CERTOS RELIGIOSOS COM LÁBIOS DE MEL E SEMBLANTE SERENO JULGAM QUE O SOFRIMENTO EXTREMO HUMANO, COMO A ESCRAVIDÃO, SÃO O "CAMINHO PARA A FELICIDADE HUMANA".
Muita gente pensa que o pior obscurantismo da fé religiosa está nas seitas neopentecostais. Grande engano. O raivismo dos neopentecostais é tão explícito que chega ao nível de caricatura ou mesmo de humorismo involuntário, com pastores e “bispos” histéricos e, às vezes, falando em “línguas”, através de uma risível balbuciação.
O que poucos percebem é a gravidade de seitas ditas “espiritualistas”, a começar pelo próprio Espiritismo brasileiro, o Catolicismo da Idade Média redivivo e fundamentado pela Teologia do Sofrimento da Idade das Trevas, servida aqui sob a máscara de uma moral severa e falsamente progressista.
Esse moralismo, pregado ao arrepio da Doutrina Espírita original francesa, pede para as pessoas sofrerem uma série de adversidades sem fim, caladas, resignadas e, muitas vezes, impotentes para resolver os problemas e até tendo que encarar até ameaças e represálias. E tudo isso diante de sorrisos perversos de “médiuns”, palestrantes e tarefeiros “espíritas” que, com seus lábios de mel, enganam milhões de brasileiros que acreditam que eles representam uma benevolência e uma honestidade que, em verdade, nunca existe.
A hipocrisia gritante desses pregadores do obscurantismo do Espiritismo brasileiro é tanta que eles são severos e taxativos no seu moralismo punitivista na véspera, claros e explícitos em suas pregações, mas quando são criticados, eles desmentem a si mesmos e, acovardados, tentam dizer “não é bem isso que eu disse”.
A firmeza desses vendilhões da esperança, que transformam a desgraça humana em moeda de troca para as “bençãos futuras”, se converte então na covarde insegurança de quem cria desculpas e desmentimentos quanto aos juízos de valor de véspera.
Se no primeiro dia eles falam que a pessoa “tem que sofrer” e que a vida “não é fácil”, sempre teorizando a desgraça humana como um “caminho curto para Deus”, no segundo dia já dizem que “ninguém nasceu para sofrer” e que as “adversidades são ensinamentos para uma vida melhor”. Passam a vestir a capa do paternalismo benevolente para ocultar a severidade do juízo de véspera.
E por que eles são vendilhões da esperança? É porque eles precisam receber a “comissão” do assistencialismo moral. Eles precisam de sofredores para vender esperança, como quem precisa de problemas para vender a solução.
É como um trabalho comissionado. Os religiosos desse porte mais parecem caçadores de sofredores. E chegam a sentir uma alegria mal disfarçada quando ouvem alguém dizer que sofre demais na vida. Muitos imaginam que esses religiosos de fala suave, que pedem para o sofredor permaneça no sofrimento ou que saia dele sempre com muita dificuldade, são um misto de generosidade, sabedoria e responsabilidade.
Mas não são. Esses religiosos não agem por altruísmo, pois apenas "ajudam" visando obter pontos para o "ingresso para o Céu". Apenas compram comissões de pretensa santidade, embora caprichem na pose e tentam renegar essa ambição de obter as "riquezas celestiais". Religiosos assim lembram muito o personagem do moleiro no conto "O Amigo Dedicado" (The Devoted Friend) (1888), de Oscar Wilde.
Daí que vemos o quanto esses vendilhões da esperança, capazes de, com seus lábios de mel e corações de fel, dizerem que a pessoa que vive a pior desgraça está "no seu melhor momento". E esses lobos em peles de cordeiros pregam fora dos templos neopentecostais. Mas a Faria Lima, "espiritualista" que é, prefere que o senso comum se apegue sempre aos vilões caricatos, enquanto a verdadeira alcateia está devorando o rebanho.
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