O governo Lula se desgasta e, fora da deslumbrada bolha lulista, o trabalho de Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação que foi o marqueteiro da campanha presidencial do petista em 2022, se tornará muito difícil.
Os aumentos dos combustíveis em R$ 0,22, os juros da dívida pública em 13,25%, a disparada do preço do café, a continuidade dos preços caros do azeite de oliva e a carestia dos alimentos em geral mostra o quanto o presidente Lula está com a popularidade baixa entre aqueles que justamente deveriam ser o foco maior do seu governo: os pobres, sub-escolarizados e os nordestinos.
De que adianta o presidente Lula falar grosso com os ministros e disparar comentários enérgicos contra figuras como o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se ele, tido como o maior líder popular do Brasil e considerado o "leão a rugir não só pelos quatro cantos do Brasil e do mundo", se ele consente com as altas dos preços, ele que poderia derrubar tudo isso com uma canetada?
É muito fácil arrumar desculpas aqui e ali, e nas redes sociais o que mais se faz é criar desculpa para qualquer besteira ou insanidade. E Lula, que tanto bradou contra as altas dos juros, quando o BC era presidido por Campos Neto, agora que tem um homem seu no cargo, aceitou aumentar os juros dizendo que "não pode dar cavalo de pau".
Depois Lula quer se apropriar do legado de Leonel Brizola, um político que era inclinado a tantas ousadias. Lula só fez jogo de cena contra a privatização da Eletrobras, quando seu vice Geraldo Alckmin afirmou que o governo não irá reestatizar estatais privatizadas. Se fosse Brizola, a Eletrobras teria sido devolvida ao Estado e os juros da dívida pública teriam baixado imediatamente.
Devemos esclarecer aos lulistas desavisados que opinar, propor e prometer não são sinônimos do verbo "agir". É vergonhoso que gente que se gaba em ter uma inteligência, em tese, mais refinada que a dos brasileiros médios, ter que tratar diferentes verbos como se fossem a mesma coisa, quando eles estão focados na figura pessoal de Lula.
Não se combate um problema falando. Uma opinião contrária a um fato adverso da vida socioeconômica dos brasileiros pode virar notícia, repercutir e causar lacração. Mas, sendo apenas um comentário, isso não pode ser entendido como uma ação concreta nem como uma tentativa de ação.
Os apoiadores de Lula vão dormir tranquilos porque o seu ídolo maior disparou comentários ferozes contra os juros altos e os preços caros dos alimentos. Mas isso não reflete em ações concretas, na prática da realidade, e nem mesmo em tentativas de ações que esbarram em algum impedimento. São apenas comentários que se limitam à zona de conforto do opinionismo lacrador.
Enquanto isso, a realidade mostra que, quando Lula não faz, ele opina. Amarrado ao esquema de alianças com a direita moderada, que favoreceu a vitória eleitoral e garante a governabilidade, Lula não pode ousar e, por isso, age como um pelego condicionado às limitações impostas pelas classes dominantes.
As elites permitem que Lula realize projetos sociais dentro dos limites autorizados pelo neoliberalismo "democrático". Daí que a atuação do presidente é limitada, mas ele cria artifícios para dar a falsa impressão de que seu governo continua "tão ou mais ousado" que nos dois mandatos anteriores.
Daí os simulacros. Rituais e cerimônias durante os anúncios de medidas do governo, visando forjar uma grandeza de ações. Promessas que visam criar expectativas. Relatórios que, através de palavras, números e imagens, falam de algo fantástico demais para ser visto na realidade, o que é levado a sério para a maioria dos "bem de vida" que não saem de casa e juram que os relatórios de "recordes históricos" do governo Lula são "mais do que relatórios, são REALTÓRIOS".
Nesses simulacros, se incluem sobretudo as opiniões. Quando Lula não tem condições de agir, ele opina, para fazer seus adeptos dormirem tranquilos com a encenação das palavras que fingem agir mas apenas são ditas.
Somente para quem está bem de vida, não sai de casa e vive seu cotidiano com a cara grudada nas redes sociais através do seu celular é que acha que relatórios refletem a realidade e opiniões são a mesma coisa que atos. Esse pessoal não vive os dramas do povo da vida real, que tem que encarar produtos com preços caros e outras tarifas que pesam demais no seu já apertado orçamento.
Para quem está fora da bolha lulista, o governo Lula é uma decepção. O povo real não tem tempo para ler relatórios nem produzir textões em defesa dessa verdadeira coreografia de números, palavras e imagens. O povo real não aparece no Instagram nem no Tik Tok e, por isso mesmo, reconhece a incompetência do atual mandato de Lula, que mais parece um capacho das classes dominantes, atuando como um verdadeiro presidente-pelego.
Daí que ficará difícil para Sidônio Palmeira tentar melhorar a "comunicação" do governo Lula, no esforço vão de submeter a realidade dos fatos às fantasias imaginárias da grandiloquência governamental e seus simulacros. É porque nada disso reflete no cotidiano vivo das pessoas, por mais que as pretensas façanhas do governo provoquem lacração nas redes sociais.
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