Revelações recentes do jornal The Intercept mostram o envolvimento do Grupo Sílvio Santos, que controla o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), em esquema de corrupção.
As revelações foram publicadas com a parceira Folha de São Paulo e seu personagem principal é um empresário preso pela Operação Lava Jato, Adir Assad.
Assad é um dos delatores da referida operação e sua delação foi mencionada em grupos do Telegram cujos membros são os procuradores da OLJ.
Segundo seu depoimento, Assad, que é dono da Rock Star Marketing (não tem relação com uma homônima estrangeira), teria feito lavagem de dinheiro participando de contratos superfaturados nos anos 1990 e 2000.
O nome de Sílvio Santos não é mencionado, mas executivos como Guilherme Stoliar, hoje presidente do GSS, são citados. Também é citado o sobrinho de Sílvio, Daniel Abravanel, como um dos contatos.
A lavagem de dinheiro envolveu a Liderança Capitalização, que opera a Tele Sena, e a cobertura do SBT das competições automobilísticas Fórmula Truck, Stock Car e Formula Indy.
Pilotos patrocinados como Hélio Castroneves e Tony Kanaan apenas viabilizavam contratos de publicidade e estavam completamente alheios às irregularidades das transações.
O irmão de Adir, Samir Assad, também virou delator e corroborou toda a história.
As acusações de Adir estão em delação final feita em 2017, foram homologadas pela Justiça, mas suas investigações ainda permanecem em sigilo.
O SBT não é o único que a Vaza Jato, série de reportagens do Intercept, informa estar envolvido com a corrupção político-jurídico-empresarial.
A Globo irá aparecer em novas revelações.
Curiosamente, tanto o SBT e a Globo formataram a bregalização cultural que se tornou monopolista no cenário cultural de hoje.
Elas se empenharam no apelo ao grande público na campanha do suposto "combate ao preconceito" do "popular demais".
O esquema envolveu, é verdade, toda a mídia hegemônica. A Folha de São Paulo, nos tempos ilustrados de Otávio Frias Filho, também participou, mas seu raio de influência foi tentar forçar a aceitação do brega-popularesco por um público mais refinado.
A bregalização também teve atuação decisiva da mídia regional. A RBS, no Sul do Brasil, e O Liberal, parceira da Rede Globo no Pará, além da mídia oligárquica da Bahia, de Minas Gerais, do interior de São Paulo e do Paraná são alguns exemplos.
Sob a desculpa de aceitar como "culturalmente legítimos" os fenômenos comerciais de entretenimento "popular demais", que abordavam de forma caricatural o povo pobre, a bregalização impediu a mobilização e a conscientização política das classes populares.
E aí vemos. A intelectualidade "bacana", com a posse da visibilidade plena, mandou o povo pobre brincar de "rebelião" com o entretenimento cafona, e forçava as esquerdas a aceitarem isso.
A imprensa escrita de esquerda pagou caro com isso. Caros Amigos, por exemplo, faliu.
Mas o Brasil é que pagou mais caro. O povo pobre, ocupado em rebolar o "funk", o "sertanejo" etc, e, em parte, com os setores médios em parte embarcando no "popular demais", as forças populares perderam o protagonismo.
Com isso, vieram os "coxinhas" ou "manifestoches", veio a Operação Lava Jato, veio o golpe político de 2016 e esse cenário desastroso que hoje temos.
E, no caso da música brasileira, se a MPB de qualidade ainda pudera ter protagonismo nos primeiros anos da ditadura militar, como uma espécie de "barricada" musical, hoje o brega-popularesco, agora em sua geração ultracomercial, é que detém o protagonismo.
A intelectualidade "bacana" conseguiu fabricar consenso com seu discurso "contra o preconceito", difundido aos quatro ventos pela mídia venal, mas também empurrado goela abaixo às esquerdas.
Só que isso tornou o Brasil muito mais preconceituoso do que o suposto preconceito a que se atribuiu a quem rejeitava a bregalização.
E aí temos o exemplo do SBT.
O SBT bregalizou o Brasil, acolheu a Operação Lava Jato e foi apoiar, com gosto, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Deu no que deu.
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