"NINGUÉM SEGURA ESSE PAÍS": GENERAL EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI, NO AUGE DA DITADURA, VISITANDO UM EVENTO PROMOVIDO PELO SESI, EM BRASÍLIA, EM 1972.
A preocupação com o otimismo exagerado do governo Lula não se dá por acaso. Não há lógica que permita que um país considerado devastado pelo bolsolavajatismo se transforme da noite para o dia, em um país prestes a se tornar desenvolvido. Há muitas estranhezas em torno dessa narrativa festeira.
Uma dessas estranhezas é ver que os próprios neoliberais, incluindo economistas dos EUA e o próprio FMI estão torcendo para ver o Brasil se tornar uma das cinco ou dez maiores economias do mundo. Gente que, até pouco tempo atrás, era radical defensora de golpes contra a nação brasileira, de repente apoiar, em tese, a emancipação político-econômica do nosso país?
Temos que avisar aos aloprados do deslumbramento com o momento de Lula 3.0 que não se pode confundir um convalescente com uma pessoa saudável. Da mesma forma, não podemos confiar quando os neoliberais de repente passaram a apoiar um projeto político que, na teoria, se compromete com causas esquerdistas. Algo deve estar estranho, de um modo ou de outro.
Sou jornalista e meu compromisso não é escrever textos agradáveis. Analiso fatos, não conto estórias de fadas e animais humanizados. Não posso viver no mundo da fantasia, e somente o negacionista factual e seus adeptos, movidos pelo medo da realidade, é que se atrevem a boicotar textos que escapem de suas visões fantasiosas, fabulosas e fantásticas.
As narrativas que prevalecem nas redes sociais - que praticamente monopolizam a chamada "opinião pública" - refletem o clima de "AI-SIMco" que vivemos, em que o padrão de "ver a realidade" sempre tem que seguir um patamar que não é necessariamente realista, mas envolve visões e abordagens compartilhados pela grande mídia empresarial e pela classe média abastada.
Quem fugir dessas narrativas oficiais pode não sofrer a violência física do DOI-CODI, situação hoje lembrada através do caso Rubens Paiva, retratado no filme Eu Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Mas sofre o cancelamento impiedoso da Internet, com o negacionista factual orquestrando o boicote a textos questionadores.
O negacionista factual tenta dar a impressão de que é um "guardião da democracia", fingindo apoiar o senso crítico nos níveis que ele diz serem "responsáveis". Mas seu comportamento não é muito diferente dos burocráticos sargentos que trabalhavam como funcionários da Censura Federal, no auge do AI-5, apenas havendo variações de contexto.
O governo Lula representou a repaginação das mesmas narrativas do "milagre brasileiro". De repente, muito da simbologia da ditadura militar passou a ser adotado pelo imaginário lulista, sobretudo a ênfase na palavra "democracia", que foi a palavra usada como pretexto para a "boa" sociedade da época para pedir o golpe civil-militar que derrubou João Goulart no Primeiro de Abril de 1964.
Durante anos, a ditadura militar foi definida como "revolução democrática". O ufanismo brasileiro, patriotada que marcou o período do "milagre brasileiro", marcou a euforia que pretendia fazer barulho e abafar os gritos ocultos nos porões da repressão, tortura e mortes. "Ninguém segura esse país" e "Brasil: Ame-o ou Deixe-o", eram os principais lemas divulgados naquela época.
Embora Lula tenha surgido como um sindicalista opositor da ditadura militar e a "democracia" que ele jura defender seja considerada "autêntica", nota-se que o atual presidente brasileiro está adotando símbolos que eram próprios dos períodos dos generais Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, sobretudo no que se diz aos padrões de "cultura popular" defendidos.
Neste "AI-SIMco" da positividade tóxica, do ufanismo redivivo e das supostas proezas econômicas que, novamente, não chegam às mesas das refeições dos brasileiros mais pobres, é compreensível que Lula tenha, ao mesmo tempo, subestimado o golpe de 1964 e, ao mesmo tempo, se apropriar do sucesso de Eu Ainda Estou Aqui, distorcendo as narrativas como se Rubens Paiva tivesse sido torturado por Jair Bolsonaro, que foi um adolescente nos tempos do general Médici.
Enquanto o ufanismo da ditadura militar falava em "milagre brasileiro" na Economia, o governo Lula hoje fala em "recordes históricos". Rótulos fantásticos de supostas façanhas econômicas que não refletem seguramente no cotidiano do povo pobre.
Ao discursar na inauguração de uma usina em Jupiá, no interior de São Paulo, como parte do Complexo Hidrelétrico de Urubupungá, em 1972, o general Médici havia dito, num improviso discursivo, que ali estava "uma contestação eloquente a todos os derrotistas que não acreditavam no Brasil". Até parece o mesmo discurso de Lula, hoje.
A obra em questão contou com a parceria com o Governo do Estado de São Paulo, então comandado por Roberto de Abreu Sodré. Poucos anos depois, o diretor de Jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, se recusou a noticiar uma obra do governo Abreu Sodré, o que deu na sua prisão e, pouco depois, na sua tortura e assassinato, fato do qual a ditadura tentou mentir dizendo que era "um suicídio".
O governo Lula parece reproduzir o "milagre brasileiro" no sentido de promover uma emancipação seletiva de brasileiros, que eu denomino, num termo irônico, de "Clube de Assinantes VIP da democracia lulista". Uma "frente ampla" social que vai de uma parcela "reMEDIAda" dos pobres até a burguesia "democrática", passando pela pequena burguesia e pelos famosos com grandes fortunas.
Tudo isso mostra o quanto o cenário brasileiro está terrível, e as notícias "otimistas" que garantem que o Brasil será "oitava maior economia" em 2028 e "quinta maior economia" em 2050 são bastante duvidosas. Esse é o mesmo discurso que se ouviu nos governos de Médici e Geisel, e Lula apenas adapta o discurso ufanista do "milagre brasileiro" para outros contextos.
A diferença, agora, é que, diferente do Brasil fantasioso da Era Médici e da Era Geisel, quando os brasileiros eram "convidados" a se exilar no exterior, no Brasil de contos de fadas de Lula 3.0, os brasileiros que estão fora da bolha lulista do Tik Tok e do Instagram buscam seu "refúgio" na realidade.
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