O governo Lula, em seu mandato atual, apelidado de Lula 3.0, tornou-se decepcionante por conta do contraste entre seu jogo de aparências e os fatos concretos. Por mais que os lulistas insistam em fazer crer que o que dizem e mostram corresponde à realidade vivida pelos brasileiros, isso não encontra respaldo no cotidiano do povo da vida real.
Daí a irritação dos pobres, dos sub-escolarizados e dos nordestinos com o governo Lula, que tardiamente teve que reconhecer essa dolorosa situação através de supostas pesquisas de opinião. Mesmo assim, Lula não aceita sua queda de popularidade e atribuiu esse quadro somente as notícias falsas envolvendo cobranças de impostos sobre o Pix.
Há uma necessidade de uma renovação da vida política, e o golpismo político de 2016, assim como o bolsonarismo, de um lado, e o narcisismo político de Lula, de outro, travam essa urgência de mudança, na medida em que as pautas progressistas se tornaram reféns da mística pessoal de Lula, cujo principal ponto contrário é justamente o de ser um político antigo e de idade avançada, que também goza de valores sociais que, por mais corretos que, em teoria, pareçam, são fundamentados no conservadorismo social, que muitas vezes envolve elementos como a religião e o patriarcado.
Lula não somente não representa o novo na política como é um fruto de um sistema de valores conservador. É irônico que o Brasil viva um sonho infantil que é conduzido por um idoso a fazer 80 anos este ano. E isso é ilustrativo diante do fato do nosso país querer se ostentar para o mundo criando um clima de festa, inadequado para um contexto de reconstrução, por comemorar antes de trabalhar.
Do contrário que uma propaganda recente alardeou, Lula deixou de ser o companheiro dos mais humildes. Obcecado pela grandiloquência, Lula, como naquele ditado que diz que a primeira impressão é a que fica, sinalizou abandonar o povo brasileiro ao priorizar, logo que assumiu o atual mandato, a política externa. Até o combate à fome, maior apelo de sua campanha eleitoral, com direito a Lula chorar no palanque feito um bebê, foi deixado em segundo plano.
Não se pode chamar os "bem de vida" de hoje, mesmo com o forte odor burguês que exalam, de "burguesia" ou "elite do atraso". Mesmo os tataranetos dos senhores de engenho precisam dar a impressão de que sua prosperidade atual foi possibilitada pelos projetos sociais dos dois primeiros mandatos de Lula.
Por isso, de repente, Lula, o político bonachão que libera o dinheiro dos incentivos culturais para a burguesia se divertir, bastando criar um "coletivo cultural" de fachada ou um "projeto cultural" supostamente relevante - podendo ser até um grupo de influenciadores digitais, por exemplo - , tornou-se a única aposta para a sucessão presidencial, sendo não somente o "dono" de uma democracia que já começa estranha, personificada por um único indivíduo, mas o único sucessor viável de si mesmo.
Há uma necessidade de uma cara nova na nossa política, que a "boa" sociedade não deixa se ascender. Ela precisa dar a falsa impressão de que "mudou", por isso não aceita o pensamento crítico, não admite que se fala que essa elite tem um passado opressor, tudo isso está sendo colocado no colo de Jair Bolsonaro, acusado até de ter provocado o terremoto que arrasou Lisboa em 1755, que forçou um corte de gastos que obrigou a retirada de jesuítas do Brasil, adiando o "sonho dourado" da "pátria do Evangelho", hoje defendida pelo Espiritismo brasileiro, o "Catolicismo medieval de botox".
Essa atual postura da "boa" sociedade, cujos avós bradaram pelo golpe civil-militar de 1964, cria um contraste no qual a extrema-direita passa a ser associada a uma hipotética simbologia da rebeldia e do senso crítico, enquanto a esquerda domesticada está associada a um clima de "concordância sempre", um "AI-SIMco" no qual reclamar é "pouco recomendável", pois o momento é da "democracia do Sim" e, talvez, da "democracia do Sim, Senhor".
Neste sentido, enquanto a extrema-direita busca novos rostos, diante do desgaste e do risco de Bolsonaro ser preso - e do desgaste que contamina o filho Eduardo Bolsonaro, o "número três", virtualmente herdeiro da função governamental do pai - , a "democracia" da "gente bonita", que domina as redes sociais e monopoliza as narrativas "positivas" de nosso país, aposta num político antigo, com 47 anos de carreira e uns 80 de idade que aparentam bem mais, para conduzir o futuro do país.
Essa "boa" sociedade que se acha "melhor do que todo mundo" viu em Lula um fiador de seus desejos, um financiador das ilusões dessa classe privilegiada. Por isso, temos que defender uma nova cara na política brasileira, mesmo que ela não pareça tão grandiosa, mas que coloque o nosso país nos trilhos de verdade, sem apelarmos para sonhos ou promessas fantásticas.
Lula quer que o Brasil permaneça flutuando nas nuvens. O povo brasileiro da vida real quer um Brasil com os pés no chão. Uma cara nova na política brasileira pode não representar algo fantástico ou fabuloso para nosso país, mas poderia muito bem devolver o país à realidade, pois sonhar demais traria o risco de fazer os brasileiros caírem na cama.
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