Foi humilhante e constrangedor o tratamento degradante que o icônico cantor, músico e compositor Milton Nascimento, um dos maiores da MPB autêntica, recebeu no Grammy 2025. Concorrendo, ao lado da cantora Esperanza Spalding, na categoria Melhor Álbum de Jazz com Vocal, através do disco Milton + Esperanza, Milton não teve um assento especial junto com a cantora e compositora e foi obrigado a se sentar na arquibancada. A dupla perdeu, na categoria, para Samara Joy.
É certo que a equipe do cantor do Clube da Esquina tentou minimizar o episódio, com uma mensagem publicada nas redes sociais com os seguintes termos:
"Esclarecimento:
O cantor e compositor Milton Nascimento não foi barrado e nem privado de ter um assento na cerimônia principal do Grammy.
Um dia antes, quando observamos os convites, constatamos que a Academia havia destinado um lugar para Esperanza, artista com quem Milton divide o disco indicado, nas mesas, entre os artistas principais ali presentes, enquanto destinaram para a lenda brasileira um lugar na arquibancada, desconsiderando não só toda a sua trajetória e prestígio em todo o mundo, como a sua idade avançada e impossibilidade de subir ou descer escadas.
Quando questionados pela equipe de Esperanza, alegaram que ficariam nas mesas apenas os artistas que eles queriam no vídeo.
Tendo em vista a carreira vitoriosa, o
reconhecimento e o respeito conquistado pelo genial artista brasileiro, optamos pela ausência dele na cerimônia principal.
Obrigado por todo o apoio, carinho e preocupação que todos estão nos dedicando.
O Brasil é gigante, tal qual é Milton Nascimento".
No entanto, achamos humilhante e vexaminoso, sim, pois Milton, pela sua produtiva carreira de grandes canções, e pelo seu talento tão grandioso que mesmo em discos menos inspirados sempre manteve sua música em um nível artisticamente satisfatório, mereceria um assento especial e um tratamento respeitoso, por conta de mais de seis décadas de carreira, incluindo o tempo em que ele, antes de seguir uma carreira autoral, era um crooner.
Devemos lembrar, no entanto, que o Grammy Awards não é um evento focado pela qualidade artística, mas pelo sucesso musical. A escolha por critérios artísticos pode ser uma eventualidade, mas o evento serve aos interesses dos burocratas da indústria fonográfica.
No entanto, os meios intelectuais e artísticos dos EUA respeitam e admiram profundamente Milton Nascimento. Vários discos estrangeiros do cantor foram produzidos para o mercado estadunidense. O recém-falecido maestro Quincy Jones era admirador e tornou-se amigo de Milton. Se vivo ainda estivesse, Quincy não teria aceitado o tratamento que Milton recebeu no Grammy.
E isso é contrastante com o que ocorre, no Brasil, em que a canastrice musical de Chitãozinho & Xororó e Michael Sullivan, tratados como se fossem reis, como na nostalgia fabricada do brega-vintage. E é deplorável que Sullivan, que pensou em destruir a MPB nos anos 1980, tenha se aproveitado dela para se relançar na carreira e, o que é pior, com a própria MPB passando pano no produtor.
A nossa MPB já não vive uma grande renovação faz tempo, e ainda é gratificante que ainda tenhamos, vivos, vários artistas na cada dos 70, 80 anos. Mas já não temos mais, entre nós, Gal Costa, Beth Carvalho, Moraes Moreira, Erasmo Carlos e Rita Lee.
Depois que Ivan Lins falou que sofreu depressão por problemas financeiros, e Milton Nascimento ter sido esnobado pelos burocratas do Grammy, vemos o quanto a MPB autêntica sofre um grande desprezo, sobretudo pela ignorância e desinformação da geração Z, totalmente infantilizada e ocupada em ouvir sonoridades mais medíocres.
Por isso devemos respeitar os mestres, como Milton Nascimento, um homem que respira e transpira música, marcado pelo seu talento humanista e sua obra vigorosa e de grande valor. E ver que os idosos da MPB continuam ativos e criando é gratificante. A MPB genuína merece respeito.
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