Matéria recente do jornal The Intercept, sobre o escândalo da Vaza Jato, complicam ainda mais a imagem arranhada do procurador Deltan Dallagnol e, por associação, do então juiz e hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A principal revelação está no envolvimento de Dallagnol com a organização Vem Pra Rua - patrocinada por diversos empresários - e o Instituto Mude - Chega de Corrupção.
O principal episódio relatado nas mensagens se refere à sucessão de Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal morto num misterioso acidente aéreo em Parati, em janeiro de 2017.
A vaga deixada não corresponde apenas ao cargo no STF, mas também à função de relator, no órgão, dos processos da Operação Lava Jato.
Como determina o regulamento do STF, somente membros da mesma turma de ministros podem substituir o membro que faleceu.
Teori era da segunda turma. Seu sucessor natural seria um deles: Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Celso de Mello.
Mas nenhum deles era bem visto pela força-tarefa da Operação Lava Jato.
Havia apenas a ressalva, nas conversas de Dallagnol com seus colegas procuradores no Telegram, de que Celso de Mello era o "menor pior (sic)".
Esse comentário foi dado por Dallagnol ao líder do Mude, Fábio Alex Oliveira.
O Instituto Mude solicitou a Dallagnol uma orientação sobre qual o nome ideal para suceder Zavascki, e a co-fundadora do instituto, Patrícia Fehrmann, informou ao procurador que há muita gente perguntando sobre o que fazer, inclusive o VPR (Vem Pra Rua).
Só uns parênteses. É curioso citar o Vem Pra Rua, organização de direita, pelas iniciais VPR, que em outros tempos era a sigla da organização de guerrilha estudantil contra a ditadura, a Vanguarda Popular Revolucionária.
Dallagnol, inicialmente, se recusou a dar palpites. "(Nós da Lava Jato) Não podemos nos posicionar. Queimamos a pessoa rsrsrs".
Mas no diálogo no grupo Filhos do Januário 1 o procurador, preocupado, pediu que os colegas divulgassem à imprensa, em off (sem se declararem como fonte), que temiam que "Toff", "Gilm" e "Lew" (abreviatura dos ministros do STF) pudessem assumir, ou seja, se candidatar à sucessão.
Os procuradores concordaram em evitar algum posicionamento, mas não se opuseram a dar orientação para grupos alinhados.
"Se houver um movimento social, sem vinculação conosco, contra o sorteio, aí pode ter algum resultado...", disse o procurador Paulo Roberto Galvão.
No começo de fevereiro de 2017, o ministro Luiz Edson Fachin pediu para migrar para a segunda turma. Ele não era o preferido pela Lava Jato, que desejava que Luís Roberto Barroso tivesse essa intenção.
A procuradora Ana Carolina Resende concordou com Dallagnol: "Fachin não eh ruim mas não eh bom como Barroso".
Um texto do jurista e também deputado federal Luís Flávio Gomes atacando Mendes, Toffoli e Lewandowski, acrescentando que "o diabo também pode vestir toga".
Deltan pediu a Patrícia para reproduzir a mensagem, desde que não o citasse como fonte de origem, "para evitar melindrar STF".
O Mude aceitou a recomendação e reproduziu o texto. Mais tarde, Fachin foi para a segunda turma e foi sorteado relator da Lava Jato.
Dallagnol comemorou o resultado em mensagem enviada a Fábio Alex Oliveira, do Mude: "Fachin foi coisa de Deus".
Em conversa com a colega Thaméa Danelon, em janeiro de 2018, Dallagnol manifestou sua intenção em pressionar para que o ministro do STF Alexandre de Moraes decidisse seu voto em favor da prisão em segunda instância.
Dallagnol e Thaméa trocaram ideias sobre como acionar os movimentos Vem Pra Rua e Nas Ruas para pressionarem, nas manifestações, em favor da prisão.
O fundador do Vem Pra Rua, o empresário Rogério Chequer, candidato derrotado pelo partido Novo ao governo de São Paulo, foi um dos entusiastas na campanha presidencial de Jair Bolsonaro.
Há outros fatos, trazidos pela reportagem, que acrescentam a uma série de revelações arrepiantes dos bastidores da Operação Lava Jato.
E o fato de Dallagnol orientar os movimentos "anti-corrupção" pode ter sido, por enquanto, confirmado em mensagens publicadas a partir de 2017.
Mas isso dá indício de que o teatro ativista do Movimento Brasil Livre (aka Movimento Me Livre do Brasil), o Vem Pra Rua e o Nas Ruas, entre outros, era apoiado pela Operação Lava Jato, provando que a "imparcialidade" a ela atribuída nunca passou de uma falácia e uma grande ilusão.
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