Pular para o conteúdo principal

O "FUNK" QUE FORJA POLÊMICAS À TOA PARA GARANTIR AÇÃO DA PLUTOCRACIA


Mesmo vivo, Cabo Anselmo tornou-se um fantasma, que se encarnou no "funk".

Toda vez que o cenário político plutocrata, vigente desde 2016, entra numa grave crise, o "funk" entra em ação para forjar pretensa polêmica.

Algo que Anselmo fazia em 1963-1964.

Se apropriavam de pautas esquerdistas para, como movimentos "alienígenas", desviarem o debate para fora de questões importantes.

Foi no caso das reformas de base do governo João Goulart, no qual o desvio de foco foram as pautas justas, mas secundárias, dos militares de baixa patente.

Agora é a questão comportamental do "funk", a ditabranda do mau gosto, a glamourização da pobreza.

E, junto a isso, vem o discurso dos intelectuais "bacanas", uma parcela de intelectuais que faz apologia ao que eles chamam de "popular demais".

Esses intelectuais são de classe média, tão elitistas como o Movimento Brasil Livre, mas se acham "de esquerda" (embora falem mal da esquerda o tempo todo), escrevem na mídia de esquerda e se acham "mais povo que o próprio povo".

Só por beberem uma rodada de chope nos fins de semana se acham tão "gente como a gente" quanto os favelados que veem de maneira "bondosamente" etnocêntrica e paternalista.

Eles se tornam os propagandistas das crises da plutocracia, sejam essas crises a do governo Michel Temer, ou da Operação Lava Jato, ou da Rede Globo de Televisão etc.

Estoura uma crise dessas, é acionado o alarme: "agora vamos falar de funk".

Cria polêmica do nada, porque o "funk" não é uma rebelião popular, mas um mero ritmo dançante e exclusivamente comercial.

Só no Brasil é que a questão do comercial é vista de maneira esquizofrênica. O comercial é "não-comercial" e o não-comercial é que é "comercial".

Tese muito louca, mas explica-se: os critérios de "comercial" acabam valendo para o público rico e o "povão" é que é "não-comercial".

Grande engano. Anitta, Pabllo Vittar, Jojo Toddynho e agora MC Loma (depois de MC Kevinho e o controverso MC Diguinho), são, não apenas comerciais, mas ULTRACOMERCIAIS.

É o comercialismo musical e comportamental levado às mais derradeiras consequências. É o domínio do hit-parade dos EUA como modus operandi definitivo na música brasileira de sucesso.

Os intelectuais "bacanas" - agora com seu novo militante, Julinho Bittencourt - é que fazem "Revolução Cubana" em copo d'água, guevarizando o que é, na verdade, inócuo e mercantilista.

É um discurso que fica sendo muito chato, de defender a tal "cultura das periferias", o "popular demais", os "sucessos que falam da vida das pessoas", a "realidade das favelas" e outras falácias, muito bem construídas e persuasivas, mas bastante confusas.

Não vejo diferença entre o nível confuso e contraditório das apelações dos intelectuais "bacanas" em prol do "popular demais" do brega-popularesco e o nível confuso e contraditório de juízes da Operação Lava Jato em conduzir investigações e sentenças judiciais.

Não por acaso Pedro Alexandre Sanches e Sérgio Moro são filhos da mesma ultraconservadora Maringá.

Os intelectuais "bacanas", na verdade, são apenas "escadas" para os Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo e Kim Kataguiri que estão "no outro lado do front".

O intelectual "bacana" vai para a mídia de esquerda dizer que o "mau gosto popular" é o máximo.

A direita toma conhecimento e replica, dizendo que a esquerda só pensa em idiotizar a cultura brasileira.

De repente, gente reaça que não quer saber de povo se julga a "paladina" do "aprimoramento cultural das classes populares".

O documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda lançou bem mais do que intérpretes femininas do "funk".

Como o documentário, dirigido por Denise Garcia - vinda da mesma RBS de Augusto Nunes - , foi empurrado para as esquerdas, ele na verdade "empoderou" outras mulheres.

Foi através dessa glamourização da pobreza e do mau gosto do "popular demais" que vieram histéricas como Rachel Sheherazade, Janaína Paschoal e Cristiane Brasil.

Foi através da pregação dos intelectuais "bacanas" que, diante da polêmica montada, abriu o microfone para os reacionários que não têm o que dizer, mas acabam se projetando por dizerem o que não deve.

Rômulo Costa, no fundo amigo da Rede Globo e do PMDB carioca, se passou por "amigo do PT" para esvaziar e sabotar um protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff.

O dono da Furacão 2000 deu a deixa para seus amigos da Bancada da Bíblia no Congresso Nacional votarem pela expulsão da presidenta.

