleição dele tornou-se sua maior obsessão, dentro desse teatrinho do "esquerdismo de resultados".
Devemos nos lembrar de que democracia não se impõe. Democracia não pode servir de monopólio de um único homem. Pouco importa se Lula é considerado por muitos a “melhor opção”, se bem que seu terceiro mandato foi medíocre em relação aos anteriores, apesar de bastante ambicioso e midiático.
Democracia tem que ter outras opções de escolha, tem que ter diversidade eleitoral, a competitividade não é qualidade de um único candidato se ele monopoliza o jogo político. Não pode existir um único candidato competitivo, pois não se pode ser competitivo sem competição e sem concorrentes. Lula quer uma competição desleal e desigual, na qual somente ele deve ficar em vantagem.
A histeria em torno de Lula nas redes sociais mostra o quanto a burguesia ilustrada que agora é a prioridade do petista só quer a “democracia” para si, como há 100 anos na República Velha as oligarquias se achavam “o povo”. Mas uma vez temos um jogo de faz-de-conta de um governo de contos de fadas que prefere fazer o Brasil flutuar em nuvens do que andar com os pés no chão.
Nessa euforia tóxica, Lula quer que o brasileiro volte a sonhar. O problema é que, fora da bolha lulista, o povo pobre da vida real continua sonhando pesadelos.
Comentários
Postar um comentário