Os episódios de um processo contra o humorista do The Noite (SBT), Léo Lins, por gordofobia contra a influenciadora Thaís Carla, que será indenizada no valor de R$ 5 mil reais devido a um vídeo ofensivo do rapaz, e o lançamento do "funk" "PayPau", de Valesca Popozuda, nos põem a pensar.
Eles ocorreram dias atrás, mas como estava ocupado com textos criticando os erros de Lula e das esquerdas tóxicas que o apoiam, só resolvi escrever os textos dias atrás, como postagem pré-datada.
Thaís Carla é conhecida por aquilo que eu chamo de "sensualidade de guerra", espécie de erotização feita por fins identitaristas, mais para provocar e incomodar do que para causar prazer.
É muito cruel o que Léo Lins fez com ela, e realmente a gordofobia é um crime vergonhoso e constrangedor, que atinge moralmente uma pessoa só por um corpo fora de supostos padrões estéticos.
Mas o problema é que, por outro lado, Thaís não percebeu que o sexo, a sensualidade, não é medida para fortalecer a autoestima da pessoa.
Talvez essa "sensualidade de guerra" tenha forçado a barra demais. Não concordo com a ideia de que a vítima é a culpada, mas certos atos acabam, sem querer, abrindo espaço para a réplica dos reacionários.
Vide toda aquela defesa das esquerdas à bregalização cultural, que, conforme escrevi em Esses Intelectuais Pertinentes..., abriu caminho para o bolsonarismo, com toda aquela retórica provocativa do "combate ao preconceito".
O mito do "corpo livre" e a transformação do Instagram no quarto de casa, na ilusão de que a pessoa só posta fotos nas redes sociais para ser vista por ela mesma, é um grande equívoco.
Afinal, combater a gordofobia não pode se dar ao preço de fazer as pessoas gordas sucumbir à objetificação do corpo feminino, numa erotização obsessiva e compulsiva.
Durante anos, reinou uma forma equivocada de "liberdade do corpo", na qual se expressou um pseudo-feminismo que tem em Valesca Popozuda seu maior expoente.
Valesca sempre se valeu de conceitos machistas, ela mesma era o estereótipo machista da mulher supostamente empoderada, e a sua obsessão em transformar suas músicas (terríveis) em panfletos sexuais causa ainda mais constrangimento e horror.
A música "PayPau", que lançou com a colega de gênero MC Rebecca, já é horrível pelo título, um trocadilho com um serviço de pagamento pela Internet. E consagra a atual fase da suposta feminista, voltada agora ao "proibidão".
Isso causa ainda mais horror porque o sexo não expressa liberdade, mas escravidão.
Falar só sobre sexo e submeter sua imagem a uma sensualidade obsessiva, grosseira e tóxica, só faz uma parcela de mulheres não serem as "livres" e "libertárias" que pensam ser, mas escravas de um imaginário machista estrutural da qual elas dizem renegar e no entanto se submetem servilmente.
Transformar um repertório musical em um panfleto sexual e ficar erotizando fora de contexto, supostamente para "provocar os homens" com a suposta liberdade corporal, só transformam a sensualidade em algo ridículo.
Eu até percebo o quanto esses exageros e equívocos mais fortalecem o imaginário dos reacionários, e eu não estou aqui minimizando a culpabilidade deles.
Estou dizendo, apenas, que erotizar demais, como mera provocação, e transformar o sexo numa "bandeira" de suposta liberdade e autoestima pessoal só fazem destruir aquilo que o sexo tem de mais bonito: o mistério, a privacidade, a discrição, a sutileza.
Sair ostentando sexo e erotismo a torto e a direito não fortalece autoestima, não combate preconceitos, e a provocação como um fim em si mesmo se esvazia na medida em que oferece mais querosene para o incêndio reacionário lançado pelos bolsomínions e similares.
O Instagram não é o quarto de casa, e quando se publica uma foto, os outros veem. É qualquer um, até mesmo aqueles perversos estelionatários digitais que pegam essas fotos para ilustrar portais de prostituição estrangeiros.
Se o sexo e a erotização fossem medidas para a autoestima humana, eu teria que fazer o papel ridículo de aparecer em fotos de sunguinha ou rebolando de maneira patética, algo que não condiz à minha personalidade e do qual não dependo para me valorizar como homem e pessoa humana na sociedade.
Se Thaís Carla quer ser sensual, que seja na privacidade ao lado do seu marido e na imaginação particular dos dois, no ambiente secreto de seu lar e de suas opiniões pessoais.
A erotização de pessoas gordas pode ser um tiro pela culatra, que em vez de fortalecer a autoestima, acaba inserindo pessoas assim no contexto de objetificação sexual.
Quanto à Valesca, essa obsessão por temáticas sexuais fez a máscara cair quanto ao seu pretenso feminismo, uma vez que ela também desempenha seu papel de mulher-objeto, não com a boa-fé de Thaís Carla, mas com a má-fé de quem joga um falso feminismo com modus operandi machista.
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