Cabo Anselmo superestimou pautas específicas e deu a deixa para os generais reagirem e decidirem pelo golpe militar de 1964.

Agora, quando se discute os vencimentos astronômicos e os benefícios extras a juízes, procuradores, promotores e outros magistrados, o "funk" vem desviar o debate e trazer confusão.

Enquanto se discute o "funk", a plutocracia atua nos bastidores para manter ou ampliar seu poder.

As esquerdas, mais uma vez, mordem a isca do apelo aparentemente populista do "funk".

Até depois se decepcionarem quando os funqueiros optarem por fazer campanha por Luciano Huck na Presidência da República. "Funk" é o caldeirão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

A SOCIEDADE HIPERMERCANTIL E HIPERMIDIÁTICA

CONSUMISMO, DIVERSÃO E HEDONISMO OBSESSIVOS SÃO AS NORMAS NO BRASIL ATUAL. As pessoas mais jovens, em especial a geração Z mas incluindo também a gente mais velha nascida a partir de 1978, não percebe que vive numa sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. Pensa que o atual cenário sociocultural é tão fluente como as leis da natureza e sua rotina supostamente livre esconde uma realidade nada livre que muitos ignoram ou renegam. Difícil explicar para gente desinformada, sobretudo na flor da juventude, que vivemos numa sociedade marcada pelas imposições do mercado e da mídia. Tudo para essa geração parece novo e espontâneo, como se uma gíria fabricada como “balada” e a supervalorização de um ídolo mediano como Michael Jackson fossem fenômenos surgidos como um sopro da Mãe Natureza. Não são. Os comportamentos “espontâneos” e as gírias “naturais” são condicionados por um processo de estímulos psicológicos planejados pela mídia sob encomenda do mercado, visando criar uma legião de c...

COVID-19 TERIA MATADO 3 MIL FEMINICIDAS NO BRASIL

Nos dez anos da Lei do Feminicídio, o machismo sanguinário dos feminicidas continua ocorrendo com base na crença surreal de que o feminicida é o único tipo de pessoa que, no Brasil, está "proibida de morrer". Temos dois feminicidas famosos em idade de óbito, Pimenta Neves e Lindomar Castilho (87 e 84 anos, respectivamente), e muitos vão para a cama tranquilos achando que os dois são "garotões sarados com um futuro todo pela frente". O que as pessoas não entendem é que o feminicida já possui uma personalidade tóxica que o faz perder, pelo menos, 20 anos de vida. Mesmo um feminicida que chega aos 90 anos de idade é porque, na verdade, chegaria aos 110 anos. Estima-se que um feminicida considerado "saudável" e de boa posição social tem uma expectativa de vida correspondente a 80% de um homem inofensivo sob as mesmas condições. O feminicida tende a viver menos porque o ato do feminicídio não é um simples desabafo. No processo que se dá antes, durante e depois ...

ESTÁ BARATO PARA QUEM, CARA PÁLIDA?

A BURGUESIA DE CHINELOS ACHA BARATO ALUGUEL DE CASA POR R$ 2 MIL. Vivemos a supremacia de uma elite enrustida que, no Brasil, monopoliza as formas de ver e interpretar a realidade. A ilusão de que, tendo muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais dos quais umas centenas concordam com quase tudo, além de uma habilidade de criar uma narrativa organizada que faz qualquer besteira surreal soar uma pretensa verdade, faz da burguesia brasileira uma classe que impõe suas visões de mundo por se achar a "mais legal do planeta". Com isso, grandes distorções na interpretação da realidade acabam prevalecendo, mais pelo efeito manada do que por qualquer sentido lógico. "Lógica " é apenas uma aparência, ou melhor, um simulacro permitido pela organização das narrativas que, por sorte, fabricam sentido e ganham um aspecto de falsa coerência realista. Por isso, até quando se fala em salários e preços, a burguesia ilustrada brasileira, que se fantasia de "gente si...

ED MOTTA ERROU AO CRITICAR MARIA BETHÂNIA

  Ser um iconoclasta requer escolher os alvos certos das críticas severas. Requer escolher quem deveria ser desmascarado como mito, quem merece ser retirado do seu pedestal em primeiro lugar. Na empolgação, porém, um iconoclasta acaba atacando os alvos errados, mesmo quando estes estão associados a certos equivocos. Acaba criando polêmicas à toa e cometendo injustiças por conta da crítica impulsiva. Na religião, por exemplo, é notório que a chamada opinião (que se torna) pública pegue pesado demais nos pastores e bispos neopentecostais, sem se atentar de figuras mais traiçoeiras que são os chamados “médiuns”, que mexem em coisa mais grave, que é a produção de mensagens fake atribuídas a personalidades mortas, em deplorável demonstração de falsidade ideológica a serviço do obscurantismo religioso de dimensões medievais. Infelizmente tais figuras, mesmo com evidente charlatanismo, são blindadas e poupadas de críticas e repúdios até contra os piores erros. É certo que a MPB autêntica ...

