O clima de "já ganhou" desnorteia as esquerdas brasileiras.
Com o cenário político confuso causado por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, com a devastação que o Brasil sofreu nos últimos cinco anos, as esquerdas não conseguem se decidir se o país está bem ou mal.
Caem em contradição, quando alegam que o Brasil "está à deriva", mas nada fazem para derrubar Bolsonaro.
Cruzam os braços, achando que os mesmos golpistas de 2016 podem devolver os espaços políticos que tiraram das esquerdas.
Nada está ganho. A campanha presidencial não começou. Mesmo assim, as esquerdas acham que obtiveram vitória por W. O., ou seja, praticamente sem rival.
Confundem expectativa com perspectiva, especulação com realização, possibilidade com certeza.
E aí Lula fez uma viagem para os EUA, com o objetivo de fazer acordos internacionais.
Nada mal em si. Mas o problema é que vivemos no contexto em que o Deep State anda atuando de maneira não muito generosa com os governos progressistas na América Latina.
Perdendo poder mundial para a China, os EUA querem engrossar o seu controle nos países latino-americanos.
É saudável Lula ir para diversos países, mesmo capitalistas, e tendo ao seu lado o eficiente e competente diplomata Celso Amorim, para dialogar com os demais governantes.
Só que, num contexto delicado e frágil em que vivemos, nem todos são aliados e o governo Joe Biden não parece muito generoso com aquele que Barack Obama chamou de "o cara" ("the man").
Infelizmente, nada está ganho.
O que me incomoda em Lula não é seu projeto político, que, sem dúvida, é o melhor para o país, mas o fato de que, hoje, não há condições objetivas para sua implantação em quatro anos.
Não vivemos num conto de fadas e Lula não é o mágico que com uma varinha irá fazer desaparecer o cenário distópico que atinge o Brasil.
O que me faz não votar em Lula é que as alianças que ele faz, a "frente ampla demais" que inclui gente que ficou feliz com a prisão do petista, irão castrar seu programa de governo.
Tenho certeza disso. Nenhum golpista que permitiu a "construção" da "ponte para o futuro" de Michel Temer irá ver seu legado destruído por Lula.
Eles é que negociam com Lula a amenização de seu programa de governo. É o que eu receio em relação ao petista, porque eu vejo que as situações não estão favoráveis a ele.
Será, repito, constrangedor ver Lula tendo que fazer um pastiche de "governo de terceira via", obrigado a fazer o projeto de governo de Luciano Huck e não o seu próprio.
Será constrangedor ver repetir a triste experiência do presidente progressista que começa conservador e, quando começa a fazer brechas sociais em benefício ao povo pobre, é destituído por um golpe.
Por isso vejo com muita apreensão o otimismo exagerado e cego das esquerdas, que acham que ganharam tudo, mesmo meses antes da corrida presidencial começar.
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