A EXPLOSÃO DO SENSO CRÍTICO QUE ENVERGONHA A "BOA" SOCIEDADE

Depois de termos, em 2023, o "eterno" verão da conformidade com tudo, em que o pensamento crítico era discriminado e a regra era todos ficarem de acordo com um cenário de liberdade consumista e hedonista, cuja única coisa proibida era a contestação, o jogo virou de vez. As críticas duras ao governo Lula e as crises sociais do cenário sociocultural em que temos - como a queda da máscara do "funk" como suposta expressão do povo pobre, quando funqueiros demonstraram que acumularam fortunas através dessa lorota - mostram que o pensamento crítico não é "mera frescura" de intelectuais distópico-existencialistas europeus. Não convencem os boicotes organizados por pretensos formadores de opinião informais, que comandam as narrativas nas redes sociais. Aquele papo furado de pedir para o público não ler "certos blogues que falam mal de tudo" não fez sentido, e hoje vemos que a "interminável" festa de 2023, da "democracia do sim e nunca do nã...

COMO A BURGUESIA DE CHINELOS DISSIMULA SUA CONDIÇÃO SOCIAL?

A BURGUESIA ENRUSTIDA BRASILEIRA SE ACHA "POBRE" PORQUE, ENTRE OUTRAS COISAS, PAGA IPVA E COMPRA MUITO COMBUSTÍVEL PARA SEUS CARRÕES SUV. A velha Casa Grande ainda está aqui. Os golpistas de 1964 ainda estão aqui. Mas agora essa burguesia bronzeada se fantasia de “gente simples” e se espalha entre o povo, enquanto faz seus interesses e valores prevalecerem nas redes sociais. Essa burguesia impõe seus valores ou projetos como se fossem causas universais ou de interesse público. A gíria farialimer “balada”, o culto aos reality shows , o yuppismo pop-rock da 89 FM, Rádio Cidade e congêneres, a exaltação da música brega-popularesca (como a axé-music, o trap e o piseiro), a pseudo-sofisticação dos popularescos mais antigos (tipo Michael Sullivan e Chitãozinho & Xororó) e a sensação que a vida humana é um grande parque de diversões. Tudo isso são valores que a burguesia concede aos brasileiros sob a ilusão de que, através deles, o Brasil celebrará a liberdade humana, a paz soc...

LULA QUER QUE A REALIDADE SEJA SUBJUGADA A ELE

LULA E O MINISTRO DA SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, SIDÔNIO PALMEIRA. A queda de popularidade do presidente Lula cria uma situação inusitada. Uma verdadeira "torre de Babel" se monta dentro do governo, com Lula cobrando ações dos ministros e o governo cobrando dos assessores de comunicação "maior empenho" para divulgar as chamadas "realizações do presidente Lula". Um rol de desentendimentos ocorrem, e acusações como "falta de transparência" e "incapacidade de se chegar à população" vêm à tona, e isso foi o tom da reunião que o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, publicitário responsável pela campanha de Lula em 2022, fez com 500 profissionais de assessorias de diversos órgãos do Governo Federal, na última sexta-feira. Sidônio criticou a falta de dedicação dos ministros para darem entrevistas para falar das "realizações do governo", assim como a dificuldade do governo em apresentar esses dados ao ...

THE ECONOMIST E A MEGALOMANIA DA BURGUESIA DE CHINELOS ATRAVÉS DO "FUNK"

A CANTORA ANITTA APENAS LEVA O "FUNK" PARA UM NICHO ULTRACOMERCIAL DE UM RESTRITO PÚBLICO DE ORIGEM LATINA NOS EUA. Matéria do jornal britânico The Economist alegou que o "funk" vai virar uma "febre global". O periódico descreve que "(os brasileiros modernos) preferem o sertanejo, um gênero country vibrante, e o funk, um estilo que surgiu nas favelas do Rio. O funk em particular pode se tornar global e mudar a marca do Brasil no processo". Analisando o mercado musical brasileiro, o texto faz essa menção em comparação com a excelente trilha sonora do filme Eu Ainda Estou Aqui , marcada por canções emepebistas, a julgar pela primeiro sucesso póstumo de Erasmo Carlos, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", uma antiga canção resgatada de um LP de 1971. "A trilha sonora suave do filme alimenta a imaginação dos estrangeiros sobre o Brasil como um país onde bandas de samba e bossa nova cantam canções jazzísticas em calçadões de areia. Mas